BOI DE LEONARDO: um olhar sobre o ritual de morte do bumba meu boi, com destaque para a madrinha e o mourão
Débora Cristina dos Santos Silva
Ana Socorro Ramos Braga
RESUMO
Este artigo visa apresentar uma breve reflexão sobre os elementos performáticos durante o festejo do Boi de Leonardo e compreender em que medida eles contribuem para a continuidade das tradições e costumes do ciclo festivo. Aqui, a ênfase sobre as ações dos integrantes/brincantes, bem como o processo do batizado ao ritual de morte dos Bois busca revelar um olhar para a madrinha e o mourão. Este trabalho tem por base empírica a pesquisa de campo realizada no bairro Liberdade na sede do Boi, no período de maio a setembro de 2023. Nesta pesquisa, pretendo destacar o modo dinâmico presente nessas micro-relações interpessoais e interculturais, ao sublinhar que não é apenas a dimensão religiosa, mas a interação coletiva que aproxima e une os brincantes. Desta maneira, estabeleci interlocução com alguns estudiosos da área tais como: Borralho (2012; 2015; 2020); Zéca Ligiério (2011); Sérgio e Mundicarmo Ferretti (1996; 2013; 2014) e Maria Cano(2018). Nesta perspectiva, a partir de uma interpretação simbólica com foco na interação coletiva do grupo, identifico que do batizado ao ritual de morte ou matança, ocorre de forma integrada dos moradores em torno da festa do Bumba Meu Boi e um de seus pilares de atuação, que é a comunidade. Trata-se de uma ocasião de renovação na qual os devotos e participantes apresentam sua gratidão aos santos e entidades religiosas de matriz africana pelas bênçãos recebidas.
Palavras – chave: Boi de Leonardo. Performance. Ritual de morte. Teatro popular.
LEONARDO'S OX: a look at the ritual of death of the bumba meu boi, with emphasis on the godmother and the fence post
ABSTRACT
This article aims to present a brief reflection on the performative elements during the celebration of Leonardo's Ox and to understand to what extent they contribute to the continuity of the traditions and customs of the festive cycle. Here, the emphasis on the actions of the members/players, as well as the process from baptism to the ritual of death of the Oxen, seeks to reveal a look at the godmother and the fence post. This work is empirically based on field research carried out in the Liberdade neighborhood at Boi's headquarters, from May to September 2023. In this research, I intend to highlight the dynamic mode present in these interpersonal and intercultural micro-relationships, by emphasizing that it is not only the religious dimension, but the collective interaction that brings together and unites the players. In this way, I established dialogue with some scholars in the area such as: Borralho (2012; 2015; 2020); Zéca Ligiério (2011); Sérgio and Mundicarmo Ferretti (1996; 2013; 2014); Maria Cano(2018). From this perspective, from a symbolic interpretation, focusing on the collective interaction of the group, I identify that from the baptism to the ritual of death or killing, there is an integrated way of the residents around the Bumba Meu Boi festival and one of its pillars of action, which is the community. It is an occasion of renewal in which the devotees and participants present their gratitude to the saints and religious entities of African origin for the blessings received.
Keywords: Leonardo's Ox. Performance. Ritual of death. Folk theatre.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como intento realizar uma breve reflexão acerca dos elementos performativos presentes no ritual de morte do Boi de Leonardo e compreender em que medida se relacionam na construção do ciclo festivo. Desta maneira, pretende-se destacar o ritual de morte do Boi, considerando as dimensões estéticas e artísticas que se inserem nesta manifestação. E, com isso, evidenciar o modo dinâmico presente nas micro-relações interpessoais e interculturais, por isso, esta análise visa ultrapassar o aspecto religioso, ao mostrar que, para muitos, é considerada apenas uma cerimônia sagrada ligada somente à religião, mas a partir de um olhar artístico teatral, pode-se transpor ou tensionar essa dimensão. Assim, o ciclo festivo do Bumba Meu Boi de Leonardo carrega um conjunto de significados: promessas, dramatizações performáticas, agradecimentos por desejos alcançados, ao passo que, uns dão continuidade aos desejos de seus antepassados, preservados ao longo dos tempos.
Este trabalho emerge da motivação pessoal e artística. O meu interesse pela cultura popular iniciou-se ainda na infância, quando me apaixonei pelo Bumba Meu Boi ao prestigiar as apresentações na escola, nas ruas, nas praças e no centro histórico de São Luís. Assim, o contato com esta manifestação cultural, apesar do encantamento e admiração, sempre foi limitado, contudo, não tive a oportunidade e nem a disponibilidade de participar ativamente das festas, então fui uma espectadora desde sempre, mas com um olhar apaixonado. Ao entrar no curso de Licenciatura em Teatro no ano de 2017, aproximei-me ainda mais da cultura popular, pois voltei o meu olhar artístico ao Bumba Meu Boi. Desde as temáticas de trabalhos acadêmicos curriculares, buscava aprimorar meus conhecimentos sobre tal tema que sempre fora instigador.
Desta maneira, esta pesquisa se justifica no sentido de que faz uma abordagem de uma manifestação cultural popular porque as cenas são realizadas em espaços não convencionais do teatro ao ar livre, ou seja, foge às formas teatrais hegemônicas eurocêntricas. As cenas improvisadas durante a morte dos Bois representam um conjunto simbólico de ações que denotam gestos, ladainhas, renovações, tramas desenvolvidas na brincadeira mediada por conflitos (Catirina deseja comer a língua do boi preferido do patrão), inseridas na dimensão religiosa demarcada ao lado dos elementos afetivos e culturais.
