Bola e toga (texto ao blog 'Pílulas do Poder')
O futebol, pelo menos por aqui, em terras de trópicos, faliu. Acabou, simplesmente. Pela arrogância se faz um belo virado à carioca. Ou melhor: virada. A de mesa. A Portuguesa, coitada, foi ao cadafalso de novo. Viu-se enforcada por um tribunal de gravatas empoeiradas e mal cheirosas. O Fluminense repetiu Fausto e aceitou a venda de sua alma ao demônio. Pela segunda vez, após ficar nas últimas posições na competição nacional, não disputará a série B, mas a série A. A indignação vem de todo canto. Julgamentos forjados, decisões maltrapilhas e torcedores à toa. Agora os torneios ‘só acabam quando terminam’, como dizia Chacrinha. Dentro de campo vale até a página três. Depois, um outro tipo de juiz golpeia a parada. Está certo: a Lusa escalou erradamente Héverton. Fez isto, porém, aos 32 minutos do 2º tempo de uma peleja que nada valia. A má-fé não houve. O clube não se beneficiou. O contrário seria se o time pusesse nas quatro linhas um atleta irregular e este ajudasse no placar, por exemplo, de uma classificação à Libertadores, ou em pontos no rebaixamento. Isto não ocorreu. O modorrento 0 x 0 entre Lusa e Grêmio tinha tudo para ser esquecido. Não será. Entre as leis e a Justiça, escolheu-se a lei. O tapete se estendeu no Campeonato Brasileiro de 2013. Um tapete grande. Enorme. O futebol verde e amarelo repete 1996, 1999, 2000. Iguala 1991, 92, 86. Em todos estes anos, a mesa foi posta de ponta-cabeça. A credibilidade está lá, debaixo do tapetão. Esconde-se de vergonha.
O ludopédio tupiniquim findou-se. Não temos jogadores de nível A. Os jogos estão cada vez mais tediosos. Não bastasse toda a ojeriza, agora isto. José Trajano bem disse: ‘Os torcedores do Fluminense devem se calar.’ Mais: os dignos tricolores deveriam sentir vergonha. Ao ceifarem a Portuguesa, acertaram um tiro no peito da coerência. Num lugar de Marins, Del Neros e Ricardos, é até engraçado ver advogados como protagonistas. No Brasil, a Justiça vale quando o beneficiado é o torto. Menos mal foi a atitude da Nissan. Patrocinava o Vasco. Sim, no passado. Devido à violência em Joinville-SC, a empresa se retirou do clube. Sua marca não combina com socos e pontapés. Aplausos. Aplaudo de pé. Ah, se todos fossem iguais a você, Nissan... A selvageria vista alguns dias atrás, no jogo com o Atlético-PR, só serviu para cimentar mais as nossas pobrezas educacional, cultural e desportiva. Quando detalharam os baderneiros, viu-se quem eram os atores: um condenado por tráfico de drogas, outro por roubo, um por assassinato. Só gente boa. E todos soltos, à vontade para irem ao estádio machucarem inocentes. Ferirem gravemente. Claro, têm o direito. Nós, os honestos, pagadores de impostos, temos de ficar recolhidos em casa, atrás das grades de nossos condomínios. Santa Justiça. Santa Política. Santa Impunidade. Santa Desgraça. Estes serão os próximos a serem canonizados. No meio, o país organiza a Copa. Evidentemente, com mortes de operários. Não poderia ser de outro jeito.
Enquanto a Fifa só pensa na Fernanda Lima, as famílias dos entes queridos mortos querem uma reparação. O respeito a eles seria um bom começo. Volto ao tapetão. Em torneios europeus, a modernidade impede as viradas. Os julgamentos são imediatos. Aqui, não. Coisa mais ridícula é ver advogados num tribunal para julgar um atleta! Transformamos bola em toga. É inadmissível assistir a isto sem reagir. A vingança tem de vir mansa. Se o Bom Senso Futebol Clube (BSFC) realmente quiser credibilidade e confiança por parte de todos, devem, em 2014, boicotar o tricolor carioca e não entrar em campo. Ou se esforçar para rebaixá-lo novamente, como aconteceu em 1996 e 1997. Como escreveu o também jornalista Mauro Cezar Pereira, agora o nome da equipe tem de ser escrito com dois ‘L’: Flluminense, como o de Sérgio Mallandro, um de seus torcedores ‘ilustres’. Os torcedores comemoram o ‘reacesso’ com champanhe e pizza. Aliás, boa pedida esta pizza. O sabor: à moda CBF, com bastante pimenta e pó. Indigesta. Não é possível que a Justiça não prevaleça. Corremos o risco de ter outra Copa João Havelange (argh!), como foi em 2000? Sim, corremos. Aí, se realmente acontecer, com aumento de clubes, consequentemente aumento de rodadas (ao mesmo tempo em que o BSFC pede a diminuição de calendário, de datas), além de falido, o futebol que se diz pentacampeão do mundo (para mim é apenas tri – não considero os títulos de 1962 e 2002, que foram roubados) estará a sete palmos da terra.