Para não dizer que não falei dos espinhos.
Plagiando determinado poeta que disse: “PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”, começo esta matéria em sentido contrário, ou seja, dizendo que eu poderia ser cobrado (como cronista) caso não falasse dos espinhos.
Refiro-me ao campeonato sul-mato-grossense que a ‘grosso modo’ poder-se-ia chamar de semiprofissional, visto que as equipes que participam ou participaram do certame, sem grandes recursos financeiros, acabam, em alguns casos, arregimentando ‘pratas da casa’ que muitas vezes não sobrevivem apenas do salário vindo do futebol.
Soa paradoxal referir-me a nosso futebol (maior) do Estado abordando sobre os espinhos que no contexto da flora se constitui na parte ostensiva e pouco apreciada da roseira. É o que ocorre aqui na Capital. Não se pode dizer que nosso futebol é algo apreciado em nosso universo de torcedores que, depois da falência de nosso futebol profissional, afastou-se, definitivamente, dos estádios.
As épocas áureas de nosso futebol contam com mais ou menos duas décadas de dormência profissional. Essa cúpula da Federação do Estado conduz nosso futebol com realces de puro amadorismo. Ninguém busca uma bandeira mais ousada ou mais efetiva na busca de melhores dias. Ao contrário, fica nítido que tais dirigentes preferem que tudo fique como está para que não se escancare os bastidores ou os calabouços que devem esconder algum interesse particular.
Tanto Operário como Comercial não conseguem se reerguer sozinhos. Isso explica porque a equipe comercialina de hoje é constituída por um time cheio de problemas. Não se classificou e logo vieram as manchetes nos sites com reclamações do elenco sobre calotes na folha de pagamento. Elas (equipes de operário e comercial) representam um universo considerável de torcedores que estão adormecidos e que esperam um milagre. Desejam que seus times ressurjam das cinzas. Entretanto, não é fácil reerguer gigantes que estão encobertos pelo manto das mazelas trabalhistas. Só a prescrição poderá salvá-las num futuro remoto.
Esse tal de Cene que hoje comanda nosso futebol, para muitos, compõe-se de um jogo de cena. As suas entranhas reserva mistérios que são inexplicáveis sobre a ótica financeira. Não existe torcida, mas existe um elenco bem pago. Aliás, O Cene tem conquistado seguidos campeonatos, mas sempre com estádio vazio. Essa sobrevivência desafia a ordem das coisas. O futebol só existe no mundo porque existem torcedores. Entretanto, o Cene os passos são para os lados. Com esse time pode-se dizer que o futebol pode acabar no mundo que ele continuará existindo. Esse silogismo desafia a lógica.
Mas chega-se à final de um campeonato feito para as paixões interioranas. Com elas é que eu vibro. É gratificante ver o estádio da Águia tão cheio. Não se sabe de onde surge tanta gente. Quem conhece Rio Brilhante é capaz de dimensionar a grandeza de se estar numa final. Uma cidadezinha que nunca se desenvolveu porque sua economia sempre girou em torno da pecuária. A sua diferença econômica só veio agora depois da instalação das Usinas de Álcool. Curiosamente o álcool não satisfaz a razão de sua existência: energia alternativa de combustível. Satisfaz, porém, a ordem de progresso para Rio Brilhante. Por isso o time do Águia Negra tem sido forte.
Essas são as únicas razões para eu me tornar um torcedor do ÁGUIA NEGRA nessa final.