Os recursos metodológicos usados na estruturação deste artigo foram a pesquisa bibliográfica, a pesquisa de campo na sede e na casa de alguns integrantes do Boi de Leonardo. A coleta de dados foi feita por meio da observação direta e participante, visita de campo e conversas para coleta de narrativas que se constituem em memórias de vidas passadas de geração a geração. Com isso, reafirma-se que a abordagem qualitativa consiste na dinâmica da pesquisadora se deslocar diretamente na realidade, estudar e compreender as múltiplas relações existentes, preocupando-se em analisar e interpretar aspectos, descrevendo a complexidade dos comportamentos e a investigações, de “hábitos, atitudes e tendências de comportamento” (Marconi; Lakatos, 2008, p. 269).
No Maranhão, existe uma riqueza diversificada de grupos de Bumba meu Boi, cada um com sua singularidade e diferenças na maneira de expressar cenicamente sua cultura. De modo que tornou-se indispensável apreender os múltiplos significados presentes na modalidade cênica popular Bumba Meu Boi: o movimento dos corpos no ritual de morte, as vibrações dos instrumentos, especialmente as zabumbas, tambor de fogo, pandeirinho e o maracá, e a performance dançante dos personagens - tapuias (índias), vaqueiros, Catirina, Pai Francisco, a burrinha, cantadores e zabumbeiros, chapéus de fita, batuqueiros e a ama, que se transfiguram no espaço das ruas, praças, esquinas, casas, dentro de uma singular temporalidade.
Uma parte deste rico patrimônio foi estudada nos aspectos “[...] relacionados à religiosidade popular católica, com os batismos dos Bois; aos cultos afro-maranhenses, com os Bois de Terreiro; e às formas de expressão artística, com os bailados dos brincantes” [...]. Revelando assim os saberes produzidos coletivamente (IPHAN, 2011. p.9).
Quanto às etapas de escrita e pesquisa, destaco a fase exploratória de elaboração da escrita acadêmica do pré-projeto, que depois passou pela discussão e defesa do tema e ainda, uma redefinição quanto à delimitação do objeto de estudo e a pesquisa de campo, realizada na sede do grupo, cuja identidade jurídica é Sociedade Junina Bumba Meu Boi da Liberdade, conhecida também como Boi de Leonardo ou Boi da Liberdade.
A sistematização teórica pertinente ao tema, destacam-se as seguintes referências: Borralho (2012; 2015; 2020); Zéca Ligiério (2011); Sérgio e Mundicarmo Ferretti (1996, 2014); Elisene Matos (2017); Marla Silveira (2018), Maria Cano (2018), entre outros.
Assim, o Boi de Leonardo, por meio do lúdico e da dimensão religiosa, compõe um conjunto de tradições que se reproduzem em formas de dança, rituais cíclicos em suas ações performáticas e manifestações artísticas populares, cada um com sua especificidade. Por exemplo, anterior à morte dos Bois, o mourão é erguido envolto a fitas coloridas e suas prendas carregadas de objetos que representam abundância. É importante evidenciar o papel da madrinha do Boi: o apadrinhamento sintetiza pela escolha de membros que ocupam lugares no grupo e que organizam a brincadeira; o ritual do batismo simboliza a apresentação dos Bois à comunidade entorno de uma ritualística de proteção, geralmente acontece na véspera de São João, após esse momento, os Bois estão preparados para realizar as apresentações; a morte dos Bois representam o encerramento festivo e a devolução dos Bois ao santo e/ou às entidades espirituais.
Nesta acepção, identifico por meio desta pesquisa que, no ritual de morte ou matança, é comum a atuação coletiva e de forma integrada dos moradores em torno da festa do Bumba Meu Boi em um de seus pilares de atuação que é a comunidade. Desta maneira, considero que o ato simbólico de levar um pedaço do mourão para as casas, se relaciona à própria performance religiosa e por ser um elemento material sagrado e espiritual, ou seja, presente no mourão como símbolo sagrado. Trata-se de uma ocasião de renovação na qual os devotos e participantes apresentam sua gratidão aos santos e entidades religiosas de matriz africana pelas bênçãos recebidas, conforme pode ser observado na imagem do altar, que será descrito em seguida nas reflexões sobre o fio condutor desta pesquisa.
2 REFLEXÕES SOBRE O FIO CONDUTOR DA PESQUISA
Ao entrar na sala na sede do Boi de Leonardo, meu olhar foi para a foto do seu fundador, mestre Leonardo que está na parede de frente para a porta. Na mesma sala encontra-se o altar que, conforme entendi, simboliza a união de todas as forças energéticas juntas, um ambiente que circula um simbolismo entorno do Boi, pois é um espaço de orações e preces, nas quais os brincantes reafirmam sua fé e devoção aos santos e às entidades. A pesquisadora Marla Silveira (2018) destaca que no centro do altar, a imagem de São João em destaque principal, carrega a guia - um colar que é utilizado na mina e, quando chega o período festivo, São João recebe a faixa com as cores do Boi de Leonardo. Ao lado dele tem vários santos, dentre eles, destaco: Santo Expedito, São Francisco, São Pedro, Nossa Senhora, São Raimundo Nonato e outros, há também elementos como velas, copo com água, flores artificiais, tendo ao centro, ao lado da imagem de São João, dois girassóis em tamanhos proporcionais à imagem do santo.
