BRASIL NA COPA É COBIÇA!

O ano era 1930. O país era o Uruguai. A seleção campeã era a dona da casa. A primeira Copa do Mundo, realizada em território sul-americano, já contou com a participação brasileira - aliás, o Brasil é o único país a ter jogado todas as Copas do Mundo - e foi extremamente discreta: uma derrota por 2x1 para os iugoslavos e uma goleada por 4x0 sobre a Bolívia, velha freguesa. Quatro anos depois, em 1934, a imensa nação brasileira novamente não foi um impávido colosso. Em solo italiano, uma derrota para a Espanha por 3x1 tirou o Brasil da Copa. Nesta época, não havia fanatismo brasileiro pela Copa. Era um torneio incipiente e desestruturado. E viria a ser interrompido pela Segunda Guerra Mundial, retornando apenas em 1950.

Em 1950, a Copa brasileira, o cidadão resolveu abraçar a causa. De repente, não mais uma simples reunião de selecionados estava presente, mas sim a honra patriótica! A satisfação de vencer no quintal, o regozijante júbilo do triunfo após o extenuante prélio, a satisfação da platéia! Sim, agora a Copa do Mundo passava a ser uma marca da identidade nacional. Contudo... em 16 de julho, tudo mudou. A "pátria de chuteiras" entrou em campo podendo até empatar. E no mítico Maracanã, quase 200 mil pessoas veem Friaça abrir o placar para os brasileiros aos dois minutos do segundo tempo. Mas Schiaffino e Ghiggia viraram para o Uruguai, causando o maior trauma da história do futebol brasileiro. Dali por diante, o torcedor brasileiro tem a impressão de que seus sonhos jamais serão realizados. Então, Nelson Rodrigues, gênio da crônica esportiva, cunha a expressão "Complexo de Vira-Lata", reforçada pelo novo fracasso na Copa de 1954, na Suíça.

Porém, nada como um dia após o outro... no final dos anos 50, um jovem negro nasce para o futebol. E o futebol é claramente feito para ele, Pelé! Com os triunfos em 1958, 1962 e 1970, este último um chocolate de 4x1 sobre a Itália, o brasileiro certifica-se de que nasceu no verdadeiro "país do futebol", a terra do drible, da malícia, da arte e da formosura esportiva.

As Copas de 1982 e 1994 reservam peculiaridades opostas para o Brasil. Por um lado, a arte, a ginga, o espetáculo. E do outro, força e feiúra. Contudo... a primeira, mais brasileira, perdeu. A segunda, pesada e antipática, venceu! Curioso, não?

A "pátria de chuteiras" continuou a oscilar: derrotas em 1998 e 2006 e a vitória em 2002. Em 2010, a primeira Copa africana será realizada. O status de maior vencedor de Copas faz com que o brasileiro, já qualificado por Nelson como "vira-lata", não espere menos do que a taça. Quaisquer resultados inferiores são vistos como um fracasso imperdoável. O primeiro "Cristo" foi Barbosa, goleiro que sofreu os gols da derrota de 1950. O mais recente é Roberto Carlos, o homem que ajeitou o meião e permitiu que Tierry Henry marcasse o gol francês nas quartas de final de 2006.

Em Copas do Mundo, o Brasil precisa de um herói para chamar de seu. E de um vilão também.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 25/05/2010
Código do texto: T2279724
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.