Está na hora dos pênaltis acabarem!

Está na hora dos pênaltis acabarem!

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Eu, como muitos brasileiros e inúmeros outros humanos no planeta, sou apaixonado por futebol. Em contra partida, eu não vejo graça nenhuma no basquetebol, entretanto tenho que concordar com o fato de que no basquete os resultados, se não são mais justos, pelo menos são mais honestos e independem menos da sorte do que no futebol. Há até quem já tenha dito que “no basquete não existe zebra”, pois “o melhor sempre vence”. Não vou aqui entrar no mérito da afirmativa, mas parece que ela é e fato verdadeira, ou, pelo menos, no basquetebol a zebra é muito rara. Aproveitando para fazer um trocadilho, como se diz mais modernamente, assim como muitos outros animais do planeta, no basquetebol a zebra também está muito próxima da extinção. Embora neste caso específico a extinção da zebra seja uma atitude benéfica.

No jogo de basquete o empate é um resultado que nunca pode existir. No basquete sempre há um vencedor. Desculpem pela repetição, mas é preciso ficar claro. Sempre há um vencedor no jogo. Isto é, não existe nenhuma maneira de decidir o jogo que não seja jogando e alguém tem que ganhar o jogo, que é ampliado em 5 minutos de seu tempo cada vez que termine em empate, até que, por fim, alguém obtenha vantagem no resultado após os cinco minutos concluídos. Não há cobranças de lances livres para definir resultados, ao contrário há jogo de basquete, até que alguém vença. Isso é muito legal! Embora, como eu já disse, não gosto de basquete, entretanto acho esse aspecto simplesmente fantástico. Genial mesmo! Uma grande sacada dos inventores das regras do basquetebol.

Bem, mas voltemos ao esporte que é a “paixão nacional” e que é o esporte mais praticado, visto, ouvido, discutido e amado no mundo inteiro, o nosso querido futebol. Como já disse, sou fã incondicional do futebol, embora eu penso que esse esporte já tenha sido melhor e mais interessante no passado. Naqueles tempos em que fazer gol era uma obrigação dos times e os jogos terminavam em grandes goleadas, tanto para quem perdia, quanto par quem ganhava e principalmente para os torcedores que viam muitos gols, pois os resultados eram 8 X 3, 7 X 5, 6 X 4, mesmo os empates eram do tipo 4 X 4 e coisas do gênero. O resultado de 0 X 0, embora ocorresse, era raríssimo.

Hoje em dia, os dois times entram em campo, um com medo do outro, da seguinte maneira: um entra pensando apenas em não perder de muito e o outro entra pensando em perder de pouco. No fim, o resultado é aquele 0 X 0 ou ocasionalmente aquele time que foi mais fiel a sua condição de não perder, o que entrou para não perder de muito, acaba fazendo um gol sem querer e ganha de 1 X 0. Alguém até já disse e foi um “técnico” desses famosos que: “o gol é apenas um detalhe”. Entretanto, como todo velho é saudosista, talvez eu esteja errado em pensar assim. Mas, deixemos isso de lado e votemos ao que quero efetivamente discutir.

No futebol, quando o jogo termina empatado, ele efetivamente termina empatado, o que é extremamente justo com ambos os times, tanto quando estão jogando mal ou quando estão jogando bem. Além disso, o empate é uma forma de beneficiar e de punir os dois ao mesmo tempo com uma contagem de pontos equivalente a metade dos pontos da partida par ambos. Isso também já mudou e a meu ver para pior, pois infelizmente, na contagem atual, o empate hoje acaba valendo menos que a derrota. Vide artigo anterior, aqui mesmo no site do Recanto das Letras. (Ponto de Vista: Um grande erro no “novo modelo” de pontuação do futebol, publicado em 08/12/2010).

Sou a favor do empate como um resultado que pode acontecer e que às vezes realmente acontece numa ou mais partidas dentro de uma competição futebolística. Entretanto, o empate não pode existir num jogo decisivo, em que um dos competidores tem que necessariamente ser eliminado. Por conta disso, várias coisas já foram tentadas para definir um vencedor:

1 - Prorrogação com dois tempos de 15 minutos. Se o empate persistir serão cobrados pênaltis em série alternada de 5 para cada time e depois um a um alternadamente, até que haja um vencedor da cobrança de pênaltis, que será declarado vencedor da partida.