Ligiéro (2011) sugere que a corporeidade é importante para as produções performáticas brasileiras. O corpo dançante/brincante atravessa os espaços das ruas, os terreiros, as casas de espetáculo, etc., envolvem as testemunhas brincantes num ritmo intenso. Além da imagem e da corporeidade, se sobrepõem e justapõem uma infinidade de elementos religiosos, cênicos e ritualísticos, configurando uma alquimia performativa e transfigurando a rua. Destaco em consonância com os autores mencionados anteriormente que há uma confluência de elementos diversos. Ferreti (2014, p. 26), pondera que esta dinâmica de mistura configura as festas religiosas “entre rituais de origens africanas, do catolicismo popular e de outras procedências”, em suma, vemos que os diversos elementos da encenação compõem um conjunto de saberes que resiste ao tempo, ressignifica memórias e o que se chamam performances religiosas afro-maranhense, sem desconsiderar a perspectiva indígena.
Minha aproximação com o grupo Boi de Leonardo deu-se a partir de uma amiga do curso de Teatro, Ana Beatriz Rodrigues, que estava participando de uma oficina de produção cinematográfica na sede do grupo aos sábados. Através dela conheci dona Regina (Cláudia Regina Avelar Santos), atual líder do grupo.
Claudia Regina Avelar Santos, é natural do município de Cururupu/MA. Nasceu em 22 de março de 1965. Filha de Leonardo com dona Edinete Almeida Avelar. É a filha caçula de cinco filhas que Leonardo teve, cada uma de relacionamentos diferentes (Silveira, 2014. p.58). Leonardo ainda vivo, porém, debilitado, a filha decidiu pedir permissão para fazer parte do grupo. E após a morte dele, ela assumiu definitivamente a direção e o compromisso de zelar o nome do pai e dar continuidade às apresentações.
Gisa Martins, é artesã, crocheteira, coreira, brincante e índia tapuia no Boi de Leonardo. Foi madrinha deste Boi no ano de 2023 ao lado de Raimundo Penha como padrinho. Apesar de frequentar muito o bairro da Liberdade e conhecer a comunidade em geral, é moradora da Av. Kennedy, que é próximo ao bairro Liberdade. Gisa tem participação ativa no grupo e como disse ela: todos os anos fica na função de ornamentar o mourão. Eu a conheci no dia do batismo do Boi, trocamos contato e a partir daí começou a me ajudar bastante durante este período de pesquisa. Logo, perguntei a ela se poderia participar da produção do ritual de morte do Boi de Leonardo. Ela falou que sim, pois toda a ajuda é bem-vinda e me chamou para ajudá-la na ornamentação do mourão. Depois conheci Juca, morador da Liberdade, mais conhecido na comunidade por seus trabalhos e consultas espirituais, apesar de não ser propriamente um Pai de Santo, como falou Gisa, por não ter filhos de Santo. Juca destacou ser padrinho do mourão, porém a promessa de dar o mourão a São João este ano foi feita pela entidade que trabalha com ele, dona Terezinha de Légua Boji. Juca relatou que dona Terezinha pertence á família de Légua Boji Buá da Trindade, que gostam muito da brincadeira do Bumba Meu Boi, desta forma, Gisa também destacou que nos anos anteriores não houve padrinho e nem madrinha do mourão, mas pela obrigação religiosa que Juca deveria cumprir para com sua cabocla, procurou dona Regina este ano e fez o pedido, que esta o atendeu.
A escolha dos padrinhos do Boi acontece da seguinte forma: dona Regina solta os nomes dos possíveis padrinhos e conversa com os mais velhos dona Vitória e Mestre Zió, que estão há mais tempo no grupo para fazerem a escolha. A função dos padrinhos, além de dar a bênção, também ajudam financeiramente com os custos, oferecendo bebidas por exemplo, dentro das possibilidades de cada um.
Na sede, pela primeira vez, enquanto aguardava dona Regina, observava o salão apaixonadamente e cada detalhe de sua composição visual (os bordados, os chapéus de fitas, as bandeirinhas, os quadros, o altar, a foto de Mestre Leonardo e os Bois), pois ali iniciaria o que um dia foi um sonho. Logo, expliquei a dona Regina do que se tratava a pesquisa, cujo tema era relacionado a religião naquele período, e fiz um apanhado geral para ter a permissão dada por ela para a minha pesquisa, principalmente, por se tratar de elementos que envolvem a religiosidade e a tradição, sempre respeitando a referência religiosa do grupo. Assim, perguntei também se poderia naquele momento fotografar os elementos ali presentes, em ambos os pedidos, dona Regina me concedeu a permissão. O bairro Liberdade, onde está localizada a sede do Boi de Leonardo, é um território que possui uma dinâmica singular e um jeito próprio de viver, marcado por atividades culturais e manifestações religiosas de um povo que carrega as características da resistência. A seguir, será feita uma breve incursão sobre a contextualização política e social do bairro.
2.1 Formação do grupo e sua atual constituição
A constituição do bairro da Liberdade remete ao final do século XIX ao lado dos bairros Fé em Deus e Camboa, constituem os maiores quilombos urbanos do país, suas primeiras ocupações se relacionam com o pós-abolição e aspectos da industrialização. De acordo com Silva (2023), a ocupação daquele que é reconhecido hoje como Quilombo Urbano Liberdade em São Luís data da construção do Matadouro Modelo, com início em 1918. O matadouro era um local que reunia diversas funções, além do abate do gado bovino e suíno, também realizava o salgamento de couro de gado, o alojamento para abate, refrigeração da carne para venda, exame veterinário das carnes e vísceras, armazenamento de água para higienização dos compartimentos e descarte dos dejetos, sobre o Matadouro (Silva, 2023, p. 55).
