O futebol moderno atravessa uma fase de mudanças quantiqualitativas no que se diz respeito aos seus aspectos táticos, técnicos e físicos. Novas formas de se jogar são aperfeiçoadas e sistemas criados com a intensão de superar os adverssários. Entretanto, estas mudanças qualitativas exigem um preço bastante elevado de seus protagonistas principais, os atletas. Mesmo havendo um grande esforço da ciência para minimizar os efeitos deletérios da saúde por meio das pesquisas de novos alimentos, repositores energéticos e suplementos minerais , as exigências psicofisicas a que são submetidos estes individuos ainda é uma carga bastante pesada para se carregar do ponto de vista quantitativo. Some-se a isto, o alto custo operacional de uma equipe.
 

            Atrelado, não raro encontramos campeonatos com calendários que menosprezam qualquer consideração fisiológica  destes jogadores, resultado de um fazer desprovido de uma competência técnica daqueles que são responsáveis pelas decisões finais para a realização dos jogos. Isto resulta quase sempre numa queda do rendimento das equipes disputantes no que se diz respeito as suas participações repetidas vezes em curtos intervalos de tempo.

            Todo esportede competição possui, ou pelo menos deve possuir, um departamento técnico competente com normas orgânicas a fim de evitar o processo de desgaste  psicofisico acentuado dos atletas competidores, respeitando um mínimo de tempo para sua recuperação. Isto é o que se espera de uma entidade séria que tenha a preocupação de proteger a saúde e a integridade física de seus afiliados. No caso do futebol profissional, um período esperado de 72 horas entre duas disputas seria o ideal para que não venha ocorrer nenhum dano fisiológico nem estrutural aos atletas participantes.

            Várias são as situações que podem gerar uma série de efeitos maléficos a saúde de um atleta. Dentre estas situações podemos destacar uma sob um dos três pilares da preparação física: o descando apropriado. Sem um descanso adequado, torna-se impossível um restabelecimento compensatório do atleta. O descanso para o atleta deve ser sagrado como o próprio esporte que ele defende. Assim, viagens desgastantes e alimentação inadequada (não balanceada) são contributos para uma piora da performance atlética, uma vez que o jogador não tem tempo de descanso adequado para sua recuperação.
 

          Uma outra situação ilustrativa a que atletas podem estar a mercê é o fator climático. Em locais onde a temperatura ambiente  ou a umidade relativa do ar são elevadas, ocorre um maior risco de traumas termorreguladores para os participantes. Notemos que o aumento da temperatura corporal resultante de um esforço muscular se dá por meio de um complexo sistema fisiológico denominado metabolismo. Mesmo em  temperaturas ambientes não muito altas, a temperatura corporal  interna pode variar de 37º a 42º C, o que por si só já se consubstancia como um provocador de sudorese elevada.

           Esta elevação de temperatura pode nos remeter a um quadro de desidratação pela perda excessiva de suor, que é maior que a reposição hídrica em se tratando de tempo passado em. Mesmo que o jogador de futebol apresente-se bem treinado, o consumo de oxigenio pelo corpo pode vir a aumentar em até 20 vezes. Significa que a quantidade de calor liberada no corpo é quase que exatamente proporcional ao oxigênio consumido, o que é fato em se tratando de um trabalho de resistência como é o que é feito na prática do futebol, onde o jogador percorre distâncias variando de 8 a 12 km numa partida, acarretando grandes quantidades de calor injetados nos tecidos corporais internos do atleta (Guyton, 2011).

     Quando isto ocorre em ambientes de temperaturas quentes e úmidos, a temperatura corporal interna pode elevar-se de 41º a 42º C, levando a potencial auto-destruição das células, principalmente as células cerebrais, num ato sem precedência. Esta ocorrência fisiológica é fácil de acontecer, principalmente se o atleta vier de um quadro de desidratação já acumulada por esforços repetitivos como é o que pode ser gerado por  jogos consecutivos de disputas, o que o leva a perder de 2 a 3 litros de água por hora numa partida. Alguns sintomas podem ser observados incluindo fraqueza excessiva, exaustão, dor de cabeça, tonteiras, náuseas, suor profuso, confusão mental, marcha instável, colapso e perda da consciência. Neste caso, estaremos diante do que chamamos de Intermação. Se medidas médicas urgentes não forem tomadas, pode-se chegar certamente a fatalidade do atleta.

          Do ponto de vista da fisiologia do exercício, dos fundamentos do treinamento esportivo e do bom senso, devemos respeitar primeiro a integridade física e a saúde de um atleta antes submetê-lo a um regime de treinos ou de competição que venha ameaçar potencialmente sua vida. Ser responsável é ser humano, é acreditar naquilo a que se propõe a fazer com competência e seriedade. No esporte não é diferente. O esporte imita a vida? Não, o esporte é a própria vida vivida de forma coerente e salutar, para a alegria de todos.