COPA, SOCIOLOGIA E CIDADANIA.



O Brasil é penta. Penta! Penta! Hexa é o que buscamos nesta copa do mundo. Ao Dunga competirá o comando da seleção que tem a obrigação de trazer o hexa - é assim que fazemos a leitura com base nas torcidas espalhadas pelo país.
Nelson Rodrigues tratava o nosso futebol na relação de que quando o Brasil joga, mais parece a pátria de chuteiras. Somos todos, uns mais outros menos, meio técnicos de futebol, inclusive muitas mulheres, o que outrora não acontecia. Realmente, o futebol é instigante e mexe conosco na medida em que a gente vai se aprofundando nas suas nuances. Enquanto esporte coletivo presta-se muito bem às simulações sociológicas em seus conceitos de grupo, status e expectativas sociais, sanções positivas e negativas, liderança, cultura, cooperação, interação, dentre outros de menos significação simbólica.
Uma partida de futebol se desenvolve em função das expectativas colhidas acerca do adversário: suas táticas, seus atores e seus papéis, principalmente seu conjunto na composição do entrosamento. Há equipes que jogam abertas, outras fechadas; já outras adotam estilos mais conservadores ou até mistos. No futebol mais moderno, o estilo compartilhado tem sido o mais buscado pela grande maioria de técnicos, como no caso de Dunga da nossa seleção. Jogadores "fominha" como se chama aquele que só dribla e quer fazer tudo sozinho, andam um pouco fora do contexto. Evidentemente que as diferenças individuais são responsáveis pela explicitação dos talentos, pois talento é um conceito particular que muito pode contribuir com o coletivo. Numa decisão acirrada de copa do mundo, ou de campeonatos regionais, o jogador de talento pode fazer a diferença na medida em que ele, na hora certa, surpreende a tática do técnico adversário, pois como dissemos, talento é próprio, individual.
A seleção brasileira sempre sofre um pouco diante do exagero das expectativas a ela creditados. Afinal, somos os melhores do mundo pela quinta vez e isto é motivo de júbilo. Contudo, a lógica do futebol brasileiro quando se trata de seleção vai além: serve um pouco de "ópio" para encobrir mazelas sociais, como foi o caso do governo Garrastazu Médici. Outros casos no Brasil são igualmente identificados neste sentido e serviu em várias ocasiões para o governo tomar medidas impopulares (em surdina) em função do momento em que vivíamos COPA DO MUNDO.
Atualmente, diante o excelente momento por que passa nosso país, principalmente na economia, sentimos que o frisson nos toma a todos em função da seleção. Mas a gente não ignora que, mesmo assim, nos bastidores, a politicagem acontece, embora sem maior dimensão como anteriormente. O técnico Dunga, meio turrão, meio nariz empinado, define a seleção e não aceita sugestões da opinião pública. Resultado: "afogou Ganso e Pato". Neste sentido, as nossas expectativas são francas atiradoras do acaso. Se formos Hexa, Dunga será "santificado", se não, execrado! Mas faz parte desse conjunto de amor efêmero que  a agente desenvolve e em pouco tempo já esquece.
Certamente que desejamos mais um título. Mas é bom não esquecermos tantos recordes negativos que temos no nosso dia-a-dia, como a violência, a fome, a mortalidade infantil, corrupção, a falta de saneamento, altos impostos, pouco acesso ao SUS, precária rede pública de educação, etc. Seria sonhar demais se a gente pudesse algum dia, contar com tantos brasileiros torcendo como o fazem pelo HEXA, mas em função de que fossemos campeões de cidadania e votando para eleger parlamentares comprometidos com as causas sociais. Quem sabe um dia, a gente marque esse gol de placa!

O universo social é eminentemente simbólico. Seu substrato sociológico se estabelece nos processos sociais da cultura. O futebol para os brasileiros é quase que "religião", talvez uma razoável explicação para aquilo que podemos chamar de "nivelamento social". No geral, as classes sociais se entendem muito bem quanto o assunto é futebol, principalmente entre os torcedores do mesmo time. Um fato merecedor de registro é o crescente interesse das mulheres pelo futebol. Talvez estejam descobrindo que se trata de um esporte racional, matemático, ao mesmo tempo emocionante e criativo. O Futebol feminino no Brasil está cada vez mais sendo incentivado pela CBF e pelas Federações Estaduais.
Podemos afirmar que isto é um aspecto muito positivo, principalmente porque nosso modelo atual de sociedade tem primado pelas relações individualizadas, egoístas. O futebol, não. Pode até acontecer jogadas fenomenais, verdadeiros shows, mas os nossos técnicos preferem o futebol resultado. Se houver um misto entre os dois, então é um grande espetáculo para todos.