CAE – Esporte, Educação e Filantropia Social
O projeto CAE- Crianças e Adolescentes no Esporte surgiu no ano de 2006 na comunidade Beltrão de Queiroz na cidade de Caxias do Sul. As crianças e adolescentes da comunidade não tinham acesso a oportunidades educativas extracurriculares, sendo o bairro de classe social baixa vulnerabilizando as crianças e adolescentes do mesmo. No bairro localiza-se o Estádio Centenário do Clube Caxias - Francisco Stedile, muitas crianças e adolescentes sonhavam um dia jogar em um campo como aquele, mas poucos já ultrapassaram seus portões, sonhavam um dia poder jogar em um clube, ou simplesmente poder praticar o esporte, mas sem muitas condições financeiras este sonho ficava cada vez mais distante, como não há área de lazer na comunidade as crianças brincavam de bola em becos e ruelas.
“Como é que pode né? Toda vez que olho pro estádio parece que o meu sonho tá ali, pertinho de mim. Parece que é fácil chegar. Mas não é não.” (Gabriel Teixeira, 12 anos, reportagem jornal Pioneiro, 2009)
O projeto CAE surgiu motivado pelos graves problemas sociais gerados pelo uso abusivo de drogas na comunidade, mostrando uma nova possibilidade para as crianças e adolescentes do Bairro Beltrão de Queiroz. Surgiu como uma intervenção educativa e como contraponto a situação de vulnerabilidade. O projeto foi criado por pessoas que moram na comunidade e que assim como aquelas crianças e adolescentes não tiveram a oportunidade de ter algo diferente, frente a isso e a realidade do bairro uma festa de Natal foi organizada no ano de 2006, nesta festa donativos foram arrecadados, a comunidade participou de jogos esportivos e eventos culturais, os organizadores perceberam então o anseio das crianças e adolescentes pelo novo, pelas oportunidades e decidiram que precisavam fazer algo permanente, que trouxesse esperança, oportunidade, que oferecesse novas possibilidades aquela comunidade.
“A gente faz o máximo que pode para dar uma nova chance de vida para essa meninada. O futebol é quase um pretexto para mostrar a eles que levar uma vida saudável, sem drogas nem violência, é possível e muito melhor.” (Jéferson Borges, Monitor do CAE)
O CAE surgiu com o objetivo de referendar as possibilidades de inclusão social das crianças e dos adolescentes menos favorecidos da comunidade Beltrão de Queiroz, usando o esporte, no caso o futebol, como ferramenta principal. O futebol é um esporte que se caracteriza pelo imenso aceitamento popular, sendo a principal ferramenta esportiva para a inclusão social, o CAE visa oportunizar a prática do futebol em local e condições apropriadas a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. No início o projeto tinha cerca de 20 a 30 crianças, apenas um jogo de coletes e três bolas, treinavam no antigo Campo Municipal, o projeto sobrevivia através de doações de materiais esportivos e da boa vontade de voluntários. No ano de 2009 o projeto ganhou o apoio do FUNDEL- Fundo Municipal de Desenvolvimento do Esporte e Lazer, a estrutura física do projeto (campos) é cedida pela prefeitura, com o empenho dos voluntários o projeto cresceu em qualidade no atendimento a crianças e adolescentes. No ano de 2010 o CAE passou a atender cerca de 90 crianças oriundas de diversos bairros tais como: Mariane, Reolon, Cinqüentenário, Kaiser além do Beltrão de Queiroz. O projeto conta também com um número maior de materiais, possui uma equipe de voluntários diversificada contemplando as áreas de Educação Física, Pedagogia, Nutrição e Fisioterapia. Basicamente, o projeto CAE baseia-se na metodologia do treinamento desportivo, que tem como base Dantas, 2003, onde se leva em conta as fases sensíveis da faixa etária da criança e do adolescente, com cargas e treinamentos específicos para cada fase de desenvolvimento, visando desenvolver a criticidade de nossas crianças e adolescentes para que estes possam a vir tomar decisões das mudanças repentinas que acontecem em nossa sociedade. O Projeto CAE acredita que o esporte tem um papel importante na formação da cidadania, assumindo neste novo milênio um papel de destaque no cotidiano das pessoas como um dos maiores fenômenos sociais da história, o projeto visa à formação integral da criança e do adolescente através deste fenômeno social que é o esporte, desenvolvendo também atividades educativas e culturais como palestras, passeios e atividades recreativas.
