ARTIGO – O discurso está mudando - 03.07.2014
 
 
ARTIGO – O discurso está mudando – 03.07.2014
 
 
Tive o desprazer de ver a entrevista coletiva à imprensa proporcionada pelo treinador Felipão e pelo capitão da nossa equipe, o Thiago Silva, este que foi uma verdadeira negação no exercício desse papel quando da partida anterior do Brasil contra a tão decantada seleção do Chile, essa que seria a mais difícil de todas para ser batida, conforme declarações do próprio técnico brasileiro. Chorou em demasia, afastou-se dos companheiros na hora das penalidades máximas, sentou-se numa bola oficial e não quis ver as pertinentes cobranças. Aqui pra nós, sendo numa guerra seria o mesmo que trair os seus colegas soldados de batalha, com medo, nervoso e completamente fora de condições psicológicas; sinto que estava abalado demais, talvez até mesmo por conta do que teria ouvido no ambiente da seleção, nos vestiários, na concentração, seja lá onde tenha sido.
            Também uma grande decepção ao presenciar o Felipão, ao ser indagado sobre as declarações dele e do assistente Parreira antes do início da Copa, responder que continuam válidas as afirmações, quais sejam a de que o Brasil já está com uma mão na taça, pois nada mudou, a equipe está pronta e preparada para o embate contra a Colômbia, essa que de um momento para outro passou a ser mais perigosa do que o Chile, porquanto tem mais conjunto, enquanto que o escrete chileno é apenas mais forte, mais duro, digamos assim.
            É claro que o futebol cresceu no mundo inteiro. O Brasil muito contribuiu para que isso pudesse acontecer, eis que exportou e continua exportando atletas para outras nações. Todavia, os jogadores da América do Sul são sempre diferenciados, eis que muito próximos daqui e as escolas praticamente se confundem. Aliás, temos efetuado negociações, especialmente de troca de futebolistas com algumas nações vizinhas, como a Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, essas em maior escala. Acabou-se o tempo em que nós éramos somente exportadores, notadamente e em especial para a Europa, onde o dinheiro abundava há pouco tempo, ou seja, antes da crise econômico-financeira que atingiu vários países ricos. Quase sempre estamos repatriando nossos jogadores exportados, mas em sua maioria depois de chegarem à exaustão, ou até com lesões de difícil recuperação.
            Todavia, o que mais me decepcionou nessa coletiva foi notar que os nossos jornalistas, em sua maioria, obram fino na presença tanto do treinador como dos atletas titulares. Fora do local ou mesmo em seus programas esportivos de rádio, televisão e na internet eles criticam à vontade tanto o posicionamento da seleção como o desempenho de alguns jogadores, entrando também na parte tática, na física e na emocional. Enfim, na realidade nua e crua estamos é mesmo com medo da pequenina Colômbia, que tem apenas 47 milhões de habitantes (1/5) do Brasil, e continuamos com aquele discurso de botar “o enterro da viúva pra frente” com essa história de que o seu time é mais difícil.
            Agora a palavra de ordem é: “Não temos obrigação de ganhar a copa”; “se perdermos um jogo o mundo não vai se acabar”; “qualquer pessoa ou mesmo jogador tem o direito de chorar, de se emocionar”, e outras besteiras da espécie. É verdade que em tendo motivo suficiente, como uma derrota ou mesmo uma vitória espetacular, o choro é justificado, mas no caso do nosso país isso não existe, porquanto se “já estamos com uma mão na taça” por que fazê-lo, pra que esse rio de lágrimas? Minha gente, nós temos condições de golear a Colômbia sem essa frescura de tentar tornar difícil o que quase sempre foi fácil.
            Querem impor aos jogadores um otimismo que eles não têm neste momento. Até mesmo o sorriso é sem graça, irritam-se com qualquer pergunta mais séria, pensam que os daqui de fora nada entendem de futebol. O Neymar, que sempre foi alegre, está respondendo com um sorriso aguado e até já aprendeu a colocar sal nas suas respostas. Indagado a propósito da alegria dos jogadores numa entrevista de ontem, esse rapaz chegou a dizer que ela existe e que o radialista não sabe por que não está dentro do gramado para vê-la. Ora, qualquer pessoa tem condição de ser ator e mostrar que está feliz, embora por dentro ninguém saiba seu verdadeiro sintoma, porquanto é um terreno obscuro, abstrato, digamos assim.
            Torço contra, mas ganharemos por três ou quatro a um.
Ansilgus.
A foto é do artilheiro colombiano James, de meu arquivo particular.
ansilgus
Enviado por ansilgus em 03/07/2014
Reeditado em 03/07/2014
Código do texto: T4868623
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