Jeitinho brasileiro entra em campo

É curioso como não se passaram muitas edições do Campeonato Brasileiro de Futebol, disputado por pontos corridos, para que o "jeitinho brasileiro" entrasse em cena, ou melhor, em campo... Isso se traduz por jogos de cartas marcadas nas últimas, derradeiras e decisivas rodadas, por meio de clubes que prevaricam para prejudicar seu rival local, visto que rivais são todos o clubes que figuram no certame.

Durante aproximadamente 90% dos jogos disputados ao longo da competição há uma evidente lisura, lealdade e competitividade, mas nas últimas 3 rodadas (aproximadamente 10% dos jogos, e se considerar somente os jogos cruciais, o percentual é ainda mais reduzido) do campeonato, dependendo da configuração da tabela e dos jogos que envolvem os líderes do campeonato, eis que surge a vil rivalidade antidesportiva, pela qual torcedores mentecaptos coagem jogadores, etc. dos seus clubes para "entregarem" os jogos em detrimento de rivais que dependem de tais resultados.

Em linguagem matemática, os 10% finais do campeonato têm maior poder de decisão do que os 90% antecedentes e comprometem a totalidade da competição. Portanto, eis a questão: que campeonato é esse?!

A fórmula de disputa é excelente, mas no Campeonato Brasileiro já não está mais fazendo sentido. Desconheço a ocorrência, nas últimas décadas, de algo similar nos campeonatos inglês, alemão, espanhol e até mesmo no italiano. Não foi reportada nenhuma cogitação, por exemplo, de que o Barcelona tenha "entregue" algum jogo para prejudicar o rival Real Madrid; ou a Internazionale di Milano tenha procedido de igual forma para causar empecilhos ao rival Milan...

É recomendável o retorno à formula de disputa por chaveamento na fase aguda do Campeonato Brasileiro, o que não diminui os méritos do respectivo campeão. Fosse assim, a Copa do Mundo deveria ser disputada por pontos corridos...

Se não for tomada uma atitude por parte da CBF, daqui a uma década, só serão lembrados os 10 campeões do período, com isso, se perpetuará o vergonhoso "jeitinho brasileiro do entrega-jogo".

CARLOS AUGUSTO DE MATOS BERNARDO