O DONO DA BOLA
_ Acorda menino preguiçoso, está na hora de ir pra escola!
_ Há mãe, deixa eu dormir só mais um pouquinho!
_ Seu irmão já acordou e já arrumou e você nem aí!
Pedrinho acordou apressadamente, lavou o rosto, vestiu o uniforme, tomou café, de pé, pois, o irmão insistentemente o chamava:
_ Vamos logo pedrinho se não vou chegar atrasado também!
_ Se eu pudesse não iria! A mãe intervem:
_ Tá pensando o que! Filho meu não vai ser moleque não! Tem que estudar e conseguir um bom emprego. Pedrinho colocou a mochila nas costas, parecia maior do que ele. Seu irmão corria na frente resmungando.
_ Que porcaria viu! Todo santo dia é a mesma coisa. Dia destes alguém ainda vai encher o saco, por causa deste pirralho.
_ Bom dia Pedrinho! Ele nem respondeu a saudação da orientadora e continuou seus passos reclamando.
_ Não sei o que tem de bom, deixar um lugar quentinho na cama para vir escutar esta palhaçada.
_ Atenção turma! Vamos ficar em silêncio para a execução do hino nacional.
Pedrinho continuou a conversar com os colegas.
_ E o gol que fiz no Rodrigo ontem hem!
_ Há que nada até a minha vó fazia!
_ Invejoso, admite que sou o melhor e pronto!
_ Psiu, olha o respeito!
Bradou a disciplinária.
_ Não tá vendo que é hora de respeito! Cadê o patriotismo?
_ Eu deixei lá em casa dormindo no meu lugar!
_ Mal educado! Vai tirar zero em moral e cívica.
Entraram para a sala, todos se assentaram. O professor entrou em seguida.
_ Bom dia!
_ A maioria dos alunos responderam, menos o Pedrinho.
Gostava das aulas de humanas e detestava as exatas. Era bom de português e péssimo em matemática. Tinha uma preguiça de fazer continha. Ficava horas e horas viajando com os pássaros, que pousava nas janelas e ouvia atentamente os gritos dos ambulantes do lado de fora. Mas, quando a professora de português o mandava ler, aí sim, incorporava uma autoridade no assunto. Terminava a aula, saía correndo na frente do irmão, chegava em casa, almoçava feito um leão, a fim de ir para o campinho jogar bola.
_ Tô na de fora hem! Gritava para os outros que já estavam em campo.
_ Quem vai com cê Pedrinho? Perguntou Valdeci o famoso(Careca).
_ Eu, você, Luca, Pescoço e o Tomate.
_ Beleza!
Entraram em campo. Colocaram o Pescoço no gol. Era esquelético e tinha um pescoço alongado, apesar da pouca idade, quase dava no travessão. O outro time os filhos dos vizinhos que estudava na sua escola. Uns nem ia à aula, ficavam o dia todo brincando. Quase todos na faixa de idade do Pedrinho. Ele com oito e os demais entre oito a doze anos. Todo o dia repetia como um ritual. Casa, escola e campinho. Quando completou 11 anos a mãe resolveu a fazer a festa na escola com os colegas de classe. Construíram uma quadra na escola, a fim de incentivar os alunos a estudar e praticar esportes, mas, Pedrinho não adaptou, pois, acostumara em jogar descalço na terra e na grama e na quadra sempre machucava.
_ Como é que eu vou fazer num piso de cimento, não dá para fazer uma bicicleta, que a gente quebra a coluna. Não dá pra driblar, porque meus dedos dobra nesta coisa. O jeito é ir lá pro campinho. Tem Lama, tem barro, grama e se cair o chão amortece.
Anunciaram um campeonato na cidade, nas categorias infanto, juvenil e sênior. Logo, Pedrinho e seus amigos entusiasmaram.
_ Vocês viram no jornal anunciando o campeonato na cidade?
_ Claro que vi! Ou tu acha que a gente é tapado!
_ Vamos escrever ou não?
_ Assim que iniciar as inscrições a gente cai dentro!
No ritmo do torneio continuaram jogando, sonhando em fazer bonito para os outros times e a plateia que virá para assistir.