Nestes termos, esta autora analisa que a ocupação no território se relaciona com o fornecimento de alimentos ao entorno do Matadouro, bem como o êxodo rural, principalmente dos quilombolas que se deslocavam da Baixada Maranhense e que foram fatores determinantes para a construção da identidade cultural do território. Assim, Silva (2023) entende que o território Quilombola Urbano Liberdade possui um expressivo patrimônio cultural, em decorrência da população negra do século passado que adentrou no território, dinamizando o espaço com suas culturas, religiosidade e principalmente suas ancestralidades, que caracterizam a noção de identidade do povo quilombola do Bairro Liberdade.
O bairro possui uma diversidade cultural grandiosa com seus elementos históricos, os moradores de forma coletiva reafirmam seu protagonismo social estabelecendo verdadeiras trocas, seja pela diversidade religiosa, social e econômica como, por exemplo, através do empreendedorismo local, isso destaca sua característica de um espaço de luta e de resistências. No entanto, territórios como estes estão distantes do padrão arquitetônico urbano e infelizmente, são estigmatizados como periféricos, clandestinos ou invasões, principalmente quando se tratam de bairros com maior concentração da população negra.
Neste sentido, o tratamento público para cada área da cidade está muito à mercê do grupo social onde habitam, nesta direção Cunha Júnior (2020) ressalta que a desigualdade social produzida sobre a população tem um componente especial urbano sintetizado no Bairro Negro. O mesmo autor chama essa noção do “não-lugar” no contexto das cidades e que acaba sendo um modelo de produção da inclusão precária das populações negras no Brasil. Há de salientar que a realidade brasileira de bairros que possuem sua identidade baseada na africanidade e na afro descendência, historicamente são espaços marcados pelo descaso do poder público no tocante às políticas públicas, saúde, educação, esporte, lazer e cultura. E, quando o Estado se exime dessa responsabilidade, os grupos sociais buscam criar estratégias, principalmente no contexto dos vínculos afetivos, ou seja, as praças, as casas, as esquinas, os espaços abertos passam a aglutinar redes comunitárias baseadas em suas ancestralidades.
Desta forma, Borralho (2020) ao falar sobre as dinâmicas construídas nas comunidades e os laços afetivos que os grupos sociais estabelecem, chama atenção na atualidade, se ainda é possível fazer com que quintais e ruas cumpram com seu papel de espaços lúdicos, apesar de o avanço tecnológico aos poucos substituir essas relações, pois as brincadeiras tradicionais deram lugar para os jogos na internet, tablets, etc. Para ele, mesmo esses espaços existindo, muitas crianças estão usando com menos frequência. Visto que, estão substituindo os espaços lúdicos por um formato de brincadeiras impostas pelo modelo de ensino das escolas dos grandes centros urbanos, ele afirma: “O que os leva a esquecer das saudáveis brincadeiras em comunidade” (Borralho, 2020, p. 25). Talvez essa seja uma hipótese de um suposto esvaziamento das ruas e das tradicionais brincadeiras, principalmente nos bairros periféricos.
2.2 Uma breve incursão sobre o universo de Leonardo
Leonardo Martins Santos, filho de Bernardo José dos Santos e Sinfrônia Martins dos Santos, é natural de Santa Maria dos Vieiras, município de Guimarães-MA. De acordo com Cano (2018); Silveira (2018) e Viana (2006), Leonardo nasceu em novembro de 1921 e faleceu em julho de 2004 com 83 anos de idade em decorrência de um AVC. Na adolescência, veio para residir em São Luís, que nesse contexto se apresentava como campo de oportunidades para quem morava no interior e vinha em busca de novas oportunidades. A trajetória de Leonardo, se assemelha a de muitos jovens e adolescentes, que, oriundos de família sem nenhum ou poucos recursos econômicos, tinha que escolher os estudos ou o trabalho pesado para sua própria subsistência e com isso, não teve gosto e nem incentivo para os estudos formais, por exemplo, se alfabetizou na adolescência.
Trabalhou desde pequeno e obteve experiência no sindicato dos arrumadores, mas sua verdadeira vocação estava na dança, nos ritmos do sotaque, no tambor de crioula da matraca, que já na primeira infância dava sinais. Essa paixão o levou a ser um adepto, espectador e brincante em outros grupos de bois: de Laurentino, que passou para Dona Terezinha depois que o fundador faleceu; o Boi da Fé em Deus e o de Misico - que passou a ser de Canuto conforme apontado em pesquisa de Silveira (2018), com essas influências, Leonardo fundou o seu próprio grupo. Ele tinha duas paixões, diz Regina, sua filha: o tambor de crioula e o Boi. Sua ligação com o tambor era coisa espiritual, colocava nele a sua vida. Com personalidade forte e jeito singular, ele mesmo confeccionava as roupas do boi, que foi fundado em 1956. Em sua primeira fase, composto por seus familiares e conterrâneos de Guimarães.
Leonardo criou o boi e naquele contexto, nem sonhava que seu grupo se tornaria um dos mais consagrados do Maranhão e que seus valores como respeito, união e companheirismo seriam o norte que ao longo do tempo conduziriam os integrantes. No cenário de criação do grupo, representava tão somente a diminuição da distância de sua terra, e de seus familiares, alicerçados no cumprimento de uma promessa a São João (Silveira, 2018).
O Bumba Meu Boi – também chamado bumba-boi, brincadeira do boi ou simplesmente brincadeira que acentua seu caráter lúdico – é uma manifestação da cultura popular que conjuga diversão e religiosidade envolvendo música, dança, poesia, cultura material, dramatização e ritual (Cano, 2018). Assim sendo, bumba meu boi quer dizer, Bate! Chifra, meu boi! O termo deriva da expressão ‘zabumba, meu boi’, pelo qual “o boi dançaria acompanhando o ritmo do zabumba”, espécie de tambor (Borba Filho apud Cavalcanti, 2000, p. 1022).
