Futebol à beira do colapso
Futebol brasileiro à beira do colapso.
NOTA: este texto foi enviado a quase 50 cronistas esportivos em todo o território nacional.
Resta saber se a vaidade os impedirá de conduzir o processo. Ou interesses superiores de seus empregadores e patrocinadores.
Por pior que seja a idéia, melhor. Ela pode ser bem corrigida e apresentada de forma a ser aceita pelo bem dos que possuem interesse pelo assunto.
Prezado colega Jornalista!
Para conseguirmos alguma mudança em qualquer área social, é preciso que o clamor público seja conduzido pela imprensa sadia unida para que os dirigentes que dão as canetadas nos escutem. Por isto estamos lhe enviando este texto bem como a outros colegas com preparo profissional similar e com credibilidade equivalente junto ao público que os acompanha por vários anos através de seus poderosos veículos de contato.
Mesmo que você seja mais jovem do que eu, certamente já teve a felicidade de assistir exibições de alto gabarito do futebol brasileiro em nossos estádios. Algo que era corriqueiro até o final da década de 80. E que só resgataremos com a manutenção de nossos melhores jogadores em nosso território e algumas mudanças de comportamento por força de lei ou pressão da mídia.
De lá para cá, estas exibições tem sido raras. Os motivos são diversos. Os mais citados são:
- redução de espaços abertos onde outrora os moleques quase pelados praticavam peladas alimentando enormes celeiros de jovens com alto potencial futebolístico. Estas áreas foram substituídas por escolinhas que em muitos casos inibem a criatividade de alguns promissores adolescentes, obrigando-os a atuarem de forma “burocrática” e previsível.
-elevação do gabarito da preparação física que permite que os defensores rapidamente provoquem trombadas contra os atletas mais técnicos. Sempre é mais fácil destruir do que criar algo elaborado. Fora a brandura das penas aplicadas.
-árbitros despreparados que não inibem com rigor as jogadas mais violentas. A legislação esportiva oferece muitas brechas para atenuar e perdoar atos violentos dos botinudos. A quantidade de faltas precisa ser reduzida (como no Futsal) para que o jogo possa transcorrer com mais desenvoltura.
-jogadores deslumbrados com a ascensão meteórica se desgastam em noitadas mal dormidas e não rendem o máximo nos dias de jogos onde a exigência de esforço seja maior. Não seguem as normas disciplinares do clube. Total falta de profissionalismo. Os clubes fingem não ver.
-êxodo maciço de nossos melhores jogadores para outros continentes. Nossa desorganização fora das quatro linhas não nos permite montar uma estrutura adequada para concorrer com os poderosos clubes europeus e oferecer condições atrativas para nossos atletas permanecerem aqui. Até a Ásia consegue atrair nossos promissores jovens. Só teremos bons patrocinadores quando a administração for transparente e livre de vaidades. E quando as leis fecharem as brechas que ora existem.
-contratação de jogadores em fim de carreira que os estrangeiros não desejam mais. Estes atletas já realizados financeiramente, retornam por saudade da terra nativa para desfrutar do que melhor temos: mulheres bonitas, praias, sambas, cervejas, recantos bucólicos sem neve e fãs atuantes. Certamente (pois são humanos) não se empenharão da mesma forma que quando estavam no início da carreira. Já não entram nas divididas com o mesmo entusiasmo.
-táticas e estratégias voltadas para a defesa aglomerada em função de regras que não incentivam o ataque constante que fatalmente resulta no que de mais belo e emocionante existe neste esporte: O GOL! Jogos terminados em 0 x 0 não deveriam conceder pontos aos dois times! Times que goleiam (mais de 3 gols de diferença) deveriam ser premiados com ponto extra.
-legislação benevolente com empresários e procuradores que forçam contratações visando apenas seus lucros pessoais. A saúde financeira do clube fica em terceiro plano. Desta forma, os grandes clubes devem até a sede aos cofres públicos. Os clubes menores já não montam mais equipes capazes de produzir “zebras” que empolgavam nossos campeonatos.
Este conjunto de fatores está afastando os torcedores dos estádios. Aliados a outros de importância semelhante, tais como:
-datas e horários inadequados de jogos. Alguns terminam após 23:55 hs. Fica difícil para quem precisa acordar às 5:00 hs só poder dormir 3 ou 4 horas. Sem contar os regulamentos confusos e ilógicos que às vezes regem os torneios.
-falta de segurança nos estádios e adjacências. Torcidas “organizadas” promovem badernas que espantam famílias. Após 50 metros dos estádios o torcedor não conta com nenhuma proteção policial para trafegar rumo ao seu lar.
-desconforto dentro e fora dos estádios. Assentos sujos e quebrados. Sinalização e iluminação deficientes. Banheiros sem água, sabão e papel higiênico. Bares com alimentos de origem suspeita. Infiltrações nas coberturas e poucas bilheterias para atender a multidão de compradores de ingressos (mesmo antecipados). Confusão nas ruas próximas e nos estacionamentos irregulares.
