Comentário sobre participação em Copas e reflexão sobre a manipulação de mentes

Você lembra de Dunga, um ex-jogador antipático? Você o detesta? Anos atrás, sem qualificações anteriores como, assumiu a seleção; surpreendentemente, talvez, seu time venceu sucessivamente a Copa América, as Eliminatórias da Copa do Mundo e a Copa das Confederações. O time fazia uma boa Copa do Mundo quando perdeu da Holanda, tendo dominado o jogo, e com falha inesperada do maior goleiro do tempo.

Bastou essa derrota para a completa execração de Dunga, um técnico que tinha vencido quase tudo anteriormente. Houve também uma querela entre ele e pessoas da Globo, que trataram de queimá-lo assim que o time perdeu da Holanda. A grande crítica que se fazia a ele, era não ter convocado dois molecotes promissores, Neymar e Ganso.

Fez-se, então, enorme campanha para renovação completa do time, não sobrou pedra sobre pedra; tudo foi mudado, novos jogadores convocados. O resultado foi um fiasco. Sob o comando de Mano Menezes, um bom técnico, aliás, a seleção brasileira fêz sua pior campanha de todos os tempos. Não conferi essa afirmação, mas tenho certeza que nenhum outro técnico tinha durado, anteriormente, no cargo, após campanha tão lamentável; teria sido impossível em outros tempos. Lembro também que Mano sempre convocava jogadores que tivessem sido muito elogiados por comentarista e narrador da Globo, me fazia suspeitar que eles influenciavam fortemente a escalação do time. Acatando as sugestões dos homens da Globo, Mano permanecia no cargo, derrota após derrota. Conseguiu umas magras vitórias contra timecos completamente inexpressivos arranjados para tais.

Depois de tão lastimável participação, Mano foi substituído por Felipão. Seu time teve muita sorte ao conseguir vencer a Copa das Confederações com gols providenciais no início de cada partida. Insisto em que tal fato ocorreu por sorte, não por mérito. Conseguiram, então, vencer o campeonato. Fingiram então que tudo estava resolvido.

O time era obviamente ruim, obviamente despreparado, mas não havia mais tempo. Não arriscaram jogar com times de primeira, temendo o desgaste psicológico de derrotas contundentes, preferiram arriscar o desastre sob o foco de todos os olhares: foi o 7 a 1 da Alemanha, rebatido pelo 3 a 0 da Holanda. Nunca se vira tamanho fiasco em semi-finais de uma copa do mundo; inimaginável que catástrofe tão avassaladora tivesse vindo ocorrer. Estarrecedor.

Curiosamente, no entanto, a derrota anterior, frente também à Holanda, embora digna, parece ter causado muito maior furor nos meios de comunicação, e ecoado mais indignadamente nas vozes dos brasileiros. Comparem a campanha vencedora de Dunga com todo o desastre ocorrido posteriormente a ele e surpreendam-se com o contraste em sua aceitação pelo povo. Detestável aquele técnico odiado pela Globo, mesmo que tenha vencido tudo? (e não é que venceu mesmo?).

Nenhum assunto é tão debatido quanto o futebol, no Brasil; não há nada que o povo conheça tanto quanto esse esporte; mesmo assim, nossas mentes podem ser absurdamente manipuladas fazendo-nos crer e defender as mais disparatadas conclusões. Se somos tão dramaticamente manipulados naquilo por que nos interessamos e conhecemos, assusta imaginar o que acontece em outros assuntos, como a política, as questões jurídicas e as de ordem econômica. Somos seres estranhos e acreditamos muito mais na repetição das informações que na razão. Vivemos em um mundo pautado pela repetição consecutiva de sucessivas mentiras. Nosso mundo é uma grande ilusão, isso é assustador.