O CAE tem como objetivo geral promover a iniciação esportiva para crianças e adolescentes, orientando-os a partir de princípios didáticos e metodológicos que contribuam na base para a formação de sua cidadania e também na assimilação de atividades que irão contribuir continuamente para a melhoria de sua qualidade de vida.
E como objetivos específicos:
- Contribuir para o desenvolvimento psicológico da criança, possibilitando utilizar com êxito a prática desportiva no desenvolvimento bio-psico-social.
- Proporcionar situações de aprendizagem que contribuam para o desenvolvimento das crianças e adolescentes através de atividades esportivas, culturais e de lazer explorando as possibilidades e respeitando as individualidades.
- Promover a aprendizagem e o aprimoramento das habilidades técnicas e táticas da modalidade futebol.
- Contribuir para o desenvolvimento físico harmonioso, por meio de
aplicação de atividades físicas que propiciem melhoras funcionais positivas.
- Oportunizar espaços, materiais, oportunidades alternativas para crianças e adolescentes da comunidade do bairro Beltrão de Queiroz e demais bairros que não tem possibilidades financeiras de ingressar em uma escola de futebol formal.
- Proporcionar uma melhor qualidade de vida através de ações diversas como orientações nutricionais e educacionais para as crianças e adolescentes do projeto.
- Utilizar de forma transdisciplinar as áreas da Nutrição, Pedagogia, Fisioterapia e Educação Física.
“Nosso objetivo não é somente formar atletas, mas sim cidadãos. Que a gente encontre eles com 25, 30 anos e que eles nos mostre que estão vencendo na vida, que estão com um bom trabalho, com uma família e com uma estrutura de vida boa. Esse é o nosso principal objetivo.” (Jéferson Borges- Monitor do CAE)
O publico alvo do projeto são crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social com idades entre 6 a 17 anos, o pré requisito para participar do CAE é a comprovação de que se está estudando através do comprovante de escolaridade. O projeto conta no momento com três Monitores, sendo um professor de Educação Física e dois acadêmicos, uma acadêmica de Fisioterapia, uma acadêmica de Nutrição e uma acadêmica de Pedagogia, os profissionais envolvidos no projeto são voluntários. A área administrativa é composta da seguinte maneira, Presidente, Vice Presidente, Tesoureiro, Secretário, Conselho Fiscal e Conselho Deliberativo, sendo que os Monitores/Treinadores (acadêmicos de Educação Física) são responsáveis pelos treinamentos tanto no planejamento das unidades de treino, como em sua execução e relatórios. Os treinos ocorrem todos os domingos pela manhã. Em dias de competição, o monitor de sua categoria será o técnico responsável.
As categorias são divididas da seguinte maneira:
• Sub-11 contemplando a idade dos 6 aos 11 anos.
• Sub-13 contemplando a idade dos 12 aos 13 anos.
• Sub-15 contemplando a idade dos 14 aos 15 anos.
• Sub-17 contemplando a idade dos 16 aos 17 anos.
O Preparador de Goleiros é responsável por orientar especificamente de forma individualizada os goleiros, além de capacitá-los através de treinamentos específicos e eficazes para a posição. A estudante de Pedagogia é responsável por cadastrar os atletas com dados gerais e escola onde estuda, também por montar uma ficha de avaliação Escola-Projeto CAE. O Coordenador tem como responsabilidade o controle da qualidade e quantidades de treinamento das diversas categorias e seus respectivos implicantes. A estudante de Fisioterapia é responsável por montar um programa de alongamentos. E por fim a estudante de Nutrição é responsável pelo amplo aspecto nutricional do atleta.
No início do projeto a comunidade pensava que seria simplesmente mais uma tentativa de algo novo e que provavelmente não daria certo, porém o CAE venceu esse paradigma e atingiu uma dimensão simbólica conquistando o apoio e a admiração da comunidade, todos os anos reuniões com os pais são feitas, pois o CAE acredita que a base do contexto educativo está na família.
