CORINTHIANS 2X0 BOCA. EXEMPLO DE SERENIDADE E COMPETÊNCIA.
Gostaria de usar este espaço, onde o futebol e principalmente o Flamengo são assuntos tão recorrentes, para parabenizar o Sport Club Corinthians Paulista, que desfez na noite de quarta-feira, 04 de julho de 2012, possivelmente o tabu mais comentado do futebol brasileiro. Até então, nunca o clube paulista erguera a taça há muito já presente nos salões de Palmeiras, São Paulo, Santos e do próprio Flamengo, único a superá-lo em número de torcedores. Os corintianos, 13 anos após verem o Palmeiras tornar-se o terceiro grande clube de São Paulo a ostentar a cobiçada Libertadores, enfim puderam comemorar um título tão ou, talvez, mais significativo do que o Paulista de 1977. Agora, diriam os alvinegros, não há mais como tornar o Corinthians motivo de chacota.
A equipe, com exceção do mau-caráter Sheik (que não se chama Emerson e sim Márcio), mereceu cada átomo do troféu. Muitos dirão que o Corinthians praticou um futebol pusilânime, o que certamente será intriga da oposição. No horrendo esporte bretão moderno, é possível contar nos dedos os times que conseguem sufocar seu adversário com belo futebol. O espanhol Barcelona possivelmente é o único que o faz habilmente. O Boca Juniors tentou tal estratégia diante do Corinthians, mas para o azar argentino, Santiago Silva, Pablo Mouche e Darío Cvitanich não estão à altura de Andrés Iniesta, David Villa e Xavi Hernández. Não há como menosprezar a trajetória corintiana pela América. O título sul-americano está em boas mãos.
Mesmo que possa parecer dor-de-cotovelo de torcedor que não chegou lá, preciso fazer uma ressalva. Poderia ter sido o Flamengo. Realmente não é inveja ou despeito, apesar de soar assim. É apenas minha constatação se compararmos as equipes. A diferença, brutal, está no grau de coletividade e no comando técnico. O Joel Santana de hoje não tem um quarto da liderança e do respeito do professor Tite. Enquanto o homem da prancheta e do inglês dialetal esconde as deficiências rubro-negras atrás de frases feitas e de um inexistente carisma, o gaúcho criou um sólido padrão tático no Corinthians, com muita paciência e superação, pois o campeão de hoje começou a ser montado na vexatória derrota para o modesto Tolima, na pré-Libertadores de 2011. Já o Flamengo preferiu investir em um jogador precocemente aposentado, o Erra 10, demitir Luxemburgo quando técnico e atleta entraram em atrito, em uma estranha inversão de hierarquia e contratar um treinador de métodos claramente defasados para a disputa da Copa Libertadores e Campeonato Brasileiro.
O Corinthians não tem nenhum jogador infalível, mas conquistou a sua maior obsessão graças à seriedade, ao planejamento e ao respaldo dado à comissão técnica e aos atletas. Esses fatores levaram um time discreto, porém entrosado e fortíssimo defensivamente ao sucesso. O Flamengo, evidentemente, não conta com nenhum fora-de-série em seu elenco. O abismo entre o júbilo corintiano e a melancolia flamenguista reside no óbvio ululante: a imposição de um método confiável de trabalhar a equipe. Ao comparar Flamengo e Corinthians, gostaria de ver em Marllon/Wellinton e David González a mesma frieza e eficiência de Chicão e Leandro Castán; ao assistir à combatividade de Ralf e Paulinho, como eu queria que assim se portassem Renato Abreu e Ibson; as laterais alvinegras estão bem servidas com os polivalentes Alessandro e Fábio Santos; infelizmente, o mesmo não se pode dizer do lado esquerdo rubro-negro, com o inconstante Magal. No ataque, o bom Vágner Love não tem o mesmo apoio do Sheik estelionatário. E com relação ao setor criativo, o promissor Adryan é jovem demais para ser comparado a Danilo e Alex.
Reafirmo meus parabéns à agremiação do Parque São Jorge. E espero, francamente, que a direção do clube da Gávea tome para si alguns dos exemplos já descritos. Já vimos, afinal de contas, que eles não são tão difíceis assim de serem aplicados.