Processos tradutórios em questão: analisando traduções de frases simples em língua francesa do Google Tradutor
RESUMO
Este artigo trata da análise das traduções de frases simples no Google Tradutor, assim como as implicações do seu uso por usuários comuns que não sabem o que e como se faz uma tradução, ou seja, não possuem o conhecimento linguístico/cultural necessários para fazer uma tradução sem prejuízo de sentido. Para isso, traz-se explicações sobre conceitos, características e tipos de tradução. O objetivo principal é mostrar como os processos tradutórios são feitos e o porquê de observar quais as vantagens ao se fazer essas traduções automáticas utilizadas em situações corriqueiras. O objetivo principal aqui é contribuir para que o usuário comum saiba o que está fazendo ao utilizar o Google Tradutor.
Palavras-chave: Processos Tradutórios. Google Tradutor. Análise.
INTRODUÇÃO
A ação de traduzir se apresenta em um espaço do entre lugar, no qual se encontra uma lacuna que deve ser preenchida pelo tradutor através dos conhecimentos adquiridos sobre essa tarefa tal que não se configura como algo fácil de ser executado. São vários os tipos de tradução e cada um deles possui suas especificidades, suas características próprias que irão determinar o produto traduzido como resultado de um ato de escrever.
Não é por acaso, que com o passar dos tempos, as traduções deixaram de ser apenas uma tarefa voltada para o conhecimento limitado ao espaço literário/religioso, no qual o interesse pela tradução da Bíblia Sagrada, por exemplo, fazia menção às diversas leituras e interpretações dadas pelos tradutores, cujo desejo refletia as discordâncias entre os representantes do alto clero, assim como as críticas que muitos dos autores antigos faziam à sociedade ocidental europeia exploradora da maior parte da população servil aos regimes autoritários como o Feudal. .
É nesse sentido de análise sobre o fazer tradutor, que colocamos aqui algumas reflexões sobre o quê, como, e para que traduzir. Nossa leitura se estabelece a partir de uma reflexão sobre conceitos de tradução, com enfoque na tradução literária, tal que teve seu início como supracitado, através dos textos da Bíblia Sagrada, em meados da idade média e início da renascença. Nesse período, as traduções eram elementos de persuasão e perseguição religiosa.
Outrossim, trazemos o significado e a função do Google Tradutor, mostrando um pouco do seu histórico através das pesquisas que desenvolvemos no site de referência do Google. Em seguida, fizemos uma análise cuidadosa de algumas frases traduzidas do português para o francês pelo sistema, explicando cada detalhe em seu uso corriqueiro e as implicações que permeiam cada possibilidade de utilização desses termos e palavras.
Os exemplos são apresentados em tabelas para melhor compreensão do leitor e visualização dos elementos e termos traduzidos, seguido de explicações sobre cada uma das nuances existentes para o uso corriqueiro das frases. Nossa proposta não se esgota nessa reflexão, mas sim abre caminhos para outras leituras e análise possíveis.
REFLETINDO SOBRE TRADUÇÃO
Os estudos sobre tradução surgiram como uma forma de contribuição expressiva na tarefa de traduzir, além de possibilitar compreender e diferenciar os tipos de tradução. Citamos Woodsworth (1988) para falarmos sobre este assunto:
La théorie de la traduction est née aux alentours de 1950 d'une conjonction entre linguistique et traduction. Cette nouvelle «science» de la traduction, baptisée parfois «traductologie», a essayé de résoudre certains problèmes qui se posent depuis longtemps dans les discussions sur la traduction. (Woodsworth,1988, p. 121).
Conforme a afirmação de Wordsworth (1988), os estudos sobre tradução também denominados de “tradutologia” nasceram na década de 50 do século passado unidos aos estudos linguísticos com objetivos bem definidos, os quais visavam resolver os problemas referentes ao ato de traduzir como um ato da linguagem. Não é apenas fazer uma transposição de uma língua para outra que se configura como uma atividade tradutória, e sim conhecer os vários mecanismos existentes para se chegar ao produto traduzido. Para tanto, é preciso um conhecimento acurado sobre a língua e sua estrutura linguística, assim como sociolinguística.