No dia 30 de maio de 2009 o CAE foi alvo de uma reportagem do jornal Pioneiro, onde a matéria enfatizou o problema das drogas na comunidade e apontou o Projeto CAE como significativo para a prevenção da mesma. O tema da reportagem foi “Esperança: esporte para uma educação antidrogas.” A reportagem contou um pouco sobre a rotina do projeto, os treinos e o quanto o CAE é importante e influente na vida das crianças e adolescentes que dele participam. Algum tempo depois em 25 de setembro de 2009 o CAE foi destaque, desta vez, em um quadro do jornal do almoço com o tema: “Iniciativas que levam cidadania as comunidades de Caxias do sul”, nesta reportagem foi enfatizado um pouco do contexto do bairro Beltrão de Queiroz, dos problemas com a violência, vulnerabilidade e drogas e entre todos estes problemas surge algo positivo, o CAE, que pode vir mudar esta realidade e trabalhar com a prevenção as drogas, sobre a questão da violência o repórter entrevistou Leandro Barbosa Jesus e também contou um pouco da história de vida do Jéferson Cristiano Cândido de Borges ambos idealizadores do projeto e também moradores da comunidade. Em 2010 o CAE fez parte do programa SBT Repórter do dia 28 de abril, o programa abordou o tema: “O submundo do crack.” O programa esteve em diversas cidades falando sobre a situação do crack em cada uma delas, passando por Caxias do Sul, o programa retratou então um pouco de como está à cidade com o uso abusivo de crack, fez uma reportagem contando um pouquinho sobre a realidade do bairro Portinari e as conseqüências do crack naquela comunidade, e como contraponto e prevenção ao uso de drogas, fez uma reportagem no projeto CAE, com o intuito de mostrar projetos que atuam na prevenção das drogas e a favor da comunidade. O CAE tomou uma dimensão nacional pela excelência na qualidade de suas atividades sociais.
“A gente tem tantas coisas boas no mundo pra pensa e a gente vai pensa logo no crack? A gente tem coisas mais conscientes e com mais futuro pra nós. A gente precisa de um mundo melhor.” (Gabriel Teixeira, 13 anos, Reportagem SBT Repórter, 2010)
Quando nos deparamos com situações de vulnerabilidade social e como contraponto e intervenção à violência surgem projetos como o CAE fica evidente a necessidade que o ser humano tem de oportunidades educativas e de influências positivas. A base do desenvolvimento humano esta na família, porém muitos não encontram essa base sólida e positiva. Começam então a construir conceitos e valores através do modelo de pessoas que passam a admirar, o projeto CAE proporciona esta construção através do vínculo que os treinadores e voluntários criam com as crianças e adolescentes participantes do projeto, uma relação de respeito mútuo, de dedicação e de constante construção, uma troca de sabedoria onde o indivíduo tem acesso a algo que antes, talvez, pra ele fosse apenas à realidade de poucos. O CAE vai além de formar atletas, ele proporciona oportunidades, transmite valores, disciplina, comprometimento, muito mais do que formar jogadores de futebol o CAE possibilita novas realidades, transforma vidas e ensina a “ser humano”.
“Repórter: - O que você sente quando vê alguém usando drogas, crack perto de você?
Everton: - Uma coisa ruim né, mata a pessoa.
Repórter: - Você tem medo?
Everton: - Ah eu tenho.
Repórter: - E o que você faz pra fica longo da droga?
Everton: - Eu venho aqui (CAE) e eles me auxiliam também, que a gente não deve usar isso, se a gente tem o objetivo de ser um jogador de futebol a gente não pode bota nada de droga na boca.” (Everton Manfredini, 15 anos, Reportagem SBT Repórter, 2010)
O projeto CAE não acontece somente no campo ou nos treinos, o envolvimento dos voluntários vai além da partida de futebol. O projeto é fascinante pela ação social que desempenha, pela oportunidade de construção e de transformação, fascinante pelo empenho e dedicação daqueles que decidem doar um pouco do seu tempo para contribuir com a sociedade por que acreditam que é através das oportunidades que o ser humano se forma e se transforma.