Sua mãe e seu pai o aconselhava:
_ Pode jogar bola quando quiser, mas, ficar longe da escola e não se comprometer com os estudos, será proibido o jogo. Deixo fazer as duas coisas, desde que uma não prejudica o outra.
Iniciou-se as inscrições e todos empolgados fizeram filas na praça. Pegaram o regulamento e quites contendo coletes identificando times e categorias.
O pai de pedrinho deu sugestão para que ele e seus amigos se reunisse em sua casa para tratar da formação do time. O mesmo ficou alegre saindo em disparada para reunir-se com os amigos.
No dia marcado todos estavam conversando na sala, parecia torre de babel, quem chegava próximo a casa de Pedrinho, não entendia uma palavra dita.
_ Bem pessoal! Vocês não vieram aqui para tratar do campeonato não? Interrompeu o pai.
_ É claro que viemos! Exclamou o Luca.
_ O campeonato está chegando e nós estamos totalmente perdidos. A ideia do meu pai de reunirmos aqui não podia ser melhor. Respondeu o Pedrinho.
_ Peguei uma caneta pra você Pedrinho!
_ Eu trouxe um caderno! comentou a mãe.
_ Então vamos lá. O Pescoço será nosso goleiro titular e o Piriá vai jogar com a camisa 2.
_ Meu filho que é isso! fale o nome dele!
_ Liga não dona Constança, eu já acostumei!
_ Ô mãe não interrompe não!
_ O Lalado vai jogar com a camisa 3, o Careca vai com a camisa 4, o Chico irá jogar com a camisa 5,o Tomate vai com a camisa 6, o Luca com a camisa 7, o Tica vai jogar com a camisa 8, eu vou jogar com a camisa 9, o Josué vai com a 10, Caroço joga com a 11. Tonho medonho, o Zé da preta, o Dirceu, Conrado e o Paulinho fica na reserva.
_ Não tem massagista não?
_ Eu fico! Respondeu o pai meio sem graça.
_ É ruim hem! Já conversei com a Rosinha e ela topou. Só me faltava esta “homem” massagista.
_ Ainda nem saiu das fraudas e já pensa que é homem! Retrucou a mãe.
_ O pai vai ser nosso treinador e isto é uma função muito importante!
_ Obrigado pela parte que me toca! Consentiu o pai.
No primeiro dia do jogo a ansiedade tomava conta de todos. Um casal que estava com microfones, comentavam empolgados, a cerca dos acontecimentos. Parecia até gente de televisão. Era a fase das eliminatórias.
_ Você leram o regulamento? Perguntava o organizador ao microfone.
_ Eu li!
_ Eu também! Assim a resposta se espalhara.
Começou o jogo. Como esperado, vibrava os vitoriosos e choravam os derrotados. Naquele dia jogou 10 times. Foram cinco horas de festa. Muitos gritos, algodão doce e pipoca. O time do Pedrinho ganhou de 2 x 1. Acharam o time forte e o pai sempre brigando.
_ Marca o camisa 11 deles, ele é muito bom. Cuidado com o 9 ele é muito agressivo....
_ Seu pai tava muito chato Pedrinho!
_ É claro, a gente deu mole!
Passaram aquela semana
Chegou o domingo e Pedrinho não via a hora de chegar no campo. Combinou com os seus amigos para chegarem mais cedo. Quando chegaram não tinha ninguém, somente o barulho de alguns quero-quero, que vigiavam o ninho, próximo ao campo. Sr. Tonho pai de Pedrinho, chama os meninos para iniciar o diálogo e lhes mostram um desenho feito apressadamente numa folha sobre uma prancheta. E dizia:
_ O time que vocês irão enfrentar hoje é mais forte do que o outro, do domingo passado. Eles jogam desta maneira e........ Continuou a falar uns trinta minutos e rezaram o Pai Nosso em agradecimento. O organizador apita e chama todos para conversar, falar do espírito esportivo, disciplina e etc. Começa o jogo. Pedrinho estava agitado. Vamos lá turma, mostrar o que temos de melhor. Pescoço, cuidado com o recuo de bola! Tomaram um gol de bobeira, passe errado. Terminou o primeiro tempo empatado, após um passe perfeito para o Luca, que não desperdiçou. Segundo tempo mais tenso. Finalizando partida 3 x 2 para o time de Pedrinho. Gols de Caroço após um cruzamento e outro do próprio Pedrinho de cabeça. O outro gol sofrido contra, após a bola bater no zagueiro Piriá.