No que se refere à tradução de textos literários, sendo os primeiros a serem traduzidos e interpretados na história ocidental, notamos que existem algumas regras a serem consideradas, mas é fundamental ressaltar, não são as únicas existentes. Citamos algumas:
1 Conhecer “bem” o idioma do texto de partida;
2 Conhecer as gramáticas da língua do texto de partida e do texto de chegada;
3 Conhecer aspectos culturais da língua de partida e da língua de chegada;
4 Pesquisar sobre o autor do texto de partida (se possível for, fazer uma entrevista com o autor);
5 Verificar as diversas possibilidades para tradução de palavras e frases através de um estudo criterioso;
6 Utilizar dicionários diversos: monolíngue, bilíngue, literário;
7 Pesquisar nos diversos meios de informação sobre a obra;
8 Em caso de tradução de autores contemporâneos se faz necessária a solicitação de autorização para traduzir, além de verificar os direitos autorais de obra de autores já falecidos.
Levando em consideração esses aspectos citados acima, podemos observar que além do conhecimento linguístico necessário, devemos estar atentos aos aspectos culturais, sociais e contextuais de forma geral, visto que, nosso papel enquanto tradutor está inserido em um espaço/tempo específico, nos remetendo ao que há de fato no âmbito da tradução literária.
No decorrer de nossos estudos, fizemos leituras e análises de textos referentes ao conceito de tradução e observamos que diante das dificuldades encontradas para se alcançar uma definição adequada, se faz necessário verificar-se, o quê, para quê e quais as possibilidades tradutórias relacionadas aos dois espaços de linguagem interligados nesse processo.
Estimamos e buscamos alternativas de linguagem com base nos conhecimentos adquiridos sobre as culturas /línguas e traçamos um esboço da tradução, mas não como um produto pronto e acabado e sim algo a ser pensado e escrito conforme as demandas da tarefa tradutória. Ou seja, tradução é produção escrita, criativa, construtiva e determinada por sua relação intertextual com outra escrita já existente.
Sobre a tradução literária, Woodsworth (1988) afirma que:
Une étude axée sur le sujet traduisant permettrait de redéfinir la traduction littéraire. Provisoirement, on pourrait la définir ainsi: traduire un texte littéraire, c'est créer dans une autre langue un autre texte parallèle à l'original, avec lequel le traducteur se reconnaît des affinités particulières et qu'il se donne pour mission de transmettre et de faire reconnaître dans sa propre culture. (Woodsworth,1988, p. 125).
Com base nesta afirmação, constatamos que definir tradução literária depende de alguns pormenores como espaço/tempo e propósito também, visto que toda tradução tem um objetivo bem definido pelo tradutor.
A tradução literária pode ser assim definida como uma construção textual que se baseia em outro texto para se tornar um produto pronto e acabado. É fundamental deixar claro que esse termo “acabado” não se esgota em si mesmo, pois nada é definitivo, logo uma tradução pode ser revisada e reformulada pelo mesmo autor/tradutor, dependendo de como essa tradução pode ser aceita ou não.
A pergunta pode ser feita da seguinte forma: O autor de uma tradução já publicada pode mudar suas concepções sobre o produto traduzido em questão? A resposta é SIM, o tradutor pode rever e republicar uma tradução, caso considere pertinente e perceba que houve alguns desvios de interpretação naquilo que foi colocado em sua tradução inicial. Dessa forma, pode ser feita uma edição revisada e publicada, assim como acontece em qualquer produção escrita que já foi publicada e necessite de revisão.
Rever um texto traduzido é como rever uma autoria na própria língua, por isso traduzir literatura é também produzir literatura, é criar, reviver e rever um tempo/espaço, uma sociedade, uma vida, um estado d’alma. É também construir uma linguagem própria que define a interlíngua do autor/tradutor, uma construção significativa que envolve todo um conhecimento linguístico e de mundo traçado pelo percurso de cada escritor, o que impõe, de uma certa forma, um olhar estigmatizado ao redor de si e para si, de fato é uma apropriação do outro para si e para o que se pretende criar definindo seu olhar tradutor de modo singular.
No decorrer dos anos, os processos tradutórios foram se ampliando, deixando de ser uma tarefa meramente tendenciosa, voltada para os textos literários, religiosos antigos e passando também a ser uma arte cujos objetivos ultrapassaram os muros das igrejas. Grandes autores da literatura ocidental a exemplo dos franceses Baudelaire, Rimbaud e outros, se destacaram inicialmente como tradutores de obras antigas em latim, além de traduzirem diversos textos de língua inglesa, italiana, etc.
