VIA CRUCIS
VIA CRUCIS
Em pleno século da informação e farta disponibilidade de equipamentos, rica tecnologia, com inovações que não conseguimos acompanhar, ser professor é uma tarefa, além de hercúlea, quase impossível na plenitude que se deseja.
O déficit de preparados profissionais é cada vez maior, enquanto crescem os desafios inerentes à profissão somados aos problemas periféricos do mundo moderno, enquanto desproporcionalmente decrescem o prestígio e a justa compensação financeira.
Como um dogma irremovível, uma marca não sai dessa profissão – admiração e discursos elogiosos em datas como a do DIA DO PROFESSOR e o entendimento de que devemos exercer nossa profissão como um “sacerdócio” e executar nosso trabalho com abnegação até exaurir a última gota de energia que possa ainda existir.
Para começar, professor não tem dia. O dia de cada professor estende-se madrugada a dentro depois de fazer seu trabalho em horário comercial. Não pode errar nunca, tendo que se vigiar para não cair em armadilhas nesse mundo perverso da “pós verdade” ou verdade relativa.
Em tempos de inteligência artificial, pessoas artificiais estão se tornando cada vez mais menos inteligentes. Especialmente no nosso imenso e diversificado Brasil. Estamos passando por um período de extrema pobreza intelectual com profusão de pautas religiosas e falso moralismo.
Custa acreditar que profissionais da educação embarquem nessa onda maligna. Trazem de fora para dentro da escola questões que em nada contribuem para o desenvolvimento da ciência, da visão crítica da sociedade, do raciocínio lógico e, consequentemente do emprego da razão e da razoabilidade.
O passado é um espelho que repete a construção da imagem para o futuro. Quem despreza o passado não sabe que futuro deseja. Portanto, é preciso olhar para trás para saber que caminho tem trilhado como indicativo de traçar o caminho futuro. Explico!
Num tempo não muito distante, o salário do profissional da educação era ainda pior, mas se tinha respeito e admiração. Nos dias atuais, o salário continua parco e o respeito e admiração não existem mais. Professores são ridicularizados, ignorados, vilipendiados e execrados mal malditas redes sociais por grupelhos e os tais “influencer’s” que não sabem de si, mas orientam massas. São guias cegos mentalmente.
É hilário perceber que o professor acionava a família depois dos enfadonhos conselhos de classe para “entregar” o aluno. Falar sobre o mal desempenho, do comportamento inadequado, da falta de empenho, do não cumprimento das atividades, etc. O aluno recebia em casa, quando não, por vezes, a correção começava mesmo na escola por pais compromissados e responsáveis.
Hoje, o professor que ousa “entregar” o mal aluno, recebe reprimendas até de colegas “moderninhos”, do chefe imediato, do aluno e dos pais que se revoltam com o tratamento ‘desumano” para com seus pupilos, quase santos. Para não entrar nessa guerra, aonde o professor é irremediavelmente derrotado, um pacto da mediocridade é estabelecido: eu não te denuncio, você continua medíocre, não me persegue e eu não te reprovo. O resultado é catastrófico para a sociedade.
Professores que fazem seu trabalho com seriedade e alguma rigidez, são vítimas preferidas dos ataques dessa turba que se avoluma exponencialmente nas salas de aula e até fora da escola. Professores de matemática sabem muito bem do que estou a dizer. Somos odiados gratuitamente, não pelo que somos, mas pelo que tentamos ensinar. Esse estigma está tão solidamente arraigado nas sociedades que é quase impossível removê-lo.
Quem ainda lembra dos mimos que professores recebiam em sala de aula por alunos que viam em seus mestres modelos de pai e mãe que gostariam de ter? Pois bem! Há que se ter muito cuidado hoje em fazer amizades com alunos, pais de alunos, ajudar eventualmente algum aluno que esteja em dificuldades outras que não sejam somente pedagógicas. Você pode ser severamente punido por suas boas ações e intenções. Os moralistas e, mais rigorosamente, os falsos moralistas de plantão vão transformar você numa bruxa e depois vão atear fogo em sua vida. Vão destruir sua carreira, te julgar e condenar. São os sociopsicopatas - não estabelecem limites afetivos e não sentem remorso quando causam mal aos demais.
Relato isso porque sou testemunha de um caso assustador que está acontecendo com um ex-aluno. Conheço-o há mais de 30 anos. Primeiro como excelente aluno, depois como amigo pessoal e posteriormente, nos últimos 15 anos, como colega de trabalho.
AFIRMO, com letras maiúsculas, que se trata de um excelente profissional da matemática, um ser humano exemplar. Tenho a história e o tempo como elementos irrefutáveis da minha consideração a meu favor que embasam o que digo.
Uso o caso desse meu aluno para fundamentar o que afirmei acima. Não vou citar seu nome para não contaminar o processo, uma verdadeira Via Crucis, a meu ver, já contaminado pela forma como está sendo conduzido, com forte cheiro de perseguição gratuita e remanente ressentimentos, manipulação de alunos e cerceamento da defesa. Lamento pela situação vexatória do meu ex-aluno. Que ele tenha um julgamento justo e honesto.
Concluindo. Mais um “Dia do Professor”. Não há o que comemorar. Já está voltando a educação espartana em detrimento da linha ateniense. Não demora muito alunos e auxiliares educacionais tornar-se-ão bedéis e a cafua será restabelecida com uma inovação: os alunos terão as chaves. Professores serão encarcerados. Quem precisa de professor, quando o conhecimento está disponível em celulares, computadores? É tempo dos coach’s.
COSN