DUNGA E GALVÃO BUENO.

 

Augusto dos Anjos, num dos seus belos poemas, enfatiza "a mão que afaga é a mesma que apedreja; a boca que escarra é a mesma que beija"... A realidade sempre invade os ARTISTAS, pois dela vêm as poesias e outras obras da literatura, pintura, etc. Esse mote do poeta paraibano, aplica-se ao DUNGA, neste momento de insucesso com a perda da copa do mundo. Todas as pedras lhe são jogadas, todos os males lhes são impostos. Galvão Bueno quase se rasgou de elevar a seleção e o Dunga quando ela estava    ganhando no último jogo antes das quartas de final. Quando perdemos para a Holanda ele foi o primeiro a falar de "derrota anunciada", do perfil do treinador que era arrogante, autoritário e que não gostava da imprensa. Outros adjetivos pouco politicamente corretos foram ditos em todos os veículos de comunicação. No mesmo "pacote" de massacres ao Dunga, entraram Robinho, Kaká, Luiz Fabiano, o goleiro e o outro que foi expulso.
Com certeza que houve equívocos. Mas o que nos deixa zonzo é a capacidade que a maioria de brasileiros tem de achar que futebol é uma excelência nossa. Porque somos penta? E daí? Em que o HEXA melhoraria nossos salários, diminuiria a violência, a fome, a falta de moradia e saneamento ambiental? Talvez o contrário acontecesse, haja vista a consternação que parece ter tomado conta do país.
Asseguro que não gostei do jogo. Perder é sempre ruim, mas temos que exercitar isto, pois futebol é um esporte coletivo maravilhoso. Mas assim o é em função de que reúne pessoas, congrega nações, etc. Tudo bem que não se fizesse calorosa recepção à equipe de Dunga, mas não achamos justo essa execração. Ele, certamente, não tem perfil popular, mas sabe de futebol. O número de vitórias à frente do plantel é enorme, mas isto perde o valor diante da derrota que foi fatal.
A equipe fez um ótimo primeiro tempo. Isto é fato. Mas no segundo tempo ruiu, teve dificuldades em recuperar o moral e buscar a virada. Não aconteceu. Paciência, pois se já se soubesse o resultado não tinha sentido fazer jogos.
A grande verdade talvez seja mesmo a que advoga que nós, brasileiros, não sabemos perder no futebol.   A despeito de perdermos a copa dos maus políticos, da fome, da violência e do preconceito, sem choro nem vela.
Concluímos enfatizando a falta de ética da CBF pela forma de demitir o técnico e toda sua equipe: pela internet. Não é assim que se constroem as relações de respeito entre pessoas e entre instituições. Fazer o quê? Só nos resta curtir as piadas e outros massacres da net aos cristos desta "paixão" futebolística. Esperamos que Dunga ressuscite ao terceiro dia, pois sua família, certamente, precisará dele feliz e sem culpas. Enquanto isto, a família brasileira precisa de Galvão calado... Até que venha coisa melhor na Vênus Platinada.

Abaixo, o poema de Augusto dos Anjos, poeta paraibano que faleceu de tuberculose no Recife. Tudo indica que essa doença foi a proporcionadora dos Versos Íntimos.

VERSOS ÍNTIMOS

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!