O FENÔMENO
FENÔMENO é ver um professor ser surrado em sala de aula, ganhar pouco, ter mais de dois empregos se quiser sobreviver e, mesmo assim, acreditar que só pela educação mudaremos o país.
FENÔMENO é quem chega às quatro horas da manhã e enfrenta a fila do SUS para quando chegar a sua vez ouvir do atendente: “o médico não veio”.
FENÔMENO é quem sustenta uma família de dez filhos com um salário baixo e vê os filhos estudando, respeitando os semelhantes, distantes da maconha, da cocaína e das galeras e gangs do mal;
FENÔMENO é quem paga tanto imposto e recebe tão pouco do poder público em termos de saúde e educação e, mesmo assim, não trapaceia, nem frauda, nem trafica;
FENÔMENO é quem é preso injustamente e quando sai da cadeia inocentado recomeça tudo de novo, como se nada tivesse acontecido, embora por dentro seja um morto-vivo.
FENÔMENO é quem vive num país como o nosso em que polícia e bandido se misturam num só;
FENÔMENO é quem sai de casa às 5 horas da manhã, pega duas ou três conduções, chega em casa às dez e, no dia seguinte, recomeçar tudo de novo... Para manter a família.
FENÔMENO é quem convive num país cujas cadeias vivem superlotadas de gente pobre, enquanto os ricos estão lá fora roubando com o beneplácito das leis anacrônicas.
FENÔMENO é quem cata lixo nos lixões das periferias das grandes cidades, disputando espaço com os urubus, insetos e bactérias, mesmo sabendo que o SUS é mais SUSto do que assistência;
FENÔMENO é quem agüenta, pacientemente, as propaladas reformas políticas, na tributação e no código penal caduco que nos aprisionam mais do que nos libertam.
FENÔMENO é quem sai de casa todo dia enfrentando o trânsito caótico (carros, ônibus lotado, pedintes, carroças de burro, bicicletas, carros- de-mão, vendedores ambulantes, flanelinhas, triciclos, panfleteiros), uma polícia despreparada nas ruas, balas perdidas se misturando com balas achadas, ruas esburacadas... e ainda se ilude com seu time de futebol, urrando pelo Ronaldinho, O FENÔMENO!