RONALDINHO – UM SEMI-DEUS.

 

O episódio Ronaldinho me parece surrealista. Custou-me acreditar no que a impressa noticiou acerca da “fico-não-fico” dele em relação quem desse mais pelo seu passe de jogador de futebol. Grêmio? Flamengo? Outro? Ele se fez de “doce” o quanto pode. Nada contra ele, pois ele só fez isto em função da forma como o futebol acontece em nosso país. Jogadores ganhando fortunas e abusando da condição de ídolos (de pano, mas ídolos) para dar maus exemplos como outros que ja tivemos noticias. A bem da verdade Ronaldinho tem se mantido na dele e me parece gente do bem, mas esta não tem sido a regra aplicável a boa parte desses ídolos.O que estamos avocando aqui é a questão  da idolatria, da falta de compreensão de muitos torcedores que transformam uma simples atrela em ÍDOLO, mais que ídolo em “deus”. No dia em que o país reunir tanta gente pra defender a educação e a saúde como reuniu para ovacionar Ronaldinho, nesse dia eu aplaudirei de pé. Certamente nossa cidadania estaria resgatada. Por enquanto, a gente vai se contentando com as nóticas que mostram professores sendo esbofeteados e jogadores sendo endeusados, não ncessariamente nesta mesma desordem.

"Pode ser o país de quem quiser mas não é, com certeza, o meu país” – trecho da música  de Zé Ramalho descrita abaixo. Essa letra me levou e completar do meu jeito:  

 

EU COMPLETO:

                      Carlos Sena

 

Um país que endeusa um jogador

E muitos jovens esbofeteiam professor

Um país que como dizem é “Ó”

Em vez de pão dá ao povo jogo de futilbol.

 

Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país (Zé Ramalho)

 

Um país que com um atleta se encanta

Imitando o bezerro de ouro que Moisés exterminou

Um país que ainda bate em professor

Idolatra sem sentido um atleta jogador

 

Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país (Zé Ramalho)

 

Um país que ronalda naufraga na onda e

que o gol da violência sempre marca

que criança desidrata

que a fome sempre reata

que a cidadania vira vento:

ventania da idolatria barata que chuta a bola,

que chuta a cola

que vive de araque

que convive com o craque cuja mãe é heroína

cocaína atrevida

em cada beco

em toda boca

em cada rapaz

em cada moça

fina bossa de um país de bolor

rima porbre de país que ainda bate em professor.

 

Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país (Zé Ramalho)

 

 

 

O Meu País

 

Zé Ramalho

 

Composição: Livardo Alves - Orlando Tejo - Gilvan Chaves

 

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

 

Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram - se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país

 

Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país

Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do carnaval
Mas não é com certeza o meu país

 

Um país que seus índios discrimina
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio - x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é com certeza o meu país

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que é doente e não se cura
Quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o brasil em mil brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta
Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país

 

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo