Um direito incomum

Para quem fez o curso de Direito, deve se lembrar o que estudou em Direito Constitucional sobre a garantia à liberdade assegurada aos cidadãos brasileiros (art. 5º, ii, da CF); ou seja: ‘ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei’.

Pois é. Um postulado de direito reservado à pessoa humana que muitas vezes acaba ficando despercebido, já que se constitui em algo indeclinável na vida das pessoas, visto que ninguém abre mão de usufruir da sua liberdade de decidir sobre algo que lhe diz respeito.

Nós, como cidadãos livres podemos escolher nossa profissão, nosso credo, nossas opções sociais, nossos moldes de convivência civil, enfim, temos um leque de possibilidades que podemos abraçar em nossa vida cotidiana. Só não podemos escolher a bandidagem, porque a Constituição estabelece um limite para essa liberdade. Não temos o direito de praticar ato omisso ou comissivo que esteja ferindo a nossa lei ordinária. Assim, roubar, por exemplo, está previsto no Código Penal (art. 157) como um ato contrário à lei.

A reflexão supra se deve ao fato de ter lido a notícia, nesta segunda=feira, de que o atleta Mário Fernandes, lateral direito, de 20 anos, do Grêmio porto-alegrense, não aceitou o convite de Mano Menezes para integrar o elenco da seleção brasileira que vai enfrentar nossos rivais Argentinos nesta quarta-feira que vem.

A notícia vem como uma bomba, para nós, que estamos acostumados a ver as pessoas se apegarem como náufragos às oportunidades que a vida nos oferece. No caso do futebol, esse quadro se multiplica, haja vista que as oportunidades são efêmeras e raríssimas, até porque ser reconhecido com uma convocação desse norte implica o ápice para o ideal de um jogador de futebol.

Não se trata, pois, de uma decisão comum. Estamos falando de coisa rara. A história demonstra que somente alguns casos raríssimos ilustram a negativa para atender a um convocado do técnico da seleção brasileira. Mesmo assim, são de jogadores que um dia já pertenceram ao quadro de jogadores do selecionado, mas que, por alguma razão particular, acabaram abdicando da convocação por conta de episódios negativos vivenciados num passado remoto dentro do próprio excrete canarinho.

Diante dessa decisão, com conteúdo bizarro, ficamos a indagar sobre a razão desse jogador se recusar a servir a seleção brasileira, já que os noticiários não esclarecem nenhuma motivação para tanto. O jogador simplesmente não quis embarcar para Belém do Pará. Não explicou suas razões para não querer fazer parte do elenco milionário do selecionado brasileiro. Sente-se no direito de negar-se a fazer o papel de coadjuvante.

Entretanto, por outro lado, verifica-se nessa atitude um aceno para o lado lúdico da vida, quando as pessoas optam por serem felizes ao invés de ficar presas às amarras do compromisso, com os quais não se sentem à vontade. Ora, se o menino não quer jogar na seleção brasileira, temos de tratá-lo com respeito. Primeiro, porque ele está sendo honesto conosco, já que não iria corresponder com nossas expectativas. Quem não está feliz num lugar não pode fazer bom trabalho. Segundo, porque demonstra que nem sempre o estrelismo é o melhor caminho para se alcançar o sucesso. É o caminho mais curto, mas, talvez não seja o mais eficaz, ou, o mais acertado para a alma da pessoa.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 26/09/2011
Código do texto: T3242004