AS PELADAS DE FUTEBOL
Muito se tem dito, não somente pela imprensa esportiva, que o Brasil é o país do futebol. Que os melhores craques foram forjados nas “várzeas”, nos campinhos humildes de interior e até nos fundos de quintais, chutando bolinhas de pano, de plástico ou outra matéria qualquer. Eu também partilhei dessas delícias do “futebol de várzeas”, aliás, mais tempo gastei assim, minha infância, com as “peladas” do que usando as camisas do clube predileto, ainda que, para tristeza de meu papai que presidia um clube e seus filhos se esbaldavam em outro, adversário do seu.
No meio desse mundo da bola, surgem os “peladeiros” e as “peladas”.
Afinal, o que vem a ser “peladas”? (Eu sempre entendi - nunca perguntei nem pesquisei - que “pelada” são os jogos de futebol amador empreendidos nessa modalidade esportiva, sem que os jogadores façam uso das regras normais da categoria, sem árbitro (juiz) para apitar o “racha” e sem os auxiliares das laterais do campo denominado de “bandeirinhas”, sendo tudo feito, inclusive a escalação dos jogadores, na última hora e ainda sem a cobrança de bilheteria como nas partidas de futebol – pois tudo é de graça!).
Há quem diga que “pelada” é “um jogo entre amigos” e que o “importante é competir” sem maldade, sem cobranças e sem pontapés.
Quantas “peladas” já se jogou (e se joga) ainda por esse Brasil afora!
Na chuva, com o sol escaldante, nos quintais, nos cantos de ruas, em terrenos baldios longe ou à beira de córregos e rios e até perto dos poucos espaços vazios sem se dar importância da existência de lixos no “pedaço”!
O gostoso é jogar, correr atrás da “jabulani” ou das “pepitas de couro”. (Estes e muitos outros nomes já se deu para a bola que rola nos gramados ou nos diversos lugares já citados!)
No inverno a “pelada” fica mais deliciosa ainda, porque o fôlego da gente triplica, independentemente de se praticar alongamentos ou exercícios físicos! Não dá nem vontade de parar! É uma delícia! Esquece-se de tudo, quando a “pelada” é prazerosa!
Mas, das “peladas” das quais participei nesta minha vida, a mais inusitada e que me causou extrema estranheza, foi quando participei de uma, no Distrito de Menino Jesus. Lá, dizia-se, “quanto mais gente em campo, mais atraente fica! Todo mundo pode jogar”. Com tremendo espanto, em meio ao “racha”, perguntei: “o que é isso? Já temos 52 em campo! Quando vai parar de entrar gente neste campo?” A resposta imediata veio: “é o costume aqui, quanto mais gente melhor!”
Era tanta gente que não se precisava formar barreira, pois a quantidade de participantes já se constituía num muro intransponível! Qualquer chute para a frente já se deparava com a volta imediata da bola ao campo de origem: ela batia nas costas de um, nas pernas ou cabeça de outro, pois não encontrava espaço para prosseguir, por causa de tanta gente a sua frente! Que barato! Que baita “pelada” de 52 participantes! ...
Muniz Freire, 09 de janeiro de 2011.
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