A tradução passa a ser disseminada, divulgada e ampliada conforme as necessidades que vão surgindo com o passar dos tempos. começam a surgir, a partir de então profissionais habilitados para a tarefa de traduzir, tarefa que se inicia com os filólogos, literatos, pesquisadores interessados em determinadas áreas e vai se aprofundando, profissionalizando-se. Daí surgem os tradutores em diversos domínios do conhecimento, com habilidades específicas a cada tipo de tradução.
Enquanto que no passado a prática tradutória se reservava essencialmente aos clérigos e filólogos, hoje ela representa um mercado em franca expansão. Foi a partir do século XVIII que os serviços de tradução passaram a ser mais ativamente utilizados para impulsionar transações de cunho comercial. E, com a chegada da internet, a maneira de se traduzir mudou completamente. Ela revolucionou a forma como acessamos, compreendemos, e traduzimos textos e documentos provenientes de todo o globo, sejam eles contemporâneos ou históricos. A internet dotou os tradutores de inesgotáveis fontes de pesquisa, acesso mais fácil aos variados tipos de dicionários específicos, redes de networking e ferramentas de tradução, e portanto, representa um importante recurso para os profissionais contemporâneos. No entanto, o excesso de informações acaba comprometendo a credibilidade do que se encontra na rede. É por isso que os bons profissionais da área não se limitam ao mundo on-line. O mundo interconectado em que hoje vivemos só reforça a crescente importância da prática tradutória. Estimou-se que o mercado da tradução movimentou 37 bilhões de dólares em 2015, e este número só faz crescer. (WK, 2024, p.02)
Conforme expresso no texto do site de pesquisa da WK, o mercado de tradução, movimentou, só em 2015, ou seja, há nove anos atrás, 37 bilhões de dólares americanos, o que isso quer dizer? Que provavelmente temos um mercado promissor. Porém, ao se tratar da tradução, vimos que não é uma tarefa pura e simplesmente fácil, cujo mercado se aposse e dite as regras, por assim dizer. Traduzir requer conhecimentos diversos que envolvem vários aspectos das culturas línguas envolvidas no processo tradutor, requer uma formação específica que gira em torno da linguística aplicada às línguas estrangeiras, da sociolinguística, da filosofia da linguagem, da psicolinguística, da análise do discurso, entre outros aspectos e teorias concernentes aos textos e os contextos.
O GOOGLE TRADUTOR: UMA ANÁLISE DE FRASES SIMPLES TRADUZIDAS DO PORTUGUÊS PARA O FRANCÊS
O Google é uma das ferramentas mais utilizadas atualmente para pesquisas em geral, sejam acadêmicas, com o denominado Google acadêmico, onde os pesquisadores fazem uma varredura em busca de artigos científicos, livros, autores, teóricos, etc, nas áreas de seu interesse de pesquisa, ou mesmo o site Google mais utilizado, em que pessoas comuns buscam informações, apenas para conhecerem determinado assunto, ou até mesmo buscar o significado de uma palavra ou expressão na própria língua, ou pesquisar imagens, vídeos, propagandas políticas, em fim, com variadas possibilidades, as quais, não são consideradas pesquisas científicas, voltadas para determinada área do conhecimento e sim de interesses particulares de cada usuário.
Nosso estudo pretende fazer uma reflexão sobre as traduções do Google de frases simples e corriqueiras. Para isso, utilizaremos a ferramenta Google Tradutor como suporte de análise, partindo da própria experiência na sua utilização. Dando início, vamos trazer uma definição do que é o Google tradutor:
O Google Tradutor é um serviço virtual gratuito da subsidiaria Google da Alphabet Inc. de tradução instantânea de textos e websites. A empresa introduziu o software em 2006, inicialmente suportando apenas os idiomas inglês e árabe. Quatro anos depois, em 2010, foi lançado um aplicativo para o sistema operacional Android e, em 2011, para o iOS. O serviço é compatível com 243 idiomas diferentes.[2][3][4][5][1]
Lançado em abril de 2006 como um serviço de tradução automática estatística, ele usava documentos e transcrições das Nações Unidas e do Parlamento Europeu para coletar dados linguísticos. Em vez de traduzir os idiomas diretamente, ele primeiro traduz o texto para o inglês e depois gira para o idioma de destino na maioria das combinações de idiomas que coloca em sua grade,[6] com algumas exceções, incluindo catalão-espanhol.[7] Durante uma tradução, ele procura padrões em milhões de documentos para ajudar a decidir quais palavras escolher e como organizá-las no idioma de destino. Sua precisão, que foi criticada e ridicularizada em várias ocasiões,[8] foi medida para variar muito entre os idiomas.[9] Em novembro de 2016, o Google anunciou que o Google Tradutor mudaria para um mecanismo de tradução automática neural – Google Neural Machine Translation (GNMT) – que traduz "frases inteiras de uma vez, em vez de apenas parte por parte. Ele usa esse contexto mais amplo para ajudá-lo descobrir a tradução mais relevante, que então reorganiza e ajusta para ser mais como um humano falando com gramática adequada".[10] Originalmente ativado apenas para alguns idiomas em 2016, o GNMT agora é usado em todos os 133 idiomas da lista do Google Tradutor em maio de 2022.[11]. (Wikipédia, p,01, sem data)
Observamos, que conforme as informações retiradas da Wikipédia, biblioteca virtual, também fortemente utilizada pelo usuário comum, os serviços do Google tradutor tiveram seu início em 2006, em que apenas as línguas inglesa e árabe poderiam ser traduzidas. O serviço contou com a sua empresa subsidiária Alphabet que introduziu um software para os fins específicos de traduzir essas duas línguas gratuitamente. Com o passar do tempo, ainda conforme o próprio texto, o serviço foi ampliado e sofisticado, traduzindo até 2022, 133 idiomas.
