Jornalismo e futebol
A Polícia Federal liberou ontem (24/9) uma gravação telefônica onde o ex-presidente do Corinthians admitiu que o Brasileirão de 2005 teve um lance roubado. Hoje, nos três jornalões nacionais, a notícia mais importante não era essa, mas a indicação do novo técnico do mesmo Corinthians.
Erro de avaliação jornalística ou foi a lógica perversa das paixões futebolísticas que esconde o que é mais importante? Será que o leitor-torcedor só quer mesmo saber o que se passa no gramado sem se importar com o mar de lama que compromete o placar? O clubismo e o fanatismo serão mesmo mais fortes do que o apreço pela decência?
A grande verdade é que no país do futebol, o próprio futebol não consegue ser uma exceção: acabou dominado pela mesma corrupção e, em alguns casos, pelos mesmos atores que protagonizaram escândalos políticos e eleitorais.
Apesar da coragem e do desassombro de alguns jornalistas, suas revelações e denúncias ficam confinadas aos cadernos ou programas esportivos – e, mesmo que mereçam ocasional destaque, a corrupção no mundo desportivo acaba secundada pelos interesses e paixões do torcedor.
Será justo que os quatro meses do escândalo Renan Calheiros sejam mais conhecidos do que os quatorze anos da gestão de Alberto Dualib à frente do Corinthians? Por que razão falou-se menos na concessão do asilo político ao magnata Boris Berezovski, discutida nos altos escalões da República, do que na extradição do banqueiro Salvatore Cacciola?
Nosso jornalismo, apesar de feitos recentes, sofre de um vício antigo: a segmentação do noticiário. A cadernização do universo informativo subverte a importância dos fatos. O leitor-torcedor precisa ser tratado como leitor-cidadão. Quando a imprensa entender esta equação, estaremos a caminho de moralizar o futebol.