Ponto de Vista: Um grande erro no “novo modelo” de pontuação do futebol

Ponto de Vista: Um grande erro no “novo modelo” de pontuação do futebol

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Afinal de contas, quantos pontos estão em disputa em cada partida de futebol atualmente? São 3, 2, 1 ou 0 pontos? A resposta correta a essa pergunta, embora pareça ser muito estranha, é a seguinte: depende do resultado. Há de se convir que isso é, no mínimo, uma incoerência assumida, porque o número de pontos disputados deveria ser o mesmo em qualquer partida de futebol, independentemente do resultado final da mesma.

Na verdade, estamos diante de um quadro oficial anômalo e esdrúxulo que nos remete à seguinte situação nas competições futebolísticas: “a vitória não é apenas o melhor resultado, é algo mais que uma obrigação, porque é o único resultado que, de fato, interessa e tem valor; a derrota, embora ruim, é mais importante que o empate, porque não é contada na classificação final e por fim, o empate é algo pouco importante como resultado de uma partida, porque acaba valendo menos como resultado final do que a derrota, haja vista que, lamentavelmente, o empate não é considerado como o resultado parcialmente positivo, que deveria ser”.

Independentemente do empate, 0X0, 1X1, 2X2, 5X5 ou 10X10, este não vale quase nada, porque em certo sentido, acaba sendo considerado um resultado inferior à derrota, embora os gols e os demais detalhes da partida sejam mantidos para fins de todas as estatísticas do futebol. Em suma, embora o empate seja um resultado que não tenha valor em si, os acontecimentos que geram esse resultado considerado inferior continuam sendo válidos no universo de toda a documentação da competição. Ora, então, para fazer justiça ao futebol e a seus milhões de adeptos, sobretudo aqui no Brasil, o empate tem que voltar a ser valorizado como resultado possível nas competições futebolísticas.

É isso mesmo, no critério empregado no “novo modelo” de pontuação do futebol, em certo sentido, empatar vale menos do que perder, pois quem perde não ganha nenhum dos 3 pontos disputados, o que é óbvio, haja vista que o adversário ganhou esses pontos, porém o jogo valeu 3 pontos totais, que foram ganhos pelo vencedor, mas o empate vale apenas 2 pontos totais, 1 ponto para cada time. Desta forma, desaparece 1 ponto, dos 3 que deveriam estar em disputa. Quer dizer, há partidas de futebol que valem 3 pontos, aquelas que têm um vencedor e um perdedor, enquanto as partidas que terminam empatadas valem apenas 2 pontos e só se descobre isso após à partida, isto é, depois do resultado, até porque ninguém pode adivinhar o resultado antes do jogo. Quer dizer, só se sabe quantos pontos estão em disputa numa partida, somente depois do resultado. Muito estranho esse negócio.

Além disso, o número de derrotas não é um item considerado negativamente na contagem final, mas o número de empates acaba sendo. Desta maneira, em muitos casos é melhor perder do que empatar. Assim, o time que empata ganha 1 ponto dos 3 possíveis e seu adversário também. Isto é, cada time ganha 1 ponto e assim, volto a repetir, a partida valeu apenas 2 pontos e o empate acabou sendo prejudicial para os dois times envolvidos na disputa, haja vista que o empate é considerado como um critério mais negativo na contagem final. Isto acontece porque quem empata sempre deixa de ganhar (perde) 2 pontos, mas como a partida em questão só valeu 2 pontos, então ambos perderam o equivalente aos pontos totais da partida.

Vou dar alguns exemplos, para demonstrar o que estou tentando dizer. Tentarei demonstrar a injustiça, considerando o pouco valor dado ao empate, que deveria ser considerado um resultado superior a vitória e o significativo valor dado à derrota, que deveria ser considerado um resultado inferior ao empate, numa contagem final de pontos. Infelizmente, o que deveria ser não é. Desta forma, temos uma injustiça assumida e anunciada nas competições futebolísticas.

A – PRIMEIRO EXEMPLO

Um time “A” que disputou 10 partidas e que obteve 5 vitórias e 5 empates, embora invicto, somará 20 pontos e perderá na classificação final para um time “B” com 7 vitórias e 3 derrotas, que somará 21 pontos, ou para um time “C” com 6 vitórias, 2 derrotas e 2 empates, que também, somará 20 pontos, porque no “novo modelo” se considera que as 3 derrotas ou 2 derrotas e 2 empates, significam (valem) menos do que os 5 empates.