O campeonato ia se afunilando, o time de Pedrinho empatou no final de semana seguinte. Após duas vitórias consecutivas, com muita luta e sacrifício, o time passou para as oitavas de finais. Sr. Tonho reunia na sua casa todo sábado, a fim de repassar as dificuldades do time e apontar soluções para a vitória. Fato que levou o time passar para as quartas de finais com vitória de 1 x 0, 2 x 1, 2 x 0 e 4 x 2. As quartas de finais foram páreos duros, devido a seleção dos melhores times. Mas, Sr. Tonho e seus pupilos estavam sempre colocando o papo em dia. No último jogo um senhor distinto, bem aparentado e trajando um brazer azul marinho, calça Jeans surrada e um boné contento nomes e timbres de marcas esportivas, aproximou do seu tonho e perguntou se o mesmo era o pai de Pedrinho.
_ o Senhor é o pai daquele garoto?
_ Sou sim. Posso lhe ajudar?
_ Eu estava vendo jogar. Ele é um garoto de futuro, pois, além de saber jogar, tem espírito de liderança. Parece que nasceu pra coisa.
_ Que bom ouvir isto do senhor
_ Depois da partida o senhor me procura. Eu estou sentado naquele banco ali, apontou.
_ Pode deixar.
Pedrinho não sabia da conversa, estava com os seus amigos, preparando para entrar em campo. Era a final e ele estava exausto da maratona de jogos. Conversou com os seus amigos, aconselhou e os outros o respeitava, devido a sua seriedade e firmeza nas palavras. Acabou o jogo.
_ Estou um fiapo, que 1 x 0 sofrido, este time é duro de doer, se o goleiro tivesse ido naquela boa, a esta altura nós éramos o segundão. Seu pai lhe deu um abraço e comentou:
_ Não falei com você que ia dar! E só confiar! Se não fosse as orações também, não sei o que seria.
_ Sr. Tonho!
_ Pois não!
_ Eu conversei com o senhor antes do jogo se lembra?
_ Há sim, eu me lembro! Como o senhor se chama mesmo?
_ Desculpe! Eu me chamo Leônidas, mas pode me chamar somente de Léo
_ Pedrinho este é o Sr. Léo, ele me procurou para conversar depois do jogo.
_ Tudo bem Pedrinho?
_ Tudo!
_ Aproveitando que estamos aqui, eu gostaria de fazer uma proposta para você e seu pai!
_ Qual é?
_ Eu represento um grande time na Capital e gostaria de fazer um convite para treinar lá
_ É sério? Que bom pai! Só tem uma coisa.
_ Qual é?
_ Os meus amigos. Eu conheço a maneira que eles jogam e é isto que faz sentido a vitória.
_ Eles irão ter a chances deles, tem mais alguns amigos aqui que irão conversar com eles, não vão ficar na mão, garanto isto.
_ Então tá bom! Gostaria de vê-los junto comigo, quem sabe um dia a gente ainda joga junto!
_ Com certeza!
_ Vamos la em casa tomar um café e a gente conversa!
_ Tá muito bom, vamos lá!
Tomaram café e todos vibraram com a notícia, mas a mãe o aconselhava não vai parar de estudar, como é que você vai administrar o seu dinheiro?
_ E mãe eu ainda sou novo! Quem vai cuidar disto é o papai!
Todos riram. Enquanto tomavam café falava de negócios. Sr. Léo tirou o contrato da pasta, pediu que Pedrinho lesse em voz alta, a mãe interrompia sempre que surgia dúvidas e palavras difícil.
_ Ô mãe, desse jeito a gente vai ficar aqui até amanhã!
_ Deixa ela Pedrinho! Balbuciou Sr. Léo. Ela está certa.
Terminou a leitura do contrato, foi esclarecidas algumas duvidas e Pedrinho e sua família viajaria no outro final de semana para a capital. Todos os dias eram motivos de festas. Seus amigos também foram convidados para outros clubes da capital, Luca iria para o mesmo time do Pedrinho. A festa continuou até o dia da viagem.
J. CHAVES