Destarte, pensando em como o Google tradutor é acessível a trilhões de pessoas no mundo todo, além fornecer dados diversos para o usuário comum, temos em nosso estudo a intenção de verificar na prática as nuances encontradas nessas traduções automáticas. Começamos com uma frase simples utilizada no cotidiano de brasileiros para a língua francesa. Vejamos o exemplo:
PORTUGUÊS Olá, tudo bem?
FRANCÊS Bonjour tout va bien?
Frases do Google tradutor em setembro de 2024
Em termos gerais, a tradução apresentada pelo Google pode ser considerada como “normal”, atendendo as necessidades imediatas de quem traduz visto que estamos tratando de realidades linguísticas diferentes, apesar de não termos especificados na tradução automática os espaços tempo de referência. No entanto, se formos pensar sobre as frases em questão, teremos que analisar alguns pormenores das culturas línguas envolvidas e para isso, não podemos nos esquecer que é preciso conhecimento linguístico, cultural, contextual, inicialmente, para fazermos uma análise tal qual possa ser esclarecedora e apresentar as possibilidades de “falhas” na tradução que se pretende ao usuário comum.
Primeiramente, a palavra OLÁ da língua portuguesa, é uma forma de saudação comum no dia a dia do brasileiro e que pode ser utilizada de formas variadas e diversas. Vejamos os exemplos:
Saudar um visitante
Saudar um amigo
Saudar pessoas em um ambiente de trabalho
Saudar o chefe da empresa em uma reunião em situações informais
Saudar um transeunte
Saudar pessoas íntimas da família
Chegar em um ambiente desconhecido e procurar alguém
Entre outras possibilidades.
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Já a palavra BONJOUR em francês, pode ser traduzida literalmente para o português como BOM DIA. Aqui nós temos duas palavras e não uma, as quais são BOM e DIA. Se formos analisá-las separadamente, teremos variadas possibilidades para o uso comum, a saber:
BOM
Um homem BOM!
Um dia BOM!
Você é um BOM exemplo de pessoa!
Um BOM lugar para se viver!
Esse curso é muito BOM
Aqui existem apenas algumas possibilidades, há inúmeras outras que podem ser utilizadas no dia a dia, aproveitando a palavra DIA aqui:
DIA
Um DIA de trabalho longo!
Um DIA você vai me entender!
Talvez o DIA de amanhã seja melhor que hoje!
Espero que um DIA você mude de ideia!
Sábado é DIA de descanso!
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A lista é imensa, para chegarmos a um consenso, voltemos à proposição inicial, em que BONJOUR substitui OLÁ em português. Temos aqui uma palavra que literalmente é traduzida como uma saudação, embora seja uma saudação que se re signifique a cada uso, mas não deixando de ser saudação. Vejamos algumas formas de uso na tabela 5:
OLÁ
OLÁ, tem alguém aí?
OLÁ, como você está?
OLÁ, boa tarde!
OLÁ, pessoal, tudo bem?
OLÁ, poderia me ajudar?
OLÁ, quem chegou?