Percebo que há uma multiplicidade de personagens como vaqueiros de cordão, vaqueiros campeadores, rajados, marujados, rapazes, caboclos-de-pena, cazumbás, toureiros, tapuios, tapuias, panduchas, caipora, manguda, bichos, índias, índios, burrinha, Dona Maria, Pai Francisco (ou Nego Chico) e Catirina, além do aspecto lúdico e o religioso que estão profundamente associados, como uma grande celebração do ciclo da vida (IPHAN, 2011). O Boi, considerado um artefato pelos estudiosos, possui em sua forma esculpida as seguintes características:
O Boi, esse artefato de madeira leve, geralmente construído com “vergontas de canela-de-veado” e buriti, tendo a cabeça esculpida em um bloco de madeira igualmente leve, porém maciça, recebendo como acabamento um par de chifres naturais polidos e enfeitados com ponteiras de metal brilhoso (metal nobre ou niquelado). É realmente confeccionado para ser um boneco (ou boneco – máscara), um objeto animado. Sua cobertura é em veludo preto todo rebordado de lantejoulas, canutilhos, miçangas e paetês, da face à cauda. Ostenta um determinado ícone na testa que varia de estrela, rosa, ostensório, escudo de time de futebol a brasão de estado ou brasão nacional. O acabamento perfeito para esse boneco é a sua barra, espécie de saia comprida que esconde o seu manipulador […] (Borralho, 2020. p.95).
De acordo com a descrição do boneco boi (ou máscara) feita por Borralho, principal referência para o estudo do Bumba Meu Boi na área das artes cênicas, descrevo a estrutura visual do bordado dos dois bonecos Bois de Leonardo.
1. Um dos bonecos bois foi confeccionado por Umbelino de Cururupu. Traz bordado com canutilhos coloridos a imagem de Jesus Cristo e da Virgem Maria em um lado e do outro lado a imagem de Jesus Cristo com um raio de luz em sua mão direita estendida em direção a uma mulher de joelhos, simbolizando a benção recebida. Traz como elementos secundários aves brancas e flores coloridas, além de detalhes em dourado, cauda dourada com um adereço branco na ponta, par de chifres com adereço branco na base de cada um e a saia ou barra é tecido de cor laranja, provavelmente material de cetim.
2. O outro foi confeccionado por Bebedor Branco. Traz bordado com canutilhos coloridos a imagem de “Maria, José e o menino Jesus” (a sagrada família) e do outro lado a imagem de São João com alguns cordeirinhos, além de flores, a maior parte, girassóis, cauda com algumas fitas de cetim coloridas e na ponta um adereço branco, par de chifres com adereço branco na base de cada um e a saia ou barra de tecido azul rendado.
Ambos têm os nomes bordados no couro, de um lado o nome Liberdade e do outro lado, o nome Boi da Liberdade. Um é o boi de promessa/obrigação, que Leonardo fez a promessa e fundou o grupo, portanto nunca foi deixado de lado. O outro, é o boi das apresentações. Os dois Bois são chamados pelo nome Boi da Liberdade.
No Maranhão especificamente, além da dimensão lúdica, o Bumba Meu Boi é uma festa popular que apresenta um acentuado caráter religioso que pode ser observado tanto na devoção a Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal, em suas práticas do catolicismo, quanto nos terreiros e rituais afro-religiosos. Entre Santos e Encantados: o universo religioso e o princípio da dádiva no Bumba Meu Boi do Maranhão Maria Cano (2018) buscou compreender como diferentes sistemas de crenças se conectam, se cruzam e se interceptam no Bumba Meu Boi através de formas criativas de devoção e diversão. De acordo com esta autora, o Boi de Leonardo (objeto de seu estudo), configura-se como um Boi de promessa e essa sua característica, foi um fator determinante para a manutenção da sua tradição, conforme observa-se:
Tendo em conta a importância da religiosidade no bumba meu boi e a interação com os poderes invisíveis que envolve toda a ritualística da brincadeira, procuro demonstrar como esse caráter religioso, através da promessa e obrigação, contribui para a manutenção de crenças e para o fortalecimento das relações de dependência e reciprocidade que reforçam o caráter coletivo da brincadeira, a partir de uma relação permeada pela dádiva, e, voltada a atender à tríplice obrigação de dar, receber e retribuir (Cano, 2018, p.69).
Esta dimensão religiosa e ritualística relaciona-se diretamente com o universo simbólico da brincadeira do Boi de Leonardo através das promessas ou obrigações. Os Bois nascidos a partir destas conjunturas religiosas, são popularmente conhecidos como Bois de Promessa e Bois de Encantado ou Bois de Terreiro. Desta forma, a promessa feita a São João pelo fundador mestre Leonardo, permeia até hoje a dimensão da fé em suas apresentações. Conforme mencionado anteriormente, após seu falecimento em 2004, sua filha dona Regina assumiu o comando do grupo, com liderança e autoridade, dando continuidade à sua promessa.