Observe que, nesse caso, na classificação final, time “C”, mesmo tendo apenas 2 derrotas, ficará atrás do time “B” que tem 3 derrotas e na frente do time “A” que não tem nenhuma derrota. Isso ocorre, exatamente porque os resultados de empate acabam sendo partidas inferiores (de menor valor) que as derrotas. Isso é, no mínimo, injusto.

B – SEGUNDO EXEMPLO

Mais absurdo ainda é se um time “D” tem 6 vitórias e 6 empates for comparado em relação a um time “E” que possui com 7 vitórias, 3 derrotas e 2 empates, ou a um time “F” que possui 7 vitórias, 4 derrotas e 1 empate. Veja bem, que assim o time “D” terá 24 pontos e seria o primeiro colocado, enquanto o time “E” terá 23 pontos e o time “F” terá 22 pontos, apesar de ambos (time “E” e time “F”) terem 7 vitórias. Nesse caso os 6 empates, embora não valham nada, parecem ser mais compensadores, no que se refere a contagem de pontos, do que as derrotas. Mas, não é bem assim, porque se houvesse outro time “G” com 8 vitórias e as mesmas 4 derrotas, esse também teria 24 pontos e seria o campeão, por ter duas vitórias a mais que o time “D”.

Ora, meus amigos, isso é muito incoerente e ilógico. Estamos tendo valores diferentes para coisas iguais e, o que é pior, estamos valorizando mais a derrota do que a não derrota, quando supervalorizamos a vitória e desvalorizamos o empate. O empate é uma não derrota e deveria ser mais significativo que a derrota na classificação final.

C – TERCEIRO EXEMPLO

Num outro exemplo, um time “H” com 9 vitórias e 6 empates tem 33 pontos, enquanto outro time “I”com 10 vitórias, 2 derrotas e 3 empates, terá os mesmos 33 pontos e estará na frente, apesar das duas derrotas que o outro não tem. Vejam bem, quanto mais aumenta o número de jogos, menos o empate vale, pois as derrotas são mascaradas pelas vitórias e os empates sempre representam 1 ponto a menos na contagem final e isso certamente faz muita diferença na totalização. Ora, esse negócio é muito complicado e, como já foi dito, além de ilógico, não é nada justo. O mais estranho é que nós estamos vivendo essa injustiça nas competições futebolísticas já faz algum tempo e por mais incrível que pareça, até aqui ninguém reclamou.

Num outro exemplo, um time “H” com 9 vitórias e 6 empates tem 33 pontos, enquanto outro time “I”com 10 vitórias, 2 derrotas e 3 empates, terá os mesmos 33 pontos e estará na frente, apesar das duas derrotas que o outro não tem. Vejam bem, quanto mais aumenta o número de jogos, menos o empate vale, pois as derrotas são mascaradas pelas vitórias e os empates sempre representam 1 ponto a menos na contagem final e isso certamente faz muita diferença na totalização. Ora, esse negócio é muito complicado e, como já foi dito, além de ilógico, não é nada justo.

Em suma, da maneira como está o resultado de empate não beneficia ninguém e infelizmente acaba prejudicando os dois times envolvidos, pois ambos deixam de ganhar 2 pontos, ou melhor, ganham 1 ponto, mas perdem 2. Na vitória o time vencedor ganha 3 e não perde nada e na derrota ele perde 3 e não ganha nada, mas a derrota não é considerada para fins da contagem final, porque ela é mascarada pelo número de vitórias que passou a ser um critério de desempate na classificação.

Porque ao invés do número maior de vitórias ser um critério de desempate, não se passou a utilizar o menor número de derrotas?

Vejam bem, na totalização dos pontos, necessariamente quem venceu mais e empatou menos, certamente também perdeu mais e não é justo obter vantagem nessa condição, embora seja exatamente isso o que acontece no “novo modelo” de contagem de pontos e classificação final. Isto é, beneficia-se a quem perdeu mais, em relação a quem empatou mais. É bom lembrar que quem empatou mais, esteve mais próximo da vitória do que quem perdeu mais, porque o empate é uma não derrota e assim, obviamente, está mais próximo da vitória.