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Todas essas e outras são possibilidades de uso para uma mesma palavra. Lógico que sabemos não haver palavra em qualquer língua que não seja polissêmica, as variações de uso e de significado são característica inerentes às palavras de uma língua, seja em português ou em francês, mas o que estamos verificando, não são essas nuances, e sim, como determinada tradução pode alterar significativamente o sentido de uma palavra e talvez até ser mal interpretada por quem traduz. Esse risco, pode ser sanado, caso o tradutor tenha consciência dessas possibilidades existentes na tradução e saiba escolher o ‘melhor’ ( a palavra MELHOR aqui e colocada como a mais adequada para o contexto situacional da frase) termo ou expressão para traduzir aquilo que se pretende, sem causar qualquer dano à compreensão e entendimento do elemento traduzido.
Outro fator importante que deve ser levado em consideração ao se traduzir, é que não se deve traduzir palavra por palavra, como se diz em francês mot à mot, visto que, isso pode tornar impossível a compreensão do texto, frase, ou expressão que está sendo traduzida. É justamente por esse fator, que estamos fazendo esta análise. O Google tradutor é um sistema. A falha é algo que pode acontecer nesse tipo de tradução, e caso a pessoa que busca esse sistema para traduzir não tenha conhecimento necessário para escolher adequadamente a tradução que melhor se adeque ao contexto a falha pode prejudicar o diálogo, causando falha na comunicação.
Agora analisemos a segunda parte da frase …Tudo bem? em português e …Tout va bien? em francês, nesse caso, não temos grandes problemas de interpretação, visto que, nas duas línguas existe “quase” que uma tradução literal, ou seja, palavra por palavra, com uma pequena diferença na língua francesa em que encontramos o va, em português é traduzido por vai, o verbo IR na terceira pessoa do singular e poderia ser também utilizada sem qualquer alteração de sentido, porém não soaria normal para o uso comum na língua portuguesa, sabendo que nesse caso o verbo é ocultado sem prejuízo algum e por isso nos faz compreender como uso mais comum e ideal na nossa língua.
Verificamos que nessa fragmentação da frase não há riscos para o diálogo, portanto nada pode causar ruído na comunicação. Sintetizando até aqui, a tradução do Google é eficaz no seu uso corriqueiro, não dando margem a interpretações prejudiciais nesses casos mais simples, o que não quer dizer que não seja necessário um conhecimento mínimo para uso da tradução em contextos diversos.
Continuando nossa análise vejamos uma outra frase simples:
PORTUGUÊS Hoje está quente!
FRANCÊS Aujourd’hui, il fait chaud!
Frases do Google tradutor em setembro de 2024
Ao lermos a frase em português, vemos que ela é composta de advérbio HOJE, verbo ESTÁ e adjetivo QUENTE, ou seja, três palavras que sinalizam uma circunstância de tempo. Poderíamos ainda dizer “Hoje o dia está quente!”, ou, “Faz muito calor hoje!”, ou apenas “Faz calor!”, todas podem ser interpretadas da mesma forma com o mesmo sentido sem prejuízo.
Em francês, temos na tradução do Google, quatro palavras, advérbio AUJOURD’HUI, pronome pessoal IL, verbo FAIT, adjetivo CHAUD, mas que pode ser traduzido também como advérbio. Ora, aqui ocorre uma mudança de estrutura frasal que se explica pelos termos utilizados na tradução do Google, porém essa alteração não interfere na proposição do que se traduz, visto que é uma tradução aceitável e comum. Com isso corroboramos a ideia de que a tradução do Google contempla as necessidades imediatas no que concerne às traduções de frases simples e corriqueiras, porém é preciso que tenhamos bastante cuidado e sabermos exatamente o que e como traduzir, daí a necessidade de conhecer a língua para saber traduzir corretamente.
Na frase traduzida acima, o verbo utilizado não é o mesmo que se poderia traduzir literalmente do português para o francês. Nesse caso, teríamos na tradução o verbo ÊTRE que em português significa SER e ESTAR, logo, na tradução literal da frase do francês para o português, teríamos:
HOJE ELE FAZ QUENTE
Observamos que essa tradução não faz sentido em português, isso porque, ELE é um pronome pessoal que substitui uma pessoa, alguém e na lógica da língua portuguesa, uma pessoa ou alguém não pode fazer quente, a não ser que haja uma ideia ocultada na frase que poderia ser interpretada como: Hoje ele faz amor quente. Nesse caso, a palavra QUENTE traz um outro sentido, tal que se define como figurado, dando uma ideia de prazer e não de calor referente à temperatura do dia. Ocorre nesse momento uma mudança total de sentido na frase inicial que produz um significado corriqueiro e literal de um dia quente. Na tradução imediata não há problema algum, haja vista que é característico de qualquer língua as mudanças necessárias para se traduzir.
