Sobre a importância do futebol 2
O papel educativo do futebol é ainda mais importante que o econômico, embora, provavelmente, menos valorizado. Sua importância cresce quando percebemos sua penetração nos meios populares e nos infantis, ambos necessitados de informações básicas.
Apesar disso, em virtude do fato de o futebol estar quase sempre ligado a alguns dos piores meios da sociedade,devido em parte à possibilidade propiciada pelo esporte de lavagem de dinheiro, seu papel educativo tem funcionado na direção contrária à esperada. Assim, durante sua estada no Japão, Zico teve que se empenhar muitíssimo, e suar a camisa, para convencer os japoneses a tentar burlar as regras. O craque costumava contar, estupefato, que seus colegas de time, absurdamente, se negavam a descumprir as regras, a reduzir a distância da barreira até medidas impróprias, a burlar o juiz, a mentir para ele, a ludibriar arbitragens e regras. O jogador teve que se empenhar muito para convencer os japoneses a agir de forma vil, mas o fez convicto de que estava a fazer o correto, ensinando os japoneses a se comportar em campo.
De fato a ética futebolística impõe a burla, o logro. O jogador deve tentar usar recursos vis e negar torpemente que o faz.
De acordo com a ética futebolística imperante, essa malandragem enaltecida por virtualmente todas as pessoas do meio só deve ser suplantada por questão mais séria, a do “respeito”. Anos atrás um jogador agrediu o outro em campo por fazer embaixadinhas durante a partida. A agressão poderia ter sido vista como um descontrole emocional gravíssimo devido à insanidade, não foi. A maioria concordou com a ação, baseada em considerações éticas. Supostamente, ao fazer embaixadas, o jogador desrespeitava os adversários e deveria ser punido, sob essa óptica a agressão era justificada, o infrator era o que chutava a bola.
Vale notar que a federação internacional, a FIFA, é uma instituição eminentemente corrupta que endossa esse modo de agir e pensar, o que favorece o seu poder. Em nome de um suposto conservadorismo, a FIFA tenta impedir a melhoria da arbitragem com o uso de recursos tecnológicos. Tais recursos, inexoravelmente reduziriam a corrupção e o poder da federação, sendo, portanto, excluídos dos jogos.
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Embora as contingências apresentem uma situação lastimavelmente corrupta no meio futebolístico, isso pode ser mudado com muita rapidez, bastando para isso a conscientização de alguns.
Alterações nessas diretrizes propiciariam ao futebol um papel educativo extraordinário no qual as crianças, e a população em geral, poderiam aprender o respeito aos colegas, aos adversários, às regras, e a tudo o que circunda e envolve o emocionante jogo. Aprenderiam também a participar de equipes, a jogar em times, de uma forma lúdica, estimulante e alegre que facilitaria extremamente a disseminação do aprendizado.