O Desafio dos Professores na Era Digital
Nos últimos anos, o ensino em sala de aula passou por grandes mudanças. Com a chegada da tecnologia, os professores enfrentam um novo desafio: competir com os celulares e o acesso a todo tipo de conteúdo que os alunos têm na ponta dos dedos. Antes, o papel do professor era mais focado em passar o conhecimento de forma direta. Hoje, ele precisa atuar como um guia, ajudando os alunos a navegarem por essa imensidão de informações disponíveis na internet.
As novas tecnologias trouxeram muitos benefícios para a educação, mas também tornaram mais difícil manter a atenção dos alunos. Pesquisas recentes mostram que o uso de celulares na sala de aula é um dos maiores motivos de distração. Aplicativos de redes sociais, vídeos e jogos competem diretamente com o conteúdo que o professor está tentando ensinar, e isso pode prejudicar o aprendizado. Um estudo do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) mostrou que mais de 45% dos estudantes brasileiros dizem que os celulares atrapalham sua concentração, especialmente em matérias mais difíceis, como matemática.
Além disso, a UNESCO destacou, em um relatório recente, que o uso exagerado de celulares na escola pode afetar a capacidade de aprendizado, reforçando que os professores precisam criar formas de engajar os alunos e usar a tecnologia de maneira positiva.
Paulo Freire, um dos maiores educadores brasileiros, sempre defendeu que a educação é um diálogo, e não apenas uma transmissão de conhecimento. Em seu livro Pedagogia da Autonomia, Freire afirma que o professor precisa atuar como um facilitador, ajudando o aluno a construir seu próprio conhecimento. Na era digital, esse papel de mediador é ainda mais importante. O professor não só ensina o conteúdo, mas também orienta os alunos sobre como usar as informações que encontram na internet de forma crítica e inteligente.
Essa tarefa não é fácil, já que o professor precisa competir com o entretenimento digital. Segundo o especialista Antônio Álvaro Soares Zuin, a tecnologia pode ser uma grande aliada do aprendizado, desde que os professores estabeleçam regras claras para o seu uso.
Freire também enfatizava a importância da parceria entre a família e a escola no processo de ensino. Quando os pais participam da educação dos filhos e ajudam a controlar o uso das novas tecnologias, os resultados são muito melhores. Por outro lado, a escola precisa trabalhar junto com as famílias, criando espaços para o diálogo e orientando sobre o uso consciente da tecnologia.
Um relatório da UNESCO de 2023 também apontou que essa parceria entre família e escola é essencial para que os alunos desenvolvam uma relação saudável com a tecnologia e aproveitem ao máximo seu potencial para o aprendizado.
José Manuel Moran, um dos pioneiros em integrar tecnologia na educação no Brasil, argumenta que as escolas precisam se adaptar às mudanças e rever suas metodologias. Ele defende que o desafio não é eliminar o uso dos celulares, mas sim usá-los de maneira produtiva em sala de aula. A tecnologia pode ser uma grande aliada, permitindo novas formas de engajamento e acesso a diferentes fontes de informação, além de facilitar projetos colaborativos.
Porém, para que isso funcione, é fundamental que os professores estejam preparados para usar essas ferramentas de forma eficaz, criando um ambiente de aprendizado mais dinâmico e envolvente.
Bibliografia
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 22ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2016.
ZUIN, Antônio Álvaro Soares. A Era da Interatividade: O Professor, as Novas Tecnologias e a Alteridade Digital. Campinas: Papirus, 2000.
MORAN, José Manuel. A Educação que Desejamos: Novos Desafios e Como Chegar Lá. Campinas: Papirus, 2007.
UNESCO. Relatório Global de Educação 2023. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000370565. Acesso em: 06 out. 2024.
OCDE. Relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). Disponível em: https://www.oecd.org/pisa/. Acesso em: 06 out. 2024.