Olimpíada geriátrica

OLIMPÍADA GERIÁTRICA

Crepitam em solo londrino, perpetuando a milenar tradição grega, sacras labaredas na fulgente pira olímpica. Reacende e intensifica-se nosso senso patriótico. Mesmo que raras vezes tenhamos ascendido ao pódio, frustrando, inegavelmente, nossas pretensões, o lábaro verde e amarelo, aguerridamente, tremula nos mastros bretões.

Nossa admiração por esportes, considerando o valor e a dimensão do evento, essenciais, inclusive, à educação, levou-nos, referendado em consultas bibliográficas, a algumas ilações. Na antiguidade, o fogo era considerado sagrado. Prometeu o roubara de Zeus e entregara aos mortais. Chamas ardentes iluminavam o templo de Hestia, em Olímpia. Nas cerimônias olímpicas, o atleta vencedor da corrida teria o privilégio de transportar o archote para acender o altar do sacrifício. A fim de reviver o espírito dos jogos gregos, criou-se a tradição da tocha olímpica, acesa todos os anos onde existiu a cidade de Olímpia. A tocha sempre é levada de Atenas até a sede dos jogos, se possível por terra, em revezamento de atletas.

Segundo a mitologia, Hércules, filho de Zeus, matou um homem por fúteis motivos. Arrependido, criou as Olimpíadas para pedir desculpas ao pai e aos outros deuses. Delas participavam apenas os cidadãos livres, que falassem o idioma grego e que nunca tivessem cometido crime. Só homens podiam assistir às disputas, com exceção das sacerdotisas. As mulheres participavam de outra competição, em honra à Hera, esposa de Zeus. Festivais femininos excluíam os homens, o mais famoso era o Heraen, em Argos, cabia aos vencedores uma coroa de louros.

A corrida era a única competição numa pista em forma de ferradura em homenagem ao deus Apolo. O vencedor era coberto do pó da terra da pista, que com o suor formava uma “pasta” muito valiosa, por conter os elementos de força da vitória. O prêmio: uma folha de palmeira e uma coroa de ramos de oliveira. Mais tarde, os atletas se profissionalizaram e passaram a receber láureas em dinheiro. As Olimpíadas perderam prestígio com o domínio romano na Grécia, no século II a. C. Em 392, o imperador Teodósio I converte-se ao cristianismo e proíbe todas as festas pagãs, inclusive as Olimpíadas. Os romanos julgavam-nas sem importância e obrigavam os gregos a trabalhar para eles – como escravos. Os romanos preferiam o circo aos torneios atléticos. Ao tempo de Augusto, havia 21 circos em Roma. Esse total tripiclaria nas duas décadas seguintes, enquanto não havia mais do que dois ginásios como os que os gregos mantinham em Esparta e Atenas.

Devemos a “Maratona” a uma corrida de fundo, distância de 42 quilômetros e 500 metros, percorrida por um soldado grego chamado Pheidípides, que correndo levou à Atenas a notícia da vitória de seu exército na batalha de Maratona, cidade da Ática, onde se combatiam os persas. Dada a notícia, caiu morto, tornando-se sinônimo da tenacidade humana. Os atletas vitoriosos chegavam à celebridade: recebiam alimentação gratuita pelo resto da vida e tinham um lugar reservado na primeira fileira dos teatros.

A versão moderna dos festivais esportivos gregos foi realizada, pela primeira vez, em 1896, em Atenas, iniciativa do francês Pierre de Fredy (1863-1937), o barão de Coubertin. Os vencedores foram premiados com medalha de ouro e ramo de oliveira. A bandeira olímpica, com cinco anéis, representando os continentes, é o símbolo da integração dos povos. Traz o lema “Citius, Altius, Fortius” (mais rápido, mais alto, mais forte). Desde seu renascimento, com interrupção apenas durante as duas guerras mundiais, os jogos realizam-se de 4 em 4 anos nos meses de agosto e setembro (época de colheitas).

O idioma francês e o inglês são as línguas oficiais do movimento olímpico. A língua utilizada em cada edição é a do país de acolhimento. O mascote olímpico, animal ou figura humana que representa o patrimônio cultural do país anfitrião, foi introduzido em 1968. O filhote de urso russo Misha atingiu o estrelato internacional. Os mascotes dos últimos Jogos Olímpicos de Verão, em Pequim, foram os Fuwa, cinco criaturas que representam os cinco elementos do Feng Shui, os de maior importância na cultura chinesa. A Grécia é a primeira nação a entrar com o intuito de honrar as origens dos Jogos Olímpicos. As delegações, em seguida, percorrem o estádio, em ordem alfabética, de acordo com o idioma escolhido do país-sede, e seus atletas são os últimos a entrarem. Finalmente, a tocha olímpica é levada para o estádio e é passada de mão em mão até chegar ao portador final. Muitas vezes um bem conhecido e sucedido atleta olímpico da nação anfitriã acende a chama.

No futebol masculino, três jogadores com idade superior a 23 anos são elegíveis. Mantém-se um nível de amadorismo e assegur-se a primazia da Copa do Mundo. Os vencedores recebiam medalhas de ouro maciço até 1912, seguidas de prata dourada e prata banhada a ouro. Atualmente, cada medalha de ouro deve conter, no mínimo, seis gramas de ouro puro. Os vice-campeões recebem medalhas de prata e os atletas terceiros lugares são premiados com medalhas de bronze. Em eventos contestados por um torneio de eliminatória simples (principalmente de boxe), o terceiro lugar não pode ser determinado e ambos perdedores semifinalistas recebem medalhas de bronze.

