PRODUÇÃO TEXTUAL NO BRASIL – I
PRODUÇÃO TEXTUAL NO BRASIL – I
Três milhões de pessoas fizeram a prova do Enem 2024. Apenas 12 tiraram a nota máxima, a tão sonhada nota 1000. Parece ser mais fácil ganhar na loteria do que atender a todos os critérios exigidos pelo Exame Nacional do Ensino Médio. Diante do cenário, vamos nos atentar a 3 pontos: 1) a mídia não revela quantos tiraram 980; 2) a seriedade do certame; 3) a qualidade do ensino.
O fato de a mídia não divulgar quantos estudantes obtiveram 980 ou notas acima de 900 pontos contribui para a sensação de que os resultados são piores do que imaginamos, além de fomentar nos candidatos a ideia de que apenas a nota máxima merece louvores. Ora, a nota 980 é resultado da atribuição da nota máxima por parte de um dos corretores (geralmente são dois). Ao não divulgar a quantidade de textos com pontuação elevada, promove-se o sentimento de frustração, pois os estudantes que ainda não fizeram a prova tendem a achar o processo ainda mais penoso.
É evidente que a nota não representa definitivamente o redator, que pode ter tido dificuldades diversas no momento da escrita – de questões emocionais a pouco domínio sobre o tema proposto, sobre o qual o estudante muitas vezes sequer teve a oportunidade de discutir oralmente. Isso diz sobre o discente ou sobre o sistema educacional?
Acerca da seriedade do Exame, é importante lembrar que este passou por várias mudanças desde sua implantação em 1998, quando seu objetivo era primordialmente avaliar a qualidade do ensino, haja vista que os estudantes eram submetidos para termos uma noção do desenvolvimento da educação brasileira. Desde 2009, o Exame é adotado como principal forma de ingresso em várias universidades brasileiras.
Sobre os critérios de correção, cada texto é avaliado considerando cinco competências que medem a capacidade do candidato de produzir um texto dissertativo-argumentativo de acordo com os critérios estabelecidos. Essas competências garantem que a redação seja avaliada de maneira justa, uniforme e criteriosa. Abaixo, detalho as cinco competências, cujas pontuações vão de 0 a 200:
1. Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita: avalia o uso adequado da gramática, ortografia, concordância verbal e nominal, pontuação, regência e outros aspectos normativos da Língua Portuguesa, além do nível da linguagem, da precisão linguística e do paralelismo sintático.
2. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema, respeitando os limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo: verifica se o candidato abordou o tema proposto de forma relevante e se utilizou conhecimentos interdisciplinares para enriquecer a argumentação. Requer do candidato a leitura atenta do tema proposto, além da estruturação do texto com introdução, desenvolvimento e conclusão. É essencial trazer argumentos consistentes e contextualizados.
3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista: avalia a capacidade de argumentação do candidato, considerando o uso de dados e informações relevantes para defender uma tese.
4. Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da coesão do texto: analisa a capacidade do candidato de estabelecer conexões entre as partes do texto, garantindo fluidez e clareza na leitura, por meio do uso de conectivos, pronomes, sinônimos e outros recursos que contribuam para ligar ideias, frases e parágrafos.
5. Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos: exige que o candidato apresente uma solução para o(s) problema(s) discutido(s) no texto, considerando a viabilidade e respeitando os direitos humanos. A proposta de intervenção deve responder ao problema do tema e incluir 5 elementos:
1. Agente: quem realizará a ação? 2. Ação: o que será feito? 3). Meio ou modo: como será feito? 4) Finalidade: por que será feito? 5) Detalhamento: uma informação mais delongada/específica sobre um ou mais elementos mencionados.
Todos esses critérios demonstram a seriedade do Exame. No entanto, o problema ocorre quando o grau de exigência esbarra nas falhas do ensino de Produção Textual. A começar pelo fato de que aluno participa de situações por vezes irreais e falseadas de comunicação, desmotivando-o, visto que não vê muito propósito na escrita nessas circunstâncias. E, não raro, o texto morre no caderno do aluno, apenas com um visto do professor.
Sobra avaliação inadequada; faltam atividades de reescrita, a oportunidade de o estudante revisitar seu texto e considerar os aspectos discursivos e gramaticais que lhe exigem atenção e refeitura...