RUBINHO, DESISTIR TAMBÉM É UMA OPÇÃO

Rubens Barrichello disputará neste final de semana mais um GP Brasil de Fórmula 1. Que pode também ser o último. Rubinho porém não admite esta possibilidade. Com chances remotíssimas de permanecer na Williams, continua procurando um cockpit para 2012. Talvez consiga, nem que seja para fazer número no grid. Próximo de completar 40 anos, Rubinho poderia aproveitar a oportunidade e se despedir da F1 na frente de sua torcida. Seria uma grande festa e uma homenagem a um piloto eternamente contestado, mas que sempre teve seus admiradores. Analisando-se a longa carreira de Barrichello, talvez se encontrem explicações para essa divisão de opiniões. Multi-campeão no kart, campeão da F-Opel aos 18 anos e da F-3 inglesa aos 19, não foi surpresa que chegasse à Fórmula 1 com apenas 20 anos. Antes mesmo de sua estreia na categoria top do automobilismo já era saudado como a grande promessa do Brasil na F1. Após uma excelente apresentação no GP da Europa de 93 debaixo de muita chuva, quando chegou a estar em 2º lugar com a modesta Jordan, não faltou quem previsse que o garoto seria campeão mundial em breve (guardem esse nome, bradou Galvão Bueno na transmissão da corrida). As coisas, porém, não seguiram conforme o previsto. O acidente em Ímola, a morte de Senna, a pressão da torcida e da imprensa, a insistência em permanecer na Jordan quando tinha ofertas melhores, os erros em pista, tudo contribuiu para que os bons resultados se tornassem cada vez mais raros. Aos poucos “a promessa brasileira”, o “sucessor de Senna” foi se transformando no “pé-de-chinelo”, no “burrinho Barrichello”. A redenção poderia ter vindo com sua ida para a Ferrari. Mas aqueles que achavam que Rubinho, a bordo de um carro competitivo em que poderia mostrar aquele talento do início da carreira, finalmente deixaria de ser uma eterna promessa para se tornar um campeão, ficaram decepcionados. Em outros tempos as justificativas eram os carros medíocres. Mas, e na Ferrari? Em 6 temporadas pilotando os carros de Maranello, Barrichello venceu 9 GP’s. Schumacher, 72. Em número de poles, 58x11 para Schummy. Mesmo considerando as eventuais (e justificadas) regalias que o alemão tinha na equipe, a diferença de performance foi muito grande. O que teria acontecido? Não faltaram teorias conspiratórias, como a que dizia que seu contrato o impedia de vencer! Na verdade, depois de 2 ou 3 títulos seguidos de Schumacher, a Ferrari ficaria muito satisfeita se Rubinho ganhasse um campeonato. Isso mostraria que a equipe faz seus campeões e não o contrário. Afinal, para os tiffosi, o time sempre foi mais importante que os pilotos. Talvez a explicação seja mais simples: ganhando um excepcional salário, pilotando para uma equipe legendária e ainda tendo chances de “beliscar” algumas vitórias, Rubinho se acomodou e não ousou questionar seu papel de segundo piloto. Sem problemas. Ele não devia satisfações a ninguém. Exceto para milhares de brasileiros, fãs de F1, que achavam que um dia ele viraria a mesa. Estranhamente, tempos depois de sair da Ferrari, ele resolveu falar. E falou mal. Criticou seu ex-companheiro de equipe e a própria Ferrari, principalmente o chamado “jogo de equipe” que ele fazia tão bem. Parece que todos tiveram sua parcela de culpa por ele não ter sido campeão. Menos ele. Mas o destino ainda daria outra chance a Barrichello. E que chance! Em 2009, foi chamado por Ross Brawn, que adquirira o espólio da Honda, agora rebatizada de Brawn GP. Já nos primeiros testes o carro se mostrou rápido e confiável. Em 3 meses, Rubinho passou de aposentado a favorito ao título. Dispondo de uma excelente máquina, sem Schumacher para atrapalhar, mais experiente e tendo como companheiro de equipe a eterna promessa Jenson Button, tudo indicava que finalmente ele iria chegar lá. Mas não chegou. Button não lhe deu chance. Das 7 primeiras provas, venceu 6. E Barrichello perdeu a última oportunidade de se tornar o quarto brasileiro a ser campeão mundial. Pelo menos dessa vez ninguém tentou achar um “culpado”. Button venceu porque foi mais consistente a maior parte do tempo e mereceu o título. Mesmo assim, com todos os percalços, críticas e chacotas, Barrichello está na história da Fórmula 1. É o atual recordista de participações em corridas. E ninguém disputa 325 GP’s e se mantém por 19 anos na F1 se não tiver um mínimo de competência. Mesmo alguns críticos mais ferrenhos reconhecem nele algumas qualidades. Como o talento para pilotar na chuva. Ou a habilidade no acerto dos carros. Coisas que jornalistas estrangeiros sempre realçaram. Mas para a maioria da torcida brasileira, talvez prevaleça a imagem do piloto chorão, perdedor, azarado, capaz de levar a novata Stewart ao 2º lugar em Mônaco debaixo de um dilúvio em 1997 e incapaz de conseguir mais do que um 3º lugar em 18 GP’s do Brasil. No máximo um acomodado segundo piloto. Como Coulthard, Berger, Patrese. Às vésperas de completar seu GP de número 326, ele parece não ter perdido a vontade de pilotar um carro a 300km/h. Mas isto não é suficiente. Até alguns colegas de pista acham que chegou a hora de parar. E certamente a corrida de domingo seria a ocasião ideal para uma despedida. Uma maneira honrosa de deixar a F1. Antes que a F1 não o queira mais.