O COI adaptou os jogos ao mundo das circunstâncias sociais. Incluiu os Jogos de Inverno, os Jogos Para(o)límpicos de atletas com deficiência física e visual (atualmente atletas com deficiência intelectiva auditiva não participam dos jogos), e os Jogos Olímpicos da Juventude. As competições se afastaram do amadorismo imaginado por Coubertin, para permitir a participação de profissionais. Em 1948, sir Ludwig Guttmann, determinado a promover a reabilitação dos soldados após a 2ª guerra, organizou evento multiesportivo entre os vários hospitais.

O único atleta que fez o caminho inverso, ou seja, competiu primeiro em Jogos Olímpicos e depois em Jogos Paralímpicos foi o esgrimista húngaro Pál Szekeres.

“Espírito em Movimento” é o lema da vertente. O símbolo contém as cores vermelho, azul e verde. Cada cor na forma de uma ‘Agito’ (em Latim significa “eu me movo”). O corredor sul-africano Oscar Pistorius, que usa próteses ligadas aos dois joelhos, ganhou o direito de competir em eventos regulares de atletismo, já que estava num nível acima dos atletas paraolímpicos. Os atletas sem deficiência também competem nos Jogos Paralímpicos: atuam como guias para atletas com deficiência visual.

Embora possa parecer inexpressivo, sem implicações políticas, econômicas ou sociais, a posição em que o país se coloca, frente ao concerto mundial, reflete o incitamento governamental à educação esportiva. Assim já o foi com a China, Japão, Inglaterra. Mesmo que não seja honrosa a 21ª posição em 2012, bem sabemos que, seja qual for o critério, sem o respaldo econômico e profissional, jamais conquistaremos o topo ou os lugares primeiros na classificação. Contudo, salvo que o argumento seja totalmente infundado, cremos que a ordenação, referendada na conquista de medalhas de ouro, não é totalmente justa e lógica. Uma delegação pode alcançar número significativo de medalhas de prata e bronze, mas sempre ficará atrás de outras que tenham somente uma de ouro. Se pudéssemos valorar, atribuindo 10 pontos às medalhas de ouro, 08 pontos às de prata e 06 pontos às de bronze, certamente a posição dos mais bem colocados não seria alterada, entretanto seria equitativo.

A chamada terceira idade é uma etapa especial na vida de todos nós. Varia de acordo com o desenvolvimento e cultura da sociedade em que se vive. Em alguns países considera-se terceira idade a partir dos 60 anos. Para a geriatria, somente após 75 anos. Não existe um consenso com relação à fronteira que limita a fase pré e pós-velhice, nem tampouco com relação aos indícios mais comuns da chegada nesta fase. Dados do IBGE demonstram que entre 1995 e 1999, o número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil cresceu em 14,5%. Com o aumento da população idosa que já chega a mais de 10%, muitas empresas estão desenvolvendo, cada vez mais, produtos voltados para melhor idade, é o caso de agências de viagens, bares, academias, estéticas... Se você não fizer exercício físico nem mantiver uma dieta alimentar balanceada, provavelmente não terá alguns benefícios e não desfrutará de boa qualidade de vida. Há pessoas de 60 anos com um condicionamento físico e qualidade de vida melhor do que algumas de 30 anos. O sedentarismo é, sem dúvida, um poderoso inimigo para quem deseja uma vida saudável.

O exercício físico é, com certeza, um grande aliado e pode prevenir e retardar este processo de envelhecimento. Assim sendo, os idosos devem se manter ativos visando principalmente: aumento da autonomia e sensação de bem-estar • aumento da força muscular • manutenção ou melhora da flexibilidade • maior coordenação motora e equilíbrio • maior sociabilidade • controle do peso corporal • diminuição da ansiedade e depressão • maior independência pessoal • ajuda no tratamento e prevenção de doenças, entre outros.

A velhice sempre é vista como um estádio de decadência física e mental. Ledo engano. Muitas pessoas que chegam a 65 anos ainda são completamente independentes e produtivas. Quem sabe as Confederações, com o apoio do COI, percebam que em poucos anos chegaremos a 15% de pessoas na terceira idade. Não seria oportuno pensar-se numa Olimpíada com atletas que tivessem como idade mínima 50 anos? Afirma-se que “Você não para de se exercitar porque fica velho... você fica velho porque para de se exercitar”.

Certamente, se efetivado o alvitre, teríamos um impulso inimaginável em segmentos diversos. Para satisfazer os “jovens” atletas surgiriam novos alimentos, indumentárias, meio de transporte, assessorias que não só permitiriam a prática esportiva, como também colaborariam para a descoberta de medicamentos que minimizariam os entraves decorrentes da idade. Cremos que outros veios seriam estimulados: hospedagem, recreação...

Utopia? A julgar pelo tempo que esperamos nas filas, hospitais e instituições de previdência, bem como com o milagre que operamos mensalmente, subvencionados pelo salário mínimo, para sobreviver “nababescamente”, julgamos que somos virtuais candidatos a algumas medalhas de ouro, em especial à da persistência. Defendemos a postura grega que, mesmo estando inseridos na faixa etária, exija-se, ao menos dos políticos, o atestado de ficha limpa. Quem sabe?

Jorge Moraes - jorgemoraes_pel@hotmail.com - agosto 2012

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 21/08/2012
Código do texto: T3841780
Classificação de conteúdo: seguro