PIZZA NA FERRARI. MAS A MASSA AZEDOU
GP da Alemanha de 2010. Dez anos após Rubens Barrichello vencer seu primeiro GP pela Ferrari, outro brasileiro se destaca na mesma corrida e pela mesma equipe, mas por motivo diferente. Neste domingo, a Ferrari voltou a usar seu tradicional jogo de equipe, para favorecer um piloto melhor colocado no campeonato. É normal a Ferrari, em um determinado período da temporada, trabalhar para aquele piloto que tem mais chances de título. Foi assim com Schumacher, Raikkonen e o proprio Massa. Este ano, é com Alonso. A atitude tomada pela equipe foi anti-desportiva, desagradou a todos que assistiam a corrida. Mas foi compreensível. Muitos viram no episódio de domingo um repeteco do que aconteceu em 2002, no GP da Áustria, quando Barrichello praticamente parou seu carro antes da linha de chegada para Schumacher passar. Mas foram situações diferentes. Naquela prova, Barrichello largou na pole e disparou na frente. Em condições normais, Schumacher não o alcançaria. Mas a ordem da equipe mudou o resultado final da corrida. Desta vez, Alonso estava visivelmente mais rápido. Em duas ocasiões, Massa "fritou" pneus para se segurar na frente do espanhol que, em duas tentativas de ultrapassagem, foi fechado e recolheu seu carro. A partir daí, Alonso parou de atacar, mas se manteve sempre próximo de Massa, não deixando o brasileiro se afastar mais do que 3,5 segundos. Depois de 40 voltas, Alonso se aproximou bastante e aí existiam três possibilidades: deixar que os dois brigassem pela liderança, correndo-se o risco de nenhum deles terminar a prova; mandar Alonso se manter em segundo, o que também seria uma atitude anti-desportiva, além da possibilidade de Vettel se aproximar e ameaçar a dobradinha da Ferrari; ou mandar Massa abrir passagem para Alonso, que estava mais rápido e tinha 30 pontos a mais no campeonato. Do ponto de vista esportivo, sem dúvida que a melhor alternativa seria a primeira e as chances de Massa ser ultrapassado eram grandes. Mas para um chefe de equipe, seria a última possibilidade, principalmente depois do que aconteceu entre os "companheiros" Weber e Vettel, da Red Bull, no GP da Turquia. E Massa, poderia ter ignorado as ordens da equipe? Depende. Não sabemos o que está escrito no seu contrato. Portanto, a atitude da Ferrari pode ter sido antipática, anti-ética e muitas outras coisas, mas deve ser compreendida. Eles nunca esconderam que a equipe sempre vem em primeiro lugar e os pilotos sabem disso. É o preço que se paga para fazer parte da equipe mais tradicional da Fórmula 1. Mesmo assim, todos os outros pilotos da categoria gostariam de estar no lugar de Massa ou Alonso. Melhor ser o segundo na Ferrari do que ser o primeiro na Sauber. O que não significa que a FIA não deveria punir a Ferrari, desclassificando a equipe do GP da Alemanha, em nome do esporte e da competição. Só isso. Não é o fim do mundo. O problema é ouvir novamente a imprensa brasileira falar em "marmelada", que Massa foi injustiçado, que não vale a pena assistir Fórmula 1, etc., etc. Se o episódio envolvesse um piloto italiano ou inglês, a repercussão seria a mesma por aqui? Em 1973, Emerson Fittipaldi e Ronnie Peterson eram pilotos da Lotus, a mais badalada equipe da época. No GP da Itália, Emerson estava 24 pontos atrás de Jackie Stewart (da equipe Tyrrell) no campeonato, faltando 3 provas para o fim da temporada. Emerson só teria chances de levar o título, se vencesse as 3 provas e Stewart não fizesse mais do que 3 pontos (uma vitória valia 9 pontos). Uma situação muito difícil, mas não impossível. As Lotus dominaram aquela prova, com Peterson na frente de Emerson. Todos ficaram esperando que viesse uma ordem dos boxes para Peterson deixar Emerson vencer, mas a ordem não veio. Peterson venceu. E Stewart foi campeão. Colin Chapman, o chefão da Lotus, foi execrado no Brasil. Afinal, ele prejudicou o "nosso Emerson", que ainda tinha chances matemáticas de ser campeão. Deveria ter mandado Peterson abrir passagem, fazer jogo de equipe. Mas não seria uma atitude anti-ética? Anti-desportiva? Chapman privilegiou o espetáculo, não fez "marmelada" e deixou que os pilotos decidissem na pista. Qual a semelhança entre os dois episódios? Nenhuma. A não ser o fato de que, nos dois casos, as "vítimas" foram brasileiros. E a nossa indignação teve tudo a ver com a nacionalidade dos pilotos.