POR UMA EDUCAÇÃO CRÍTICO-REFLEXIVA
Por uma educação crítico-reflexiva
É urgente um ensino de Produção Textual no qual os professores possam argumentar com os estudantes sobre temas relevantes, sobre as ideias apresentadas nos textos, de modo a cobrar responsabilidade sobre o que é dito, bem como conferir a validade das informações contidas nos textos. O tratamento apático em relação aos textos dos estudantes é um desserviço, configurando uma educação impessoal na qual a máquina passa a ser mais desejada que o humano.
Contudo, precisamos de humanos, com tudo... e precisamos que os governos nos ofereçam condições para que os professores possam ensinar e os estudantes possam aprender, para que assim possamos considerar os textos dignos de alguém que passou mais de uma década em uma escola, alguém a quem podemos dizer se tratar de um cidadão proficiente em sua língua, capaz de escrever, ler, ouvir e falar de acordo com as situações e propósitos comunicativos.
No artigo “Práticas pedagógicas para o desenvolvimento das competências em escrita”, a professora e linguista Irandé Antunes elenca algumas competências em escrita, das quais destacamos três, a saber:
1. Competência para a interação: esta se manifesta em diversos aspectos, como a escolha do gênero textual adequado, o uso de estratégias discursivas que estabelecem um diálogo com o leitor e a construção de argumentos coerentes e bem fundamentados. Além disso, a interação na escrita exige sensibilidade para compreender as expectativas do interlocutor, seja ele um leitor acadêmico, um público geral ou um grupo específico.
2. Competências para a escrita de textos: relacionam-se à capacidade de estruturar um texto de maneira coesa e coerente, organizando as informações de forma lógica e progressiva. O autor deve saber construir parágrafos bem articulados, usar conectivos adequados e manter uma sequência clara de ideias.
3. Competências ligadas à escrita como atividade representativa das sociedades com maior grau de letramento: sociedades com maior grau de letramento incentivam a leitura e a escrita crítica. Isso implica a capacidade de interpretar textos com profundidade, analisar discursos sob diferentes perspectivas e produzir textos que contribuam para o debate intelectual e cultural.
Sobre este último aspecto, não devemos nos esquecer que o Brasil, infelizmente, ainda não alcançou o grau ideal de letramento, haja vista que se trata do país que mais acredita em fakenews, de acordo com estudo realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2024. Isso diz muito acerca da forma como votamos e sobre como (não) fazemos ciência, por muitas vezes descredibilizarmos o que é sério e elevarmos a mentira ao patamar de uma verdade.
Por isso, desde cedo é necessário que a escola ensine os estudantes a selecionarem informações, a recorrerem a fontes de pesquisa confiáveis, a pesquisarem por fontes diversas e a analisarem os tipos de discursos que esses veículos de informação disseminam. É fundamental que os estudantes desenvolvam a capacidade de argumentação baseada em evidências, compreendendo que a crítica bem fundamentada não se limita à expressão de opiniões pessoais, mas exige embasamento teórico, análise contextual e diálogo com diferentes perspectivas.
A formação de leitores e escritores críticos passa pela valorização do pensamento reflexivo, permitindo que os indivíduos compreendam a complexidade dos fenômenos sociais e participem ativamente da construção de um debate público qualificado. Desejamos uma educação que promova a crítica com fundamentação teórica, conhecimento de causa, e não apenas com o intuito de jogar cortina de fumaça sobre as pautas que já ultrapassaram o nível da urgência.
E se colocamos o componente de Produção Textual no centro desse debate é por sabermos que a palavra escrita tem o poder de transformar a sociedade e contribuir para a construção de um mundo mais justo e informado. Esse talvez seja um dos nossos maiores desafios diante de uma humanidade que prefere acreditar numa mentira que a adormece a uma verdade que a faça acordar.
Leo Barbosa é professor, escritor, poeta, revisor de textos.
(Texto publicado no jornal A União em 7/2/25)