De acordo com Cano (2018) o sentimento religioso e a estreita ligação estabelecida com os santos populares são determinantes para a criação e também para continuidade de determinados grupos de Bumba Meu Boi, visto que parte deles persistem, enquanto outros sucumbem. Neste sentido, a promessa pode estar relacionada a:
[...] há quem prometa brincar boi para São João e participar de algum grupo já constituído; ou contratar um grupo para brincar na porta de sua casa; ou oferecer algum bem simbólico e/ou material a determinado grupo; ou “botar um boi” na rua, ou seja, organizar um grupo e providenciar todas as condições necessárias para que ele possa sair às ruas, e, reunir brincantes fornecendo vestimentas, instrumentos, transporte para o deslocamento, alimentação e bebida durante a celebração. Tais promessas podem manifestar um caráter temporário podendo ter duração de três, cinco ou sete anos consecutivos, ou um caráter acrônico, uma vez que o promesseiro pode comprometer-se com a brincadeira “enquanto tiver vida” e/ou saúde (Cano, 2018, p.70).
Ressalta-se que neste universo, há ainda, aqueles que começam a brincar para pagar uma promessa, mas depois de quitar sua dívida com o santo (ou encantado), continuam na brincadeira por prazer, diversão, mas sobretudo, em função dos laços de amizade, sociabilidade e solidariedade que estabelecem a partir do Bumba Meu Boi.
Deste modo, as relações sociais no grupo do Boi de Leonardo são alicerçadas por meio de processos de aprendizagem e cooperação: o momento da fase de preparação envolve mecanismos de reciprocidade entre as pessoas, consiste na articulação de trocas materiais e simbólicas em que cada um dá o seu melhor, seja na ornamentação, seja na estrutura organizacional do grupo, este sob a liderança de dona Regina. Percebo que o grupo a partir dos aspectos identitários, reforçam costumes e tradições que possibilitam o encontro geracional, por exemplo, as crianças desde pequenas acompanham a festividade, auxiliam na ornamentação do mourão e das bandeirinhas. Os avós, ou melhor, os brincantes mais antigos ajudam na confecção das indumentárias, nesta troca de saberes estabelece-se um encontro, passado e presente que possibilita a continuidade ao longo do tempo da festividade, com suas características peculiares.
Dentre as características do boi de Leonardo, podemos encontrar o sotaque de Guimarães ou de zabumba, originário da cidade de Guimarães-MA, considerado o mais antigo. Por isso, distingue-se em usar a zabumba, um grande tambor que é pendurado em uma grossa vara para que possa ser tocado. O segundo instrumento é o pandeirinho ou tamborinho, parecido a tamborim de bordas mais largas. As zabumbas e os pandeirinhos são esquentados no calor da fogueira e são revestidos com couro do boi-animal e assim, os brincantes dançam formando um semicírculo na maior parte das apresentações. Esta dinâmica é chamada de meia-lua, um dos ritmos mais acelerados e o Boi de Leonardo é conhecido por essa peculiaridade (Silveira, 2014).
2.3 O ciclo festivo do Boi de Leonardo
O ritual de morte do boi faz parte de um ciclo vital anual do Bumba Meu Boi do Maranhão, que se divide em quatro etapas: ensaios, batismo, brincadas e a morte. Desta maneira, compreendo o ciclo festivo como uma fase de renovação, que inclui deste a preparação em seus aspectos indumentários até a morte do boi com o encerramento desse ciclo.
Borralho (2020, p. 32) traz a ritualística presente no folguedo, estruturando-se o ciclo no “BATISMO (re-nascimento) iniciação – VIDA (brincadas) – MORTE”. Assim, a ritualística presente no folguedo, simboliza um conjunto de elementos construídos de forma coletiva entre os sujeitos que fazem parte da brincadeira, que une gerações, tradições, fé e laços afetivos.
Para a pesquisadora Gisele Vasconcelos, trata-se de uma carga afetiva em que o “velho, tem que morrer para que o novo venha e traga coisas novas, conjugando esses elementos da vida: nascer, morrer, renovar e se transformar”. (Vasconcelos, 2007, p.64). Desta forma, o contexto de apresentação do Boi, simboliza um ciclo vital da humanidade, ou seja, o princípio de renovação; é preciso o velho deixar de existir para o novo ganhar caminho.
Durante a festividade, as ritualísticas se inserem nas comemorações em forma de despedida, cortejos, festa do mourão, morte dos Bois e da bicharada, marcando assim, o encerramento da celebração anual do Bumba Meu Boi. A morte é o retorno dos Bois para casa até que chegue o momento de brincar novamente no ano seguinte. Recomeçando a partir dos ensaios (ou guarnicê), seguido do batismo (ou renascimento) brincadas dentro e fora da comunidade (as apresentações).
Compreendo que as corporeidades construídas no universo do Bumba Meu Boi, carregam uma multiplicidade de símbolos com sentido próprio. São expressões possíveis de elementos que apresentam e/ou representam o mundo vivido dos sujeitos em seus vários sentidos e trocam experiências, para além das suas crenças e fé, onde porta-se o aspecto artístico em seus amplos recortes, desde as danças, o teatro, a caracterização, as gestualidades, a musicalidade e as brincadas, este último compreende toda a simbologia dos anteriores em um só momento, que se expressa através da arte.
A prática artística do Bumba meu boi, atrelada ao Teatro, propõe que, dentro destas apresentações, trabalhe com várias expressões teatrais. Assim, percebo no Boi de Leonardo algumas características do cômico durante o cortejo dos bichos, representados por crianças e adolescentes que fizeram uma grande festa entre risos e dramas, pois ao andarem pelas ruas mascarados despertaram medo nas crianças menores, assim como no momento das mortes dos bichos e dos Bois, expressando um momento triste e de despedidas. Durante a pesquisa de campo, observei que o mourão, além de sagrado, torna-se cenário da morte dos Bois e dos bichos, já que delicadamente trabalhado, sua função também é servir de altar para o sacrifício. Isto na minha percepção, evidencia o caráter lúdico do grupo e demonstra através de seus personagens a sua teatralidade. Assim, a ação cênica é realizada com grande improvisação teatral, a morte dos Bois, por exemplo, não é ensaiada, percebo que estas apresentações são portadoras de gestos e rituais vividos no momento, que acentuam o aspecto estético ao associar e vivenciar o cotidiano das pessoas.
