O PROFESP E A COPA DO MUNDO FIFA 2014 - UMA OPINIÃO
O PROFESP E A COPA DO MUNDO FIFA 2014 – UMA OPINIÃO
O Programa Forças no Esporte – PROFESP é fruto de uma parceria entre o Ministério da Defesa - MD, o Ministério do Esporte e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS. Desde 2003, quando o Governo Federal lançou o Programa Segundo Tempo – PST, o PROFESP é a sua vertente militar que assiste, no contraturno escolar, jovens e adolescentes, de ambos os gêneros, entre sete e dezessete anos, da rede pública de ensino, prioritariamente em situação de vulnerabilidade social, promovendo sua inclusão social, por intermédio prática desportiva, bem como da alimentação complementar, do reforço escolar e de muitas outras atividades.
Focado na prática desportiva, o PROFESP estimula as motivações interiores desses jovens, muitas vezes confundidas pelos apelos das atividades ilícitas e das ilusões da vitória sem esforço, para a tomada de decisão pessoal e intransferível: ─ você, jovem, é o condutor de sua vida!
Sem embargo, o condicionamento do corpo e a submissão a regras desportivas conduzem ao arquétipo “mens sana in corpore sano” conhecido pedido aos deuses nos versos do poeta romano Juvenal (circa 55- 127 DC).
A liderança espiritual do papa Pio XII (1876-1958) proclamava1, que o corpo, unido à alma imortal, contribui com as homenagens ao Criador. O sumo pontífice entendia que São Paulo, o apóstolo dos gentios, em sua carta aos Coríntios (1Cor 10,31) citava implicitamente a atividade física, o cuidado do corpo e o desporto: “quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”.
Esporte, juntamente com a arte e o trabalho, realizado com esforço e dedicação constitui uma vida de louvor ao Criador, como bem representa um belo gol, uma bela defesa, uma competição atlética bem disputada.
Se no passado, São João Bosco, fundador dos Salesianos, atraia os jovens para a prática desportiva nos Oratórios Festivos, hoje as Organizações Militares – OM integram estudantes, família, escola e sociedade num clima lúdico de companheirismo, respeito, compromisso e camaradagem. Numa sociedade hodierna marcada pelo individualismo, pelo consumismo, pela busca da celebridade, da ostentação e da futilidade, o PROFESP proporciona uma “pertença”, onde o jovem não mais se sente solitário, mas acolhido e solidário.
Nesse espaço, o jovem pratica e conhece jogos olímpicos, dentre os quais o futebol, vivendo uma aura de integração e construção da paz neste tempo de Copa do Mundo FIFA 2014. O caráter do evento é a integração entre os povos, explicitamente inculcada na formação moral e intelectual dos jovens assistidos.
Outro grande líder de nossos dias, o papa São Jõao Paulo II (1920-2005) considerava que “o sentido de fraternidade, a magnanimidade, a honestidade e o respeito pelo corpo, virtudes sem dúvida indispensáveis a todo o bom atleta, contribuem para a edificação de uma sociedade civil, onde o antagonismo é substituído pela competição, onde ao confronto se prefere o encontro e à contraposição rancorosa, o confronto leal”2.
Como tudo na vida, o esporte pode, lamentavelmente, ser empregado em prejuízo dos valores éticos. Exaltação exacerbada do corpo, exclusão de pessoas normais, ou seja, nós, os pernas-de-pau ou, ainda, objetivos primordialmente lucrativos são exemplos que corrompem o jovem carente atraindo-o para uma ilusória e vertiginosa ascensão social baseada, tão somente, na fama e nas habilidades psicomotoras adquiridas pelo treinamento esportivo.
O futebol não escapa às ameaças de politização e redução a simples negócio de entretenimento, ou seja, o futebol empresarial. Como externalidade positiva, em atendimento às exigências estruturais da FIFA, os doze estádios e suas cidades receberam altos investimentos passíveis de se converterem em legados para a sociedade. Tais inversões, pelo seu gigantismo e em contraste com a realidade das necessidades estruturais da sociedade, geram controvérsias e protestos tanto lícitos, como criminosos.
A primeira diatribe atribui ao futebol brasileiro um caráter alienante aos moldes do “pão e circo”, política dos antigos imperadores romanos ou, também, ao ópio consumido pela sociedade chinesa colonizada pelo poder ocidental no século XIX. Isso porque as mudanças sociais almejadas vão muito além do rompimento da linha da miséria, mediante eficientes programas de renda mínima. Esta sociedade exige melhorias no transporte, na saúde e na educação, cujo esforço orçamentário compete com os preparativos do grande evento futebolístico. Este último aspecto, uma educação integral, é o escopo do PST/PROFESP.
Bebedeiras nos estádios, comércio ilegal e falsificações de ingressos, guerras entre torcidas, agressões gratuitas, danos ao patrimônio de inocentes são exemplos de violência criminosa em detrimento do uso do canal político de luta por mudanças necessárias. Por outro lado, a sociedade brasileira se une monoliticamente quando se trata de repúdio ao racismo; neste caso o futebol não é alienante.
A lei e a sociedade exigem do PST/PROFESP a avaliação dos resultados previstos no Planejamento Pedagógico de Núcleo – PPN quando da elaboração do Relatório Final e das visitas de inspeção. Da mesma forma, estas mesmas lei e sociedade devem exigir o permanente uso social do legado físico a ser brevemente entregue, quando do encerramento da Copa do Mundo FIFA 2014.
Lidercio JANUZZI (MESCE) – 20/05/2014
REFERÊNCIAS:
- Kowalski, Marizabel. El deporte y el fútbol en la formación social del brasileño Universitas Humanística [On-line] 2011, (Enero-Junio): [Data de consulta: 20 / mayo / 2014] Disponível em:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=79122324010> ISSN 0120-4807.
- Neto, Francisco Borba Ribeiro. Copa no Brasil Beleza e Contradições O Mensageiro de Santo Antônio , Revista (maio 2014 p. 23)