Futebol: o segredo do elástico

É improvável que vejamos na copa que se inicia em breve, algum drible do tipo conhecido como elástico. Apesar de sua extrema eficácia, esse drible não será visto durante a copa porque poucos jogadores no mundo inteiro são capazes de executá-lo com perfeição, por desconhecerem o segredo que revelarei a seguir.

Como é sabido, o drible consiste em conduzir a bola “grudada no pé” através de uma trajetória em “S”. O jogador carrega a bola para fora, para em seguida trazê-la para dentro, induzindo o adversário a virar para o lado errado, para onde a bola não está.

A primeira dificuldade para a aplicação do drible consiste na execução desse movimento. É necessária uma certa quantidade de treino, que dependerá, certamente, da habilidade do jogador. É preciso aprender a conduzir a bola continuamente para fora e para dentro, o que constitui dificuldade considerável, embora superável por peladeiros habilidosos.

Os menos habilidosos poderão treinar uma variante mais simples do drible outrora conhecida como “rabo de vaca”, imortalizada por Eduardo, ex-jogador do Cruzeiro (não confunda com o drible da vaca, ou meia lua) e virtualmente extinta há décadas. Essa variante consiste em um elástico ao contrário, de fora para dentro, com a face interna do pé. A vantagem dela é que pode ser facilmente aplicada com a bola no chão, o que facilitará a execução da etapa seguinte. Sua desvantagem consiste no fato de ajeitar a bola para o pé oposto ao do drible, normalmente o “pé ruim”.

O jogador deve treinar solitariamente uma das técnicas acima, até adquirir habilidade para “grudar a bola no pé” o suficiente para executar o movimento de ida e volta que caracteriza o elástico. Quando acreditar que já domina essa técnica deve tentar aplicá-la a um adversário real. Mesmo tendo dominado qualquer uma das práticas descritas acima com perfeição, o jogador perceberá que nenhum adversário, nem mesmo o mais pereba, cairá em seu drible tão arduamente treinado. Notará que o adversário o desarmará com naturalidade e sem qualquer dificuldade, com o pé correto para efetuar o desarme! Falta-lhe conhecer ainda um segredo.

A dificuldade de aplicação desse drible consiste exatamente no oposto do esperado. Ao contrário dos dribles usuais, esse será tanto melhor quanto mais lentamente for aplicado, é este o seu segredo! De volta ao treinamento, o jogador deverá executar os mesmos movimentos anteriores, mas tendo em mente um atraso na jogada, tendo em vista a lentidão na execução do movimento. O atacante deve deixar claro ao oponente que ele quer ir para um lado, deve dar tempo para o oponente se iludir, só então voltar a bola para o lado contrário, deixando o adversário a procurar a bola exatamente no lado errado. É necessário conscientizá-lo de que deve errar! Desse modo, o segredo do elástico consiste em executá-lo lentamente, tão vagarosamente a ponto de fazer o adversário entender qual NÃO é a intenção do jogador.

Creio que foi Rivelino o inventor desse drible, certamente o primeiro a consagrá-lo, mas deve ter sido Romário quem o aplicava da maneira mais letal. Vi a variante “rabo de vaca” aplicada por mais um ou dois mineiros além de Eduardo, mas já faz muitas décadas que parece extinta.

Poucos jogadores o executam por desconhecerem a necessidade da lentidão de sua execução, o segredo agora revelado. Em 2014, o no máximo 2018 veremos uma profusão desse drible, o mais mortal que conheço.

Recomendo a divulgação desse texto para jogadores jovens por todo o país.

Obs1. O drible pode ser efetuado para dentro, ou para fora.

Obs2. Uma maneira eficaz de reduzir a velocidade do drible, atingindo a lentidão necessária para o seu sucesso consiste em ampliar o movimento, traçando o arco mais longo que conseguir.