2 - Prorrogação com Morte Súbita. Prorrogação até que alguém faça um gol e aí o jogo automaticamente acaba no exato instante do gol, sem que o adversário possa ter chance de tentar reagir.

3 – Cobrança de Pênaltis sem Prorrogação. Cobrança de Pênaltis em série alternada de 5 para cada time e depois um a um alternadamente, até que haja um vencedor nas cobranças de pênaltis, que será declarado vencedor da partida.

4 – Sorteio do Vencedor. Já houve até mesmo decisão na moeda. É isso mesmo, no cara ou coroa e aqui no Brasil já houve até título nacional cujo vencedor foi decidido no cara ou coroa.

Porém, no futebol, até aqui nunca se fez como no Basquete, isto é, prorrogações sucessivas até que haja efetivamente um vencedor do jogo. Caramba, o futebol é para ser jogado e disputado e não para ser uma loteria. Por mais técnica que se possa aplicar na cobrança de pênaltis, a sorte é sempre o principal fator na decisão. Como eu disse o início, nenhum resultado futebolístico tem que ter necessariamente justiça, mas ele deve, pelo menos, ser honesto e real, alcançado com mérito e talvez até com sorte, mas não por obra exclusiva do acaso, isto é, da sorte.

Está na hora de reavaliar melhor essa tal disputa em pênaltis que é o que mais tem acontecido e ver que ela é um mau negócio, que às vezes entrega títulos não merecidos, sem a chance da disputa até o final para aquele time que perde a competição. Por exemplo, nesse momento, no Rio de Janeiro, vimos um campeão, o Flamengo, que não ganhou nenhum jogo decisivo importante e levou 3 taças (troféus). Campeão da Taça Guanabara, empatando e eliminando nos pênaltis o Botafogo; Campeão da Taça Rio, empatando e eliminando o Fluminense e o Vasco e Campeão Carioca sem ganhar de ninguém. Ora, isso é lamentável. Por favor, não me entendam mal, não tenho nada contra o Flamengo, que ganhou com todo o direito, mas esse critério é um absurdo. E penso que nem mesmo o Flamengo acha que isso seja bom para o futebol.

O exemplo do basquete é interessante e pode ser utilizado nos jogos decisivos. Ou seja, jogo decisivo tem que ter um vencedor em campo de jogo e para isso haverá tantas prorrogações quantas tiverem que haver, até que haja um vencedor. Imaginem como será mais intrigante se de antemão os jogadores, os técnicos, as comissões técnicas e mesmo as torcidas dos times souberem que deverão disputar uma partida até que haja um vencedor do jogo, em campo, correndo atrás da bola. Os gols necessariamente terão que sair de jogadas de futebol que deverão ocorrer dentro do campo e durante a partida. Não tenho dúvidas de que a competição será mais atraente para todos os envolvidos.

Certamente, com isso as decisões do futebol poderão ser espetáculos muito mais interessantes e emocionantes, onde o jogo terá que ser jogado com mais vontade, pois táticas de jogo, as condições técnicas e principalmente físicas dos atletas farão grande diferença no resultado da partida. Não há como mudar a interferência da sorte, que logicamente continuará sendo um fator presente em qualquer competição, entretanto o seu peso e seus efeitos serão bem menores e os resultados dos jogos decisivos tenderão a ser mais honestos e mais coerentes com a situação efetiva dos times envolvidos.

Alguns vão me chamar e louco, mas tenho certeza de que não sou o único louco no mundo e penso que está efetivamente na hora dos pênaltis acabarem. Além de tudo, quero ressaltar que esse fato também será muito benéfico à saúde dos torcedores e assim socialmente mais correto, haja vista que muita gente com problemas cardíacos não pode e nem consegue assistir disputas de pênaltis, devido a tensão que podem causar ao indivíduo humano. Há vários registros de ataques cardíacos, inclusive com óbitos, em momentos de disputas de pênaltis. Em suma, pênalti não é bom e deve acabar, salvo melhor juízo.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (55) é Professor e amante do “Bom Futebol”,

Membro da Academia Caçapavense de Letras.