A EFICIENCIA ALEMÃ
Há muitos mitos sobre os alemães, também muitas "lendas negras" que redundam em preconceitos sobre esse povo que para o bem ou para mal se impôs ao mundo mesmo diante de catástrofes iminentes e tragédias dantescas. A Alemanha é uma fênix, sempre renasce das cinzas. É difícil traduzir a alma, o espírito ou "geist" de um povo, que o digam os sociólogos. O espírito do povo alemão pode ser traduzido como enérgico, ordeiro, trabalhador, eficiente e culto. Mas há também os mitos negativos, que os veem como um povo belicoso, sádico, frio e diabólico. A Alemanha é comumente denominada de Das Land der Dichter und Denker (A terra dos poetas e pensadores). Desde o Renascimento têm dado contribuições decisivas ao mundo, como por exemplo, a invenção da imprensa por Gutenberg que provocou uma revolução. A Reforma Protestante iniciada pelo monge Martinho Lutero, causou uma cisão profunda no Ocidente cristão. No Século das Luzes com Kant, a Alemanha ultrapassa a França em termos de dianteira intelectual e como dizia um historiador da época, se a Revolução Francesa(1789) provocou um furacão político na Europa, o pensamento de Kant provoca o mesmo na república do pensamento. Nunca é demais lembrar que no século XX as transformações sociais radicais ocorridas na Rússia, China, Cuba , foram influenciadas diretamente pela ideologia alemã. De outro lado, o mundo se beneficiou da ciência e da tecnologia desse país , como a Teoria da Relatividade de Einstein, a Teoria dos Quanta, de Max Plank, só para citar algumas. Em sua história recente como nação unificada, sobretudo durante o reinado de Frederico Guilherme, rei da Prússia e do seu hábil primeiro ministro Otto Von Bismark a Prússia consegue unificar os estados germânicos, depois de vencer a Guerra Franco Prussiana (1870-71). Não havia mais como deter aqueles país que se firmava como potência. Mas como potência emergente a Alemanha teve que enfrentar inúmeros percalços e armadilhas à sua pretensão de partilhar espaços e mercados com as potências tradicionais: França e Inglaterra, e de outro lado o poder da Rússia dos czares, que num certo sentido foi "germanizada" intelectualmente. Bom, nestes tempos ainda não havia futebol e o jogo era a tal da "realpolitik", as disputas reais por espaços pelas potências européias. Enfim, a Alemanha queria seu "espaço vital" no mundo, seu lugar como potência, afinal a pátria de Beethoven Wagner, Bach, Hölderlin, Einstein, Marx, Hegel, dentre tantos, não poderia estar numa posição subalterna. Em um período de pouco mais 40 anos e já potência industrial e econômica, amargou inúmeras experiências políticas traumáticas: o envolvimento na I Guerra Mundial (1914-1918) que levou os alemães a derrocada política e econômica, que, aliás, está fazendo aniversário este ano e que parece que ainda não acabou. Nesse período conturbado, o país deixa de ser uma monarquia para fundar uma república - a República de Weimar (1918-1933). É um período de tensões internas, fome, inflação, traumas de guerras e de um nacionalismo incendiário e conservador, e a iminência de uma revolução de esquerda ou de direita. Tensões que explodirão nas décadas de 20, sobretudo em 1929 com a crise mundial e a tomada do poder pelo nacional-socialismo hitlerista (que LULA já confessou ter admiração) que põe fim a República de Weimar e instaura uma ditadura eficiente em seus métodos e práticas políticas de triste memória. A Alemanha novamente arrastará o mundo para uma guerra total. A pátria dos pensadores e poetas dá lugar à pátria dos guerreiros que tocam fogo no mundo e em seu próprio país. Se há um traço dentre tantos que pode definir os alemães é a eficiência. A eficiência da máquina de guerra alemã causava espanto e temor no mundo. A eficiência em imprimir uma ditadura sangrenta a seu povo e a Europa também. Diz-se que em nome da eficiência se construíram os campos de concentração, as fábricas de morte de Hitler. Enfim, a eficiência alemã é utilizada para o bem e para o mal, a depender das circunstâncias. O fim da história todos conhece, a Alemanha perdeu a II Guerra (1939-1945) teve seu território dividido e o que restou da nação de Wagner foram ruínas e feridas que ainda hoje não foram totalmente cicatrizadas. Mas como uma fênix, ela novamente resurgiu das cinzas, se reunificou em 1989, em 