-transporte inadequado. Redução dos veículos coletivos após 23:00 hs. Metrô abarrotado e quente. Trajetos equivocados nestes horários.
-custo do espetáculo. Um par de torcedores (em geral pai e filho) consome no mínimo R$ 140,00 (ingresso+transporte+lanche) para assistir a um jogo. O baixo nível salarial de nosso povo não permite esta aventura mais de uma vez por mês. E o padrão dos jogos não motiva a ponto de tanto sacrifício.
-canais fechados para que o clamor público se faça presente. Jamais as sugestões de torcedores (os que pagam) foram coletadas para ajudar na melhora do espetáculo. A mídia pode fazer isto com baixos custos e encaminhar com credibilidade. E cobrar.
Todo este pacote de “maldades” contribui para que jogos como Botafogo x Flamengo e Palmeiras x Corinthians tragam menos de 20.000 torcedores para os estádios. Na década de 80 este número nunca era inferior a 60.000 expectadores.
Como nossa seleção só tem sido formada por atletas que residem fora do país, não temos oportunidade de assistir os melhores em nossos campos, mesmo tendo de superar todos os obstáculos citados acima. Somente assinantes de TV a cabo desfrutam de tais jogos.
Este cenário contribui para uma gradativa redução do entusiasmo dos nossos torcedores. A persistir esta curva descendente, dentro de poucos anos dezenas de profissionais do ramo futebolístico (inclusive jornalistas) perderão espaço para trabalhar.
Esta visão que aqui registramos, deve refletir o sentimento de mais de 90% dos torcedores. Basta efetuar uma rápida (e barata) pesquisa em escala nacional através da mídia para comprovar esta suspeita.
Certamente cada um de nós tem diversas sugestões para minimizar (e eliminar) vários dos problemas que nos incomodam.
Apesar de vocês serem especialistas competentes do ramo, com certeza não se furtariam a juntar opiniões de seus seguidores para montar um documento elencando as medidas mais adequadas com tal objetivo. Estas opiniões seriam coletadas por pesquisas simples através de seus canais de comunicação. Sem maiores ônus para gerenciá-las.
Após uma triagem de consenso, o tal documento seria encaminhado a uma comissão (CBF+ federações+árbitros+donos de jornais+rádios+TVs+segurança pública+empresas de transporte+câmara legislativa+patrocinadores) para que fosse criada uma cruzada de recuperação da ALTA qualidade do nosso futebol que sempre nos encantou e que sem dúvida causa inveja e temor aos demais países. Pelas enormes dimensões de nosso território, certamente temos capacidade para montar de 3 a 4 seleções nacionais superiores a todas as restantes do planeta. E gerar postos de trabalhos e bons lucros.
Algumas medidas poderiam ser convertidas em leis. Outras passariam a fazer parte de uma norma de conduta da CBF. Outras fariam parte de acordos éticos (?) entre os dirigentes sem vaidades (??). Algumas experiências podem ser efetuadas nas categorias sub-17 e feminina com aval da FIFA. Com ajuda dos militantes lúcidos da imprensa, certamente chegaremos a consenso de agrado geral para combater este marasmo que se instalou em nosso esporte preferido e lentamente esfacela nosso entusiasmo.
Dentre as dezenas de questões possíveis a serem coletadas, de imediato (e humildemente) sugerimos a seguinte:
A seleção de futebol deve ser convocada seguindo o seguinte critério (podendo mesclar alguns):
a) Apenas jogadores que estejam atuando no Brasil no mínimo por 2 anos.
b) Convocar no máximo 25% de “estrangeiros” (a experiência deles lá fora não deixa de ser útil ao treinador).
c) De forma que a média de idade seja inferior a 25 anos.
d) Que tenham atuado em mais de 80% das partidas da última temporada.
e) Não tenham tido mais de 4 expulsões durante a última temporada.
f) Outra sugestão (descreva em até duas linhas).
Sem mais no momento, despedimo-nos na esperança de que algo de útil possa ser extraído deste resumo e possa auxiliá-los nesta complicada batalha que certamente vai esbarrar em fortes interesses (às vezes escusos) para manter este “caos” dentro de nossas fronteiras. Mas se vocês se unirem e abraçarem esta causa e apoio de ex-atletas que criaram o entusiasmo que ainda nos alimenta, tenham certeza de que o povo os apoiará na pressão que forçará os dirigentes a adotar atitudes saudáveis no sentido de preservar nosso maior patrimônio:
O FABULOSO FUTEBOL BRASILEIRO!
Uma cruzada comandada por jornalistas sérios, competentes e preocupados com o futuro de nosso esporte preferido, com certeza terá sucesso garantido e agradecimento dos fãs do tão decantado “futebol-arte”. Além de alargar os horizontes profissionais para diversas categorias.
Estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários sobre o que foi resumidamente exposto acima.
Boa sorte para todos nós.
Haroldo P. Barboza – Vila Isabel/RJ – hpbflu@terra.com.br – Celular: 9694-2756
Autor do livro: Brinque e cresça feliz.