Antes de descrever o meu olhar sobre esta experiência, gostaria de apresentar um pequeno calendário com as datas do ciclo anual do Boi de Leonardo em 2023:
ENSAIOS: iniciou-se no dia 09/04/2023.
BATISMO: madrugada do dia 23/06/2023 até o amanhecer do dia 24/06/2023
APRESENTAÇÕES: Acontecem durante o ano todo
RITUAL DE MORTE: iniciou-se no dia 16/09/2023 até o dia 18/09/2023
Conforme destaquei anteriormente, o Boi de Leonardo utiliza dois bonecos Bois em suas celebrações: O Boi batizado nesta presente data foi aquele confeccionado por Umbelino de Cururupu, teve como padrinhos Gisa Martins e Raimundo Penha. O outro Boi apenas recebeu a benção para fazer uma boa temporada, os seus padrinhos são seu Bedeu e sua esposa, que realizam a festa do Divino Espírito Santo no bairro.
No dia do batismo do Boi, os brincantes chegaram a sede por volta das 23h00min, pois estavam vindo já de uma apresentação, Gisa mencionou que as apresentações do grupo acontecem o ano inteiro. Então, no momento que chegaram já havia público na rua e na sede do Boi, fizeram seus lanches para iniciar o aquecimento dos instrumentos na fogueira. Os Bois estavam no quilombo urbano da Liberdade, então houve um cortejo nas ruas para trazê-lo a sede, onde ocorreria o batismo. Por volta das 01h45min, os Bois chegaram a sede junto com os brincantes, devotos e o público que o acompanhou. Chegaram em festa ao som dos foguetes, então, posicionaram-se os Bois e devotos ao altar de São João, bem como as velas, a água benta e a arruda como elementos religiosos para a benção, assim deram início à cerimônia com as rezas e ladainhas, apresentando os Bois ao Santo. Ao final da apresentação dos Bois ao Santo, os Bois começaram a brincar a partir da benção que ele(s) receberam ao som dos cantadores e zabumbeiros e às 02h54min aconteceu outro cortejo pelas ruas do bairro. Compreendo aqui como a primeira brincada dos Bois após suas bençãos recebidas, pois respeitando o ciclo anual como foi mencionado acima, as brincadas iniciam-se após o batismo, ainda que particularmente o grupo realize outras apresentações no decorrer do ano. Neste caso, aqui em São Luís, o período de maior concentração das festas de São João é entre junho e julho, sobretudo, após o dia 24 de junho, depois do batismo. Sobre as brincadas, Borralho (2012, p.41) menciona:
Deve-se entender que as “brincadas”, momento que representa o espaço-tempo existente entre o “batizado” e a “morte”, é o tempo ritualístico de apresentação de “prenda” (da oferenda) a todas as pessoas, num caráter festivo, lúdico, alegre, momentos em que a “oferenda” brinca, se diverte e diverte o público.
A festa do batismo do Boi de Leonardo com sentido de celebração foi até o amanhecer, marcando o início da temporada de brincadas e assim os Bois são apresentados a comunidade e ao público para que os conheçam, já que a partir dali, serão os protagonistas das posteriores festividades. Neste meio tempo entre batismo e morte, o Bumba Meu Boi tem este intervalo para brincar em suas variadas formas e estilos, sejam apresentações teatrais e/ou religiosas, arraiais, brincadeiras lúdicas e tradicionais, festas juninas, coreografias, etc.
3 O MOURÃO, E A MADRINHA: do batizado à morte
Irei descrever aqui, minha experiência de estar com os brincantes/participantes, em especial a madrinha, Gisa e na produção do mourão como espectadora participante e admiradora ativa nesta festividade regida por uma simbólica ritualística em torno da morte dos Bois que representa o encerramento de um ciclo de apresentações, desta forma estive indo a sede uma semana antes do ritual de morte. Esta dinâmica compreende a cena performática em que os Bois são sacrificados, trata-se pois, de uma representação ritualística que é marcada por um princípio de renovação dramatizado por meio de dramas, amores, afetos, tambores, vida, morte, perdas e ganhos.
Gisa me acompanhou durante a pesquisa no grupo e assim, a ajudei na ornamentação do mourão. Nestas festividades, o mourão simboliza o “poder germinativo da terra”, que após o recebimento dele, louvam-se os donos da casa, agradece-se e a romaria continua (Viana, 2006, p.144). Ele é de fundamental importância, pois simboliza a partilha material coletiva dos brincantes (cada um leva para sua casa um pedaço dele) e, há toda uma ritualística em torno da busca do mourão: os participantes entram na mata e pedem permissão aos espíritos protetores de luz por ser um tronco de árvore, para em seguida ser ornamentado pelos brincantes, diz Gisa. Para confecção do mourão, primeiro se usa o material de tecido T.N.T de cor branca e vermelha, cores do Boi de Leonardo, onde é todo recoberto por este tecido. Esta produção ficou a cargo de uma senhora da comunidade que sempre produz os mourões de diversos grupos, mas não cobra valores financeiros e sim pede uma ajuda para a festa que realiza no bairro.