No passado a vitória valia 2 pontos, o empate 1 ponto e a derrota 0 ponto e não havia injustiça, porque todas as partidas valiam a mesma coisa, ou seja 2 pontos. Quem ganhava ficava com os 2 pontos, quem perdia não ganhava nada e quando a partida empatava cada time ganhava 1 ponto, o que totalizava os 2 pontos ganhos, ou seja o efetivo valor de pontos da partida. Todas as partidas valiam os mesmos 2 pontos. Agora, como já foi dito, as partidas de futebol têm pontuação total diferente, algumas valem 3 pontos e outras valem 2 pontos, dependendo do resultado.

Para fazer justiça novamente ao futebol, temos que fazer o resultado de empate também valer os mesmos 3 pontos da vitória e da derrota. Pelo que vejo, só existem duas maneiras de fazer isso:

a - O empate valerá 1,5 pontos para cada time, o que equivaleria ao “antigo modelo”, onde cada time ganharia a metade dos pontos disputados em caso de empate.

b – O empate valerá 2 pontos para um time e 1 ponto para o outro. Essa situação criará um novo problema: como definir quem fica com 2 pontos e quem fica com 1 ponto?

Talvez uma solução muito simples para resolver o impasse da segunda hipótese seja considerar o mando de campo. Em qualquer empate o time que detém o mando de campo ganha 1 ponto e o time visitante ganha 2 pontos. Particularmente, eu gosto muito dessa idéia e vou dizer claramente o que me leva a gostar dela.

Penso que essa situação traria mais uma complexidade às competições e acredito que isso seria bastante salutar aos interesses do futebol e da sua competitividade. A falácia do empate fora de casa ser um bom resultado realmente passaria a ser verdadeira. Dessa maneira, além de fazer justiça matemática, faz-se também justiça ao empate que, sendo uma não derrota, é um resultado melhor que a derrota, ou pelo menos a lógica diz que deveria ser e ainda por cima, o time que empatasse no campo do outro passaria a ter alguma vantagem numérica.

Em suma, quem vencer mais e quem empatar mais deve ter prioridade sobre quem perder mais. Quem empatar mais no campo do outro deve ter alguma vantagem. Acredito piamente que temos que valorizar o empate, como resultado parcialmente positivo, principalmente para quem joga fora de casa (no mando de campo do adversário). É fundamental que se transforme isso numa realidade para por justiça na contagem final dos pontos das partidas.

Gostaria que alguém que fosse especialista no assunto futebol, se prontificasse a considerar o que está escrito aqui e reavaliasse, dentro do “modelo antigo” ou como está sendo sugerido aqui, por exemplo, a classificação final dos últimos campeonatos brasileiros, cuja contagem foi computada através de pontos corridos. Sinceramente não me preocupei e nem parei para fazer as contas, mas pelos exemplos que estão aqui, tenho certeza que surpresas acontecerão e que os resultados oficiais deveriam ter sido outros e provavelmente, algumas vezes seriam até bastante diferentes do que acabou valendo.

Alguém precisa olhar esse negócio com visão crítica e absolutamente sem interesses e sem paixões, a fim de tentar estabelecer mais justiça na contagem de pontos de uma competição futebolística. Talvez, acabar com o empate, como acontece no Basquete, seja uma solução possível, embora eu, pessoalmente, penso que esta não seja a melhor solução, porque poderão ser criadas injustiças maiores a partir daí, como pênaltis, cara ou coroa, morte súbita, ou qualquer outro critério extra jogo, o que prejudicaria mais as competições. De qualquer maneira, não quero discutir sobre isso no momento.

Entretanto, o que quero salientar é que não se pode é continuar fazendo do empate um resultado inferior aos outros, um resultado de segunda categoria e que vale menos, até porque grandes jogos muitas vezes resultam em empates com vários gols de ambos os times envolvidos, que lutam pela vitória e que às vezes acabam empatando por mera contingência.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (54), além de amante incondicional do bom futebol e da justiça, é Biólogo, Professor, Escritor e Ambientalista; foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava/SP; é Membro Fundador e atual Primeiro Vice-Presidente da Academia Caçapavense de Letras (Cadeira 25).