ARTIGO – “Eu fui até ontem” – 18.07.2014
ARTIGO – "Eu fui até ontem" – 18.07.2014
É impressionante como o nosso governo se desinteressa pelo esporte de maior torcida no Brasil, o futebol, que ostenta o título de pentacampeão mundial, e que vem perseguindo o “hexa” desde 2006, mas sem sucesso.
Dizer-se que é uma atividade privada, prevista na Constituição, para isentar o governo de responsabilidades ante os fracassos que vimos experimentando ultimamente nada mais é do que ignorar alguns procedimentos que vinculam nossa CBF – Confederação Brasileira de Futebol – aos Ministérios da Educação e dos Esportes. De um lado, a entidade congrega 27 Federações Estaduais, nas quais estão inscritos milhares de clubes e dezenas de milhares de jogadores; de outro, explora o pavilhão nacional e é responsável pela condução dos trabalhos atinentes ao nosso selecionado, cujas exibições, diga-se de passagem, e ao que se sabe, foram negociadas a um empresário estrangeiro, que dita o que quer e até escolhe os jogos amistosos de nosso escrete, negociação que teria sido feita pelo ex-presidente Ricardo Teixeira, genro do antigo presidente da FIFA, doutor João Havelange. O interessante é que não se conhecem os termos dessa negociata, que deveria ser denunciada como prejudicial ao futebol brasileiro, rompendo-se o pertinente contrato; além do mais, as equipes vinculadas a essas Federações e Confederação participam de sorteios oficiais patrocinados pela Caixa Econômica Federal, recebendo dinheiro dos cofres públicos.
Também não vemos por parte do Congresso Nacional qualquer atitude tendente a aclarar certas situações, salvo a palavra isolada do Deputado Federal Romário, campeão mundial de 1994, e ex-artilheiro de nosso selecionado. Todavia, como se imagina, “uma andorinha só não faz verão”, antigo ditado popular.
Feito esse preâmbulo, que até ficou longo, desejo manifestar a minha mais profunda estranheza ante o fato de a CBF, uma semana após a derrocada do Brasil para a Alemanha, por 7 x 1, haver anunciado ao mundo a figura do ex-atleta Gilmar Rinaldi, empresário de futebol legalizado na FIFA, como o novo coordenador das seleções nacionais de futebol, inclusive da feminina, noticiário que ganhou grande repercussão negativa ante a mídia e aos desportistas em geral. Nada se registrou, até agora, nenhum procedimento que pudesse abalar a condição de pessoa honesta desse cidadão, mas a verdade é que a sua profissão de empresário de atletas por 14 anos recomenda mal a escolha do senhor Marin, cuja vida pregressa vem sendo objeto de críticas, inclusive no período revolucionário.
Na entrevista coletiva de ontem, quando da apresentação desse que foi um bom goleiro, quer no Flamengo, quer no São Paulo, o que serviu de piada foi a declaração dele de que “foi empresário até ontem”, mas que abandonou a profissão, a fim de assumir o comando geral de todas as nossas seleções futebolísticas. Mas será que uma pessoa se desvincula de uma atividade de nível mundial de um dia para outro sem deixar qualquer resquício ou até negociações em andamento?! De minha parte, não posso acreditar, porquanto é plenamente impossível, mesmo que o atual salário, que não foi informado, seja superior ao faturamento do profissional da anterior (?) jornada.
Uma vez descartada a possibilidade de contratação de um treinador estrangeiro, segundo ele, pois temos muita gente capacitada no país (quase todos os técnicos do primeiro escalão estão sem emprego), e não seria por um insucesso na copa do mundo que esse pessoal seria esquecido. Até o treinador Gallo, que dirige a seleção sub-20 deve ter ficado decepcionado, porquanto julgava que seria apresentado na mesma hora como sucessor do ranzinza Felipão. Eu até acho que ele é verde para o cargo, mas também não considero nenhum dos que estão fora do mercado com capacidade e autoridade para suportar as pressões que brotam de todos os lados, quer dos brasileiros, quer dos patrocinadores de produtos e de atletas, pois existe muito dinheiro em jogo.
Continuo com a minha opinião favorável a que sejam feitas intervenções em todas as Federações Estaduais e na CBF, a fim de que possamos dar um basta no estado de coisas que está predominando as diretrizes do futebol nacional. Fora disso, creiam os leitores, novos revezes virão com toda a certeza.
Ansilgus.
Fonte da foto: GOOGLE