No dia 14/02/2011 Ronaldo decidiu tomar a decisão mais difícil e mais doída de sua vida. De livre e espontânea vontade deliberou morrer, morrer um pouco. Penso que ele achava que morreria um pouco, mal sabia ele, que morreria muito, bem mais do que pretendia.
Ele decidiu que havia de passar por uma porta que nunca quisera passar antes, porque sabia que o dia que a atravessasse, ela fechar-se-ia atrás dele e o mudaria para todo o sempre, porque teria ele, a partir de então, de ter que enterrar em algum lugar, os grandes sonhos que cultivou e que teria que carregar para sempre, o caixão indesejável e amargo de muitas de suas ilusões.
Agora, mesmo se ele sorrir, mesmo se ele descobrir novas portas, novos sonhos, nunca poderá olvidar a lembrança da dor de ter passado por esta experiência. Porque quando passamos por esta porta, nos transformamos não necessariamente num ser melhor, não necessariamente num ser mais feliz, não necessariamente maior. A dor da perda, neste caso, não nos engrandece, apenas nos emudece e nos silencia. Ronaldo provavelmente não se sente um herói por fazê-lo, nem corajoso, talvez sinta-se assustado e cheio de medos. Talvez se sinta desamparado, sem brilho e muito possivelmente, derrotado. Tudo indica, que o seu primeiro encontro, consigo mesmo, no espelho da realidade, parece ter sido mais trágico e bem mais difícil, do que ele imaginara. Todavia não há como culpá-lo.
Ao tomar a decisão de parar com o futebol, ele teve de abolir de repente, o universo mitológico que marcou sua vida de jogador nos últimos 17 anos. Olhando sua expressão dias depois, vejo-o desolado, como um pai, que teve de enterrar seu próprio filho, dentro de si mesmo para não mais poder olhá-lo. Tenho a impressão de que por um largo tempo, todas as vezes que a imagem do jogador vier à sua mente, a lembrança será de dor e consternação e não de júbilo pelo que realizou.
Creio que ele descobriu, se é que já não sabia, que o jogador era bem maior do que ele próprio. Que suas fantasias, que também eram as fantasias de tantas pessoas que admiravam o jogador, eram muito melhores que a realidade do homem, sua no caso e talvez de todos que no jogador projetaram as suas. Estes outros, sim estão sofrendo, caladamente, com sua decisão.
Só Deus saberá o peso que andou sobre os seus pés mágicos no momento da decisão. Só Deus saberá o desgoverno do seu espírito na hora em que resolveu se despir da máscara que sua alma usou nestes 17 anos de carreira e que o cobriu de glórias e alegrias. Os tropeços só serviram para engrandecê-lo ainda mais, aos nossos olhos. Sai o jogador de campo, entra o homem. Este bem menos glamuroso.
À torcida, creio, por sua humildade e forma de ser, que só Deus poderá dizer o quanto é grato por seu amor. O quanto ele está triste por perder esta ligação lúdica que tinha com ela, nada precisa ser dito, pois está escrito em seus olhos. Seus olhos distantes nos dão a certeza de que ele sabe, melhor que ninguém, de que tudo agora se transformará em saudade, memórias e melancolia.
Atrevo-me a pensar que se ele, o atleta, ainda tem um sonho, penso que seria de permanecer no coração dos que lhe amaram, não apenas em suas retinas.
Mas cabe a nós felicitá-lo, por ter nos dado tantas alegrias e alimentado tantos sonhos e se alguma certeza nos resta nesta vida, concluímos, sem que isto seja confortador, de que tinha que ser assim, porque esta, afinal, é essência do ser. Caminhar para frente, mesmo que às vezes, sobre os cacos dos sonhos, mesmo no escuro da dor, para o crescimento necessário da alma. Afinal, as portas se fecham, as portas se abrem, porque desta maneira é o mecanismo da vida.
Não há contudo nada pior do que a despedida, quando não se quer partir. Quando o coração fica onde estávamos e se recusa a seguir com a gente nas novas investidas. As lágrimas são as perversas testemunhas destes momentos. Como acontece com todos, deve ter acontecido com o menino que a pequena Bento Ribeiro revelou para o mundo. O problema é que elas não aliviam e nem curam.
