As Olimpíadas e o PIB
Nacib Hetti
A correlação entre o PIB dos principais países competidores e as medalhas conquistadas nas Olimpíadas do Rio é quase perfeita, mostrando que a riqueza produzida por um país é essencial para o seu sucesso no esporte. Entre os 15 primeiros países de maior PIB, 14 são os maiores medalhistas. Claro que não é só o dinheiro que importa; o país precisa também de uma política de Estado, voltada para a formação de atletas nas modalidades demandadas. Os Estados Unidos, por exemplo, com o maior PIB mundial têm, também, uma política de estímulo esportivo desde a educação básica, com ênfase para os esportes olímpicos, fazendo com que as universidades se tornem as maiores fornecedoras de atletas para as competições internacionais. Não é o tamanho da população que resolve; dinheiro e política setorial são fatores fundamentais.
As exceções são raras e foram evidenciadas nas Olimpíadas do Rio. A Índia, por exemplo, sétima no ranking do PIB, conquistou apenas duas medalhas. Mas se a comparação levasse em conta a sua produção de audiovisual certamente seria campeã do mundo, face ao seu PIB. Outros países, que levam a sério a educação física, foram bem; a Austrália, décima terceira no PIB, tirou o oitavo lugar na competição, com 29 medalhas. Já o Brasil, nono no PIB, ficou em 12º no ranking esportivo, com dezenove medalhas. Poderia ter sido um pouco melhor, mas não fez feio, se comparado com a “importância” que o Estado dá aos esportes olímpicos. Até Tóquio teremos quatro anos para voltar nossos olhos para as modalidades olímpicas com menor visibilidade para o jovem praticante.
Interessante observar que não são o IDH e o PIB/per capita, os fatores preponderantes na obtenção de medalhas, onde o Brasil se encontra em 75º e 72º respectivamente. O que interessa mesmo é o número absoluto de riqueza gerado pela economia, que coloca o Brasil em nono lugar. Faz sentido, já que o maior investimento nos esportes tem origem nos patrocínios da atividade econômica. Bancos, federações, empresas estatais, empresas privadas, multinacionais, entre outras geradoras de caixa, veem no esporte um veículo de promoção comercial, usando recurso próprio ou originado na renúncia fiscal. Assim, quanto maior for o PIB de um país, maior a geração de recursos canalizados para a prática esportiva. Outro efeito derivado, inevitavelmente, será o avanço no IDH, onde o Brasil se encontra muito mal.
Excepcionalmente e pontualmente alguns países, com PIB pequeno e com democracias ainda menores, fizeram do esporte um fator de propaganda ideológica, investindo em atletas de ponta. Cuba e os países da antiga cortina de ferro foram exemplos marcantes até a década passada. As Olimpíadas no Brasil, mesmo com as nossas mazelas, deixam uma esperança para os jovens: de que os jogos tenham dado um recado importante, fazendo surgir um efeito motivador, não só para o Estado, primeiro responsável, como para os entes econômicos, formados por geradores de riqueza e que devem deixar um legado para aqueles que fazem a sua razão de existir.