Futebol: demonização e secularização até a ética protestante de pensador alemão Max Weber

 

 

 

Com o início da Copa do Brasil e do campeonato brasileiro, percebemos a pouca importância tática em nossos jogos, e mesmo a falta de continuidade de trabalho, revelando um caos em jogos e tendo dois grandes times abaixo na tabela, como o Flamengo e o Palmeiras. Por outro lado, percebemos times quites com dívidas, como os catarinenses, e alguma esperança inicial do Joinville na série B, porém com alguma queda de posição. Já o Vasco em alguns jogos não supera times da série B, tendo alguns jogos parelhos, e mostrando o equilíbrio do futebol nacional, diversamente de outras épocas. Também percebemos retorno de campeonatos europeus, como o russo e o holandês, que nos mostram uma grande qualidade tática, mas pouco talento de alguns atletas, em oposição ao nosso. Assim conferimos a demonização dos técnicos (o nosso disse que iria até inferno com a Seleção...) e a secularização da lógica alemã, quando da Copa atribuiu tudo ao trabalho, e nada a Deus. Esse paradigma veremos aqui.

Vemos esse erro nacional: culpar os técnicos. Com um futebol que já perdeu muito em qualidade, acaba-se por querer achar o defeito no treinador, no capitão, mas se esquece que não há colaboração individual. A base está fraca. Vemos times jogando sem esquema, com ligações diretas e dependendo de talentos individuais, o que tem pouca força ofensiva. Também vemos a axiologia envolta a deixar no milagre, a atribuir a Deus sem ter um esforço equivalente. Já lembrando a ética protestante, ou mesmo iluminista, vemos que o trabalho faz se merecer a bênção. Nisso entrou a Alemanha, quando da Copa, podendo agradecer a Deus mas também usando de sua “conversão” a um futebol mais qualitativo. A secularização também cumpriu um papel, pois se fez uma renovação ética. Por aqui vemos os times com altíssimas dívidas e uma série de desvios por partes de dirigentes de clubes e toda a sorte de demonização.

Isso ainda implica o capitalismo. Não é ruim buscar o dinheiro. Desde que se faça merecer e trabalhe para tal. Aí entra o merecimento e o que Max Weber de um trabalho fiel, espécie de trabalho pelo trabalho. Vemos isso também na mentalidade norteamericana. Por aqui o sujeito trabalha e se não precisar, fica na festa ou avacalha. Isso pode ser levado para o futebol. Não que não deva ter sua liberdade e opções de valores. O atleta tem de ter suas escolhas. Mas dentro do campo e do time não seria louvável ele usar do jogo apenas de troca por dinheiro. O segredo é a VOCAÇÃO. Vemos em alguns jogadores a total falta disso, e mais para outra, como de artista ou comentarista de televisão. Apesar que comentaristas de hoje foram grandes craques no passado. Contudo, vemos uma secularização, uma falta de fé no futebol, com a devida morte de Deus, estilo Nietzsche, e a troca disso apenas pelo dinheiro, e por um glamour que deve ser lidada com racionalidade, com uma autonomia da vontade, lembrando Kant.

Não há mal em ser rico, desde que a riqueza seja destinada e atribuída a Deus. Mas junto a isso tem de se ver o merecimento, vocação e mesmo o trabalho para tal. A secularização se deu muito quando religiões protestantes ou puritanos vieram da Inglaterra até os EUA, fundando um Estado em muito separado da Igreja. O futebol é de origem inglesa. E hoje temos o campeonato inglês como senão o melhor, um dos melhores do mundo. Por aqui por outro lado vemos uma pobreza do futebol, e campeonatos que dão sono. Esses dias falei com barbeiro, que é jogador amador, e ele disse que desistiu de ver determinado jogo de nossa “Série A”. Acredito que apenas ficou o nome de série A. Vemos por outro lado a demonização dos técnicos, que deveriam ser mais aproveitados e treinados, e não meramente trocados. Ensinar que não adianta ter jogadores com passe ruim, ou apenas volantes e ligações diretas, seria um grande começo. E que o jogador leve a sério treinos, jogos e tudo mais, numa secularização em que separe o seu estrelismo daquele momento de jogo, onde é igual a todos do time. Devemos valorar mais os goleiros, zagueiros e armadores, e não apenas endeusar atacantes. O time é um holismo, onde todos são necessários. Assim a lição do pensador alemão Max Weber nos prova que o problema não é o dinheiro, mas o modo como se chega a tal e como se leva em conta a vocação, que dá merecimento a essa bênção.