No entanto, colocamos aqui o questionamento para que haja uma reflexão sobre o cuidado que devemos ter ao traduzir, buscando conhecer BEM a língua para que não haja qualquer equívoco nesse processo tradutor. Ora se estamos aqui falando de tradução automática feita por um sistema, sabemos que não há reflexão sobre o traduzido pelo sistema, daí precisamos ter em mente que a tradução não é literal, assim como não é literal ao fazermos sem o uso desse ou qualquer outro recurso.
Na maioria das vezes, os estudantes de língua estrangeira iniciantes, ou mesmo um leigo quer traduzir palavra por palavra, sem se preocupar com o sentido do texto. Já vimos que isso não é possível e torna o texto incompreensível. Quando nos comunicamos com pessoas de línguas diferentes, percebemos que a dificuldade de compreensão muitas vezes se encontra na necessidade que o interlocutor, ou interlocutores têm de tentar traduzir tudo o que é dito pelo outro na sua língua de origem, assim causando um ruído na comunicação. Isso vale também para as traduções que aqui estamos analisando. Nossa proposta é justamente mostrar que, mesmo havendo uma tradução no Google que contemple as necessidades básicas imediatas, é preciso saber, conhecer e refletir sobre os processos tradutórios.
Vimos acima que a tradução não é uma tarefa fácil, mas para muitas pessoas que buscam o sistema Google, parece ser, logo, nos deparamos com situações complexas que devem ser analisadas cuidadosamente para que não haja qualquer efeito contrário e prejudicial ao entendimento mútuo. A ideia é que a tradução sirva como um modelo de possibilidade comunicativa, referencial e que contribua de modo efetivo para o diálogo e compreensão interativa entre textos e pessoas de línguas diferentes. Há que se pensar sobre cada utilização para que a reação seja adequada.
EM VIAS DE CONCLUSÃO
Não queremos com isso dizer que as traduções do Google sejam um problema, mas sim mostrar que mesmo havendo um sistema que possa auxiliar, até mesmo, em uma situação de comunicação como esta que envolve línguas diferentes, é preciso ter ciência de que o sistema é uma máquina passível de falha, portanto somos nós seres humanos pensante e criadores desse mesmo sistema que devemos conhecer o saber fazer da tradução para que não haja grandes dificuldades na hora da comunicação.
Nossa intenção nesse artigo foi mostrar como as traduções automáticas são e de que forma a situação em que se encontra a frase traduzida pode ser interpretada, com suas nuances e variações, as quais dependem intrinsecamente das relações linguísticas/ culturais que envolvem as duas línguas em questão. Aqui estamos falando, do português brasileiro e do francês estandarte que em geral é modelo para a tradução automática. Mesmo com as modernizações que o Google hoje propõe ao realizar as traduções, ainda assim, é preciso ter esse cuidado para que a interpretação não seja equivocada, até porque já sabemos que nem toda palavra, ou expressão é passível de tradução.
Em vias de conclusão, podemos argumentar ainda que mesmo nós seres humanos encontramos dificuldades no ato de traduzir, pelas barreiras linguísticas, culturais, lexicais, etc. Em se tratando de uma máquina, as dificuldades são maiores ainda. O quê, o como e o para que traduzir dependem intrinsicamente das demandas de quem traduz, ou seja, a variação na tradução dessas frases simples traduzidas pelo Google pode ser relativizada conforme a situação ou contexto do processo tradutório.
REFERÊNCIAS
A História da Tradução. Disponível em: https://www.wktraducoes.com.br/articles/artigo-07-a-historia-da-traducao.pdf. A HISTÓRIA DA TRADUÇÃO. Acesso em: 03/09/2024.
Berman, A. L’Épreuve de l’étrange., Paris: Gallimard, 1984.
Casanova, P. La République mondiale des Lettre. Paris: Seuil,
1999.
Dumeril, E., Le Lied allemand et ses traductions poétiques en France. Paris: Champion, 1933.
Traduções do Português para o Francês. Disponível em: Google tradutor. Acesso em: 03 de setembro de 2024.
Google Tradutor. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Google_Tradutor. Acesso em: 03/09/2024.
Woodsworth, J. Traducteurs et écrivains : vers une redéfinition de la traduction littéraire. TTR : traduction, terminologie, rédaction, 1(1), 115–125. Disponível em: https://doi.org/10.7202/037008ar. 1988. Acesso em: 11/07/2024.