1990 conquista a Copa do Mundo e hoje é a maior potência da Europa. O capitalismo alemão é robusto. Marcas como Mercedes-Benz, Wolksvagen, BMW, Porsche, Audi, Adidas, Puma, Bayer, dentre tantas são mundialmente famosas e desejadas. Desculpe-me leitor que teve a paciência para chegar até aqui, mas toda essa conversa mole é para falar mesmo é de futebol, vão dizer "poxa vida e precisava toda esse lenga-lenga, quero saber é de futebol"; mas como disse, um traço da Alemanha é a eficiência e no futebol parece que os alemães encarnam esse espírito instrumental e objetivo. A Seleção alemã parece não se entregar nunca. O espírito de Franz Beckenbauer, Gerd Müller, Klinsmann, revive. A Alemanha não é uma potência emergente no futebol, longe disso é tri campeã. A sua força tática e técnica e sua eficiência em campo e determinação está de acordo com o espírito germânico. Atacam e defendem, lutam, lutam em busca de seu espaço vital em campo adversário. Quando pensamos que ela está de joelhos, ela diz ao que veio. Hoje a partida contra a Argélia, a seleção germânica jogou bem somente no primeiro tempo, no segundo, a Argélia com um time tática e tecnicamente inferior, mas com garra e gana de ganhar, lembrava o povo russo na batalha de Stalingrado, parecia uma guerra do Davi contra o Golias, a Argélia lutou, lutou, levou perigo e chegou a incomodar a eficiente máquina de futebol alemã. Até que nos últimos momentos do jogo, já durante a prorrogação os teutônicos vencem a linha adversária e cravam dois gols mortais... mas ainda assim os argelinos lutaram, e conseguiram marcar um gol, mas não foi suficiente para mudar o curso dos acontecimentos e assim prevaleceu o mito da eficiência alemã no futebol. Contra a fogosa seleção francesa, um dos times que vi jogar com mais força nessa copa, a tática da Alemanha foi fazer um gol e como se diz no Brasil "cosinhar o galo", ou seja, imobilizar os "blues" taticamente de modo a evitar se expor para não ser alvo de um contra-ataque da artilharia francesa, sobretudo do grande jogador Benzemar. E assim foi. A Alemanha fez o gol tendo como matador Hummels, ainda no primeiro tempo, deu ao país a sua quarta presença consecutiva nas semifinais de uma Copa do Mundo. Parece que a máquina de futebol germânica está sempre lubrificada e pronta para vencer. O próximo adversário foi o nosso Brasil, desfalcado de dois importantes jogadores, o imprecindível Neymar e o fundamental Tiago Silva. Tínhamos que ter calma e muita técnica para vencer a Alemanha, para que ela também não "cosinhasse o canarinho" como fizeram com o "galo" francês. O pior é que o "canarinho" não foi só cosinhado, foi moído tática, técnica e fisicamente pela Alemanha. Resultado : 7 x 1... a desorganizada seleção brasileira caiu de joelhos frente a máquina de gols alemã. Miroslav Klose que ultrapassou Ronaldo na artilharia das copas, afirmou logo depois da partida com o Brasil que " emoções são como líquidos numa esponja: eu as absorvo, para curti-las num momento posterior da vida". Essa afirmação do artilheiro da "bltzkrieg alemã" tem tudo haver com o espírito alemão. Enquanto os garotos brasileiros apelavam para todo tipo de reza e amuletos, os alemães se mantiveram duros e firmes como aço. Por fim como último combate para vencer de vez a guerra futebolística mais importante do mundo os alemães enfrentaram uma potência futebolística, a Argentina de Messi e Di Maria, foi um jogo duro, difícil e disputado, de lances decisivos e perigosos, a Alemanha se defendeu mais que atacou, os Argentinos pareciam que queriam ganhar e triunfar na terra brasilis, a Alemanha se segurou como pôde, levou o jogo para a prorrogação um jogo duríssimo numa batalha que até o último instante parecia indefinida, até que o técnico alemão substituiu Klose por Mario Götze nos últimos instantes do segundo tempo da prorrogação, e este jovem gerreiro recebeu uma bola, a única que atravessou a linha inimiga, matou-a no peito e mandou no canto do goleiro argentino, chute indefensável que coroou a seleção alemã como campeã da "copa das copas", depois disso foi só festa, inclusive com direito a um ritual indígena como agradecimento a acolhida do povo brasileiro. A eficiência alemã foi de fato o que prevalesceu e o Brasil reconheceu a merecida conquista pela seleção germânica do mundial de 2014.