UM ENCONTRO INADIÁVEL
Confesso que tenho ouvido cada tolice a respeito da Inteligência Artificial na Educação! Culpa talvez da santa ignorância de se acreditar que ela seja tão somente o CHATGPT e seus assemelhados. A IA vai muito, muitíssimo além de uma reles ferramenta dessas!
Recentemente, li que o excelente INSTITUTO SEMESP (um centro de inteligência do Serviço de Melhorias para o Ensino Superior Privado) pesquisou e concluiu: 74,8% dos docentes da Educação Básica do Brasil enxergam a Inteligência Artificial como uma grande aliada no ensino. No entanto, apenas 39,2% deles admitiram utilizar essas ferramentas com regularidade em sala de aula. Portanto, uma considerável distância entre a crença na tecnologia e seu uso na prática. Culpa do professorado?
Claro que não! Alguns são realmente avessos a qualquer inovação. Mas uma considerável maioria, decididamente, não tem esse comportamento jurássico, quer mesmo mudar e melhorar. Também, seria a maior desfaçatez e injustiça esperar que os professores assumam sozinhos a responsabilidade de toda a mudança. O sistema educacional como um todo precisa se adaptar para apoiá-los nessa “revolução”. É urgente, pois, prover recursos e repensar as políticas públicas de formação dos docentes, currículo e gestão escolar. Chega de sobrecarregar os educadores!
Pois é! Eis que o pobre professor é “penalizado” com uma quantidade enorme de tarefas repetitivas, digamos, ainda tão “artesanais” (no mau sentido, é claro!). Ele tem uma trabalheira danada para preparar aulas, atualizar conteúdos, corrigir tarefas, calcular e lançar notas de alunos, tudo isso quase sempre fora do horário de trabalho, de maneira não remunerada. Será que ele ou a escola desconhecem ou rejeitam o fato de que a Inteligência Artificial pode resolver tudo isso num piscar de olhos? É possível, sim, que boa parte nunca tenha mesmo ouvido falar de ferramentas como a “PeerTeach”, que não somente conecta alunos para trabalhos em equipe, mas também personaliza o aprendizado. Ou da “Letrus”, que corrige redações, liberando os docentes para que se dediquem mais a orientar os alunos em suas dificuldades linguageiras. E não é que a Inteligência Artificial consegue ofertar tudo isso e muito mais de mão beijada, num estilo, inclusive, que se supõe mais “palatável” à nova geração de alunos já nascidos no ambiente digital?
“A tecnologia traz a dispersão dos alunos” - reclamam. Traz!... E daí? Mas ela também elimina uma série de tarefas automáticas e isso abre caminhos para aliviar não somente o professor, mas também para permitir que os alunos atuem mais no campo criativo e menos nas tarefas rotineiras. Talvez sobre até mais tempo e oportunidade para se dedicar àquilo que o futuro vai exigir de todos nós, ou seja, as nossas competências socioemocionais.
Afinal, a capacidade de criar e manter relações verdadeiramente humanas é o que nos distinguirá das máquinas, doravante. Que fique, aliás, bem claro: a tecnologia, sozinha, não vai resolver nenhum grande problema humano! Essa tarefa ainda compete aos homens, através do uso de suas habilidades socioemocionais. O xis da questão está, exatamente, em aprender e ensinar a fazer isso em um ambiente altamente tecnológico. Esse “aprendizado”, obviamente, precisa ir muito além do ingrediente “técnico”; ele, inclusive, desafia a todos os envolvidos na Educação a refletirem criticamente sobre as implicações éticas da IA, essas que tanto tememos.
O fato é que a IA, além de facilitar o trabalho do professor, otimizar o aprendizado e personalizar o ensino, fornecerá, sim, o espaço adequado para se dedicar ao desenvolvimento de habilidades humanas fundamentais como empatia, trabalho em equipe, liderança, capacidade de resolver conflitos, criatividade etc. Tudo vai depender de o professor conseguir lidar com o conjunto todo, ou seja, com as máquinas inteligentes e com os homens que se propõem a sê-lo, cada um a seu modo, no seu “quadrado”.
Mas, afinal, a IA vai substituir o professor? Nada disso, pura falácia! A Inteligência Artificial, quando bem usada, vai é livrar o professor de tarefas repetitivas e chatas, disponibilizando-o para atuar em contextos mais significativos e inovadores. E isso não pode ser taxado de “substituição”. Para mim é “promoção”. É claro que o papel do professor vai mudar! Ele não precisará ser um mero “papagaio”, a transmitir informações. Sua principal atuação será como facilitador de interações humanas e reflexões profundas.
Ribeirão Preto, 16 de outubro de 2024