A escola do futuro 

R. Santana

 

     A escola do futuro não será o modelo atual e não é necessário ser um futurólogo, um Paulo Freire, um Vygotsky, um Piaget, um Henri Wallon, um Anísio Teixeira, ou seja, um cientista da educação para entender que a escola de hoje está doente das pernas e não sobreviverá por muito tempo, pois além dos problemas de aprendizagem que vêm se arrastando muito antes do movimento da “Escola Nova”, que de maneira sábia, valorizou mais a capacidade de discernimento do que o processo de memorização, o sujeito da aprendizagem não é mais um repositório de informação, mas um ser de capacidade de julgamento crítico e produtivo.

     Hoje, além dos problemas estruturais (política salarial aviltante, profissionais sem vocação e descomprometidos, carência de materiais didáticos, instalações físicas precárias, exploração comercial, etc.), a escola é vítima da violência, do narcotráfico, e, os crimes escolares que grassam aqui, acolá e alhures, não são mais casos isolados, mas índices estatísticos, malucos de ideias e de drogas estão promovendo carnificinas repugnantes naquela que deveria ser, somente, a casa de formação cívica e saber.

     Com o advento da informática e da internet, o conhecimento não é mais privilégio de poucos. Os fatos, em qualquer lugar do mundo, são transmitidos e vistos em tempo real. Afora alguns conhecimentos técnicos de direitos autorais alienados às indústrias e protegidos das especulações comerciais e as tecnologias bélicas que asseguram a segurança dos estados, as bibliotecas tradicionais e as bibliotecas virtuais, possuem todo conhecimento sistematizado produzido pela humanidade e de domínio público, logo, o saber é mais um ato de vontade, é querer aprender, é determinação, é consciência cívica.

     Não se pode negar o papel fundamental da escola no desenvolvimento afetivo, social, moral e intelectual do homem desde os sofistas até os dias atuais, seria uma injustiça histórica, seria tampar o sol com a peneira, a escola é o embrião da ciência, porém, o modelo de escola atual é que não mais se sustenta e será necessário que os pedagogos e os cientistas da educação encontrem outro caminho de uma escola mais dinâmica e atualizada, uma escola mais segura, uma escola mais acessível, uma escola mais comprometida com a aprendizagem e formação do sujeito.

     Vai longe o tempo que a escola publica ou privada tinha ensino de qualidade, não obstante as distâncias e acesso (escolas da zona rural), dificuldades de professores com formação específica (a maioria leiga, às vezes, sem curso médio ou fundamental incompleto), instalações inadequadas, material didático improvisado, metodologia imprópria e atitudes radicais de avaliação e educação dos mediadores da aprendizagem, valorizava-se mais as normas de comportamento do sujeito e a memorização dos conteúdos em detrimento do desenvolvimento intelectual.

     Os estágios de desenvolvimento piagetiano: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório-formal não são mais os mesmos, as crianças cresceram mentalmente e fisicamente. Hoje, a idade escolar inicial é de 4 anos e o adolescente de 16 anos participa do processo eletivo do chefe da nação. A evidência atual que os estágios de desenvolvimento cognitivo não são os mesmos apregoados pela “Epistemologia Genética”, é que existe um clamor social para que a maioridade penal seja reduzida e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja reformulado e adaptado à realidade da sociedade contemporânea.

     Não é fácil mudar conceitos arraigados, situações definidas, interesses inconfessáveis, “Status quo”, pois o novo faz medo e encontra resistência. O Criacionismo, por exemplo, é mais cômodo para religião do que a Teoria da Evolução de Darwin. Certamente, irá ocorrer a mesma coisa com a escola atual, qualquer projeto de mudança esbarrará em enésimos empecilhos, porém, mais cedo ou mais tarde, o modelo atual esgotado, o ambiente onde se processa o ensino-aprendizagem será outro, mais dinâmico e mais eficiente.

     Alfabetizar é capacitar o sujeito da aprendizagem na leitura e na escrita. Alfabetizado é ser capaz de escrever, compreender e explicar o que leu. Se o indivíduo não domina a escrita e a leitura, apenas assina o seu nome ou ler a placa de um ônibus do seu bairro, é um analfabeto funcional. A escola do futuro vai exigir que o indivíduo seja alfabetizado ainda nas séries iniciais para desenvolver suas potencialidades e construa o seu saber.

     Embora o ato de aprender seja solitário, o processo de aprendizagem é a interação do sujeito com o seu meio ambiente e Piaget acrescenta que o sujeito aprende aquilo que lhe é significativo e conforme sua predisposição genética, se o objeto não tem significado o aprendiz não tem interesse e não haverá nenhuma transformação intelectual.

     A escola convencional não motiva mais o sujeito da aprendizagem, além do conteúdo sem finalidade prática e intelectual, o meio ambiente não possui os estímulos necessários para aprendizagem de qualidade, até os conteúdos transversais não atendem mais ao interesse de uma clientela ciosa de informação atualizada. Os cursos de educação à distância, tomam conta do mercado. Com as novas tecnologias, o ambiente presencial não é condição sine qua non no processo ensino-aprendizagem.

     É difícil predizer o modelo da escola do futuro, certamente, seguirá o caminho da ciência da computação porque os recursos de imagem e de linguagem estão cada vez mais sofisticados – computador, laptop, laptop infantil, tablet, idphone, celular, data show, fotoshow, etc., etc. - professor e aluno podem estar separados a quilômetros de distância, que a interação e o feedback não serão prejudicados.

     Enfim, a escola do futuro sua clientela ao invés de ter livros, ela terá computadores ligados à web, ao invés de professores, mediadores da aprendizagem, ao invés de salas de aula, centros de consulta e informação, ao invés de avaliação individual, exame nacional anual em todos os níveis de aprendizagem e os cursos de formação profissional completariam sua carga horária nas instituições específicas. Decerto, essas novas ferramentas subsidiarão uma nova pedagogia, uma nova escola...

 

Autor: Rilvan Batista de Santana

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Membro da Academia de Letras de Itabuna

Imagem: Google