Adeus Ronaldo. Um verdadeiro ídolo de todos o que amam o futebol e a arte de jogar bola!
Ele decidiu que havia de passar por uma porta que nunca quisera passar antes, porque sabia que o dia que a atravessasse, ela fechar-se-ia atrás dele e o mudaria para todo o sempre, porque teria ele, a partir de então, de ter que enterrar em algum lugar, os grandes sonhos que cultivou e que teria que carregar para sempre, o caixão indesejável e amargo de muitas de suas ilusões.
Agora, mesmo se ele sorrir, mesmo se ele descobrir novas portas, novos sonhos, nunca poderá olvidar a lembrança da dor de ter passado por esta experiência. Porque quando passamos por esta porta, nos transformamos não necessariamente num ser melhor, não necessariamente num ser mais feliz, não necessariamente maior. A dor da perda, neste caso, não nos engrandece, apenas nos emudece e nos silencia. Ronaldo provavelmente não se sente um herói por fazê-lo, nem corajoso, talvez sinta-se assustado e cheio de medos. Talvez se sinta desamparado, sem brilho e muito possivelmente, derrotado. Tudo indica, que o seu primeiro encontro, consigo mesmo, no espelho da realidade, parece ter sido mais trágico e bem mais difícil, do que ele imaginara. Todavia não há como culpá-lo.
Ao tomar a decisão de parar com o futebol, ele teve de abolir de repente, o universo mitológico que marcou sua vida de jogador nos últimos 17 anos. Olhando sua expressão dias depois, vejo-o desolado, como um pai, que teve de enterrar seu próprio filho, dentro de si mesmo para não mais poder olhá-lo. Tenho a impressão de que por um largo tempo, todas as vezes que a imagem do jogador vier à sua mente, a lembrança será de dor e consternação e não de júbilo pelo que realizou.
Creio que ele descobriu, se é que já não sabia, que o jogador era bem maior do que ele próprio. Que suas fantasias, que também eram as fantasias de tantas pessoas que admiravam o jogador, eram muito melhores que a realidade do homem, sua no caso e talvez de todos que no jogador projetaram as suas. Estes outros, sim estão sofrendo, caladamente, com sua decisão.
Só Deus saberá o peso que andou sobre os seus pés mágicos no momento da decisão. Só Deus saberá o desgoverno do seu espírito na hora em que resolveu se despir da máscara que sua alma usou nestes 17 anos de carreira e que o cobriu de glórias e alegrias. Os tropeços só serviram para engrandecê-lo ainda mais, aos nossos olhos. Sai o jogador de campo, entra o homem. Este bem menos glamuroso.
À torcida, creio, por sua humildade e forma de ser, que só Deus poderá dizer o quanto é grato por seu amor. O quanto ele está triste por perder esta ligação lúdica que tinha com ela, nada precisa ser dito, pois está escrito em seus olhos. Seus olhos distantes nos dão a certeza de que ele sabe, melhor que ninguém, de que tudo agora se transformará em saudade, memórias e melancolia.
Atrevo-me a pensar que se ele, o atleta, ainda tem um sonho, penso que seria de permanecer no coração dos que lhe amaram, não apenas em suas retinas.
Mas cabe a nós felicitá-lo, por ter nos dado tantas alegrias e alimentado tantos sonhos e se alguma certeza nos resta nesta vida, concluímos, sem que isto seja confortador, de que tinha que ser assim, porque esta, afinal, é essência do ser. Caminhar para frente, mesmo que às vezes, sobre os cacos dos sonhos, mesmo no escuro da dor, para o crescimento necessário da alma. Afinal, as portas se fecham, as portas se abrem, porque desta maneira é o mecanismo da vida.
Não há contudo nada pior do que a despedida, quando não se quer partir. Quando o coração fica onde estávamos e se recusa a seguir com a gente nas novas investidas. As lágrimas são as perversas testemunhas destes momentos. Como acontece com todos, deve ter acontecido com o menino que a pequena Bento Ribeiro revelou para o mundo. O problema é que elas não aliviam e nem curam.
Adeus Ronaldo. Um verdadeiro ídolo de todos o que amam o futebol e a arte de jogar bola!