Dito isto, meu início foi na função das bandeirinhas de T.N.T no qual fizemos os recortes e amarramos em um barbante, para que os homens as colocassem no alto assim que terminássemos, as bandeirinhas foram todas coloridas. Os demais brincantes estavam em suas funções de bordados, pinturas, reforma, entre outras, cada brincante com sua obrigação. Em um dia posterior, fui para a sede recortar caixinhas de E.V.A e montar as lembrancinhas para colocar doces dentro e amarrá-las no mourão, após estes recortes, fomos a casa do senhor Juca, onde estavam os doces e os brinquedos que seriam amarrados no mourão, então fizemos todas as lembrancinhas com doces e brinquedos dentro, além de colocar todos os brinquedos maiores e pipocas em sacos plásticos transparentes para serem amarrados todos com fitas coloridas no mourão. As despesas de confecção do mourão foram custeadas por Juca e por D. Regina, o equivalente a R$ 750,00 a R$ 800,00. As festividades do ritual iniciaram-se no sábado com a saída dos Bois para brincar em torno da Liberdade, percorrendo por três locais até o amanhecer: Ilê Ashê Ôgum Sogbô, Casa do vaqueiro Simeão e casa de Dona Edinete.
Já no dia do ritual de morte, domingo, cheguei a casa de Juca às 08h30min para amarrar todas as lembranças no mourão, junto com Gisa e mais alguns integrantes, um a um, os brinquedos, os doces, as lembranças, os balões coloridos e os alimentos, passamos a manhã e uma parte da tarde realizando esta produção. Enquanto os demais na sede preparavam alimentação, realizavam a limpeza da casa, faziam os testes de sons, organizavam os instrumentos, a mesa do bolo, uns banhavam, outros almoçavam, houve também a limpeza da casa com banhos de ervas, defumação e incensos. Ao finalizarmos o mourão pela tarde, fiquei apenas observando e fazendo registros fotográficos até o momento da morte dos Bois.
A cerimônia do ritual de morte dos Bois iniciou-se com o erguimento do mourão. Por volta das 17h os brincantes saíram para buscar o mourão na casa da madrinha e o trouxeram para fixar na sede. Os Bois iniciaram na casa do padrinho do mourão percorrendo as ruas do bairro até a sede. O mourão apesar de aparentemente possuir uma estrutura sólida, ao entorno de sua movimentação exige todo um cuidado especial para colocá-lo de pé, é carregado com muita sensibilidade pelos brincantes, pois qualquer descuido pode incorrer em quebra da peça. É nesse momento mais uma vez que os valores de união, amizade, companheirismo e responsabilidade são ainda mais compartilhados entre o grupo.
Já a noite, neste caminho em torno do ritual, havia a presença dos personagens: Vaqueiro, Catirina e alguns personagens bichos. À frente da sede, estavam postos o mourão, o altar com a imagem de São João e a vela acesa, ao pé do mourão tinha uma vasilha para o sangue (vinho), copos, vinho e faca. As cabeças dos Bois estavam enfeitadas com plantas comuns que não eram ervas específicas com uma determinada finalidade, apenas representada como um elemento cênico, além de alguns balões, que no decorrer da celebração acabaram estourando. A rua da sede foi tomada por um corredor de pessoas a cada lado, onde o espaço do meio se tornara palco, ou seja, um verdadeiro espetáculo a céu aberto e os personagens imersos na dinâmica aos poucos davam espaço para dar seguimento ao ritual. Primeiro foi sacrificado o boi de cor laranja. O Boi corria de um lado ao outro, Catirina pelos arredores com a sua mão na barriga e o vaqueiro com toda sua habilidade corria de um lado para o outro em variadas tentativas de laçar o Boi com uma corda, ao som das zabumbas.
Após a dramatização da morte do primeiro Boi, inicia-se a perseguição em busca do segundo. Os Bois, um de cada vez, foram levados ao pé do mourão para fazer cumprir o destino, suas mortes. Neste contexto, observei que é um ato carregado de comunhão e emoções: desde o momento em que os Bois fogem e tentam se esconder por entre o público ao momento em que eles são capturados e reagem contraditoriamente à morte. O desejo de superar a morte, as almas dos Bois, (com destaque para os miolos) que reagem e lutam até serem puxados fortemente para o mourão e aqui, começam aos poucos a caírem no chão e deixar as cabeças dos Bois baixas ao pé do mourão, onde são representadas as mortes simbólicas com o derramamento do vinho tinto (sangue), com as rezas e ladainhas, e após isso, os Bonecos Bois são colocados em frente ao altar.
A animação executada pelo miolo ocorre de maneira harmoniosa e equilibrada: o animador [...] “se veste com o Boi, penetra o Boi e de repente, este parece tornar-se a sua pele” (Borralho, 2020, p.102). Neste caso específico, o miolo não fica isolado da intrínseca relação homem e objeto, ele não é, um brincante à parte, pois o Boi não brinca sozinho, diz Borralho (2020) e que no Maranhão, as brincadas podem acontecer com a encenação de um auto ou como um simples musical, somente música e dança. Por isso, esse momento é marcado por um simbolismo: nessa junção entre miolo e o Boi, instauram-se elementos simbólicos que caracterizam renovações, alegrias e tristezas, inseguranças e dramas em movimentos corporais que possibilitam as pessoas estabelecerem suas conexões com a matéria e o espírito.
O Boi é um elemento animado que povoa o folguedo, tal como descreve Borralho (2020) em seu estudo e classifica os elementos presentes em todas as apresentações do folguedo: Boi, Burrinha, Pai Francisco e Mãe Catirina. No boi de Leonardo, a cena da morte dos Bois foi realizada por Paulinho, um dos batuqueiros do grupo que no dia da morte, assume a função do personagem Pai Francisco, Raimunda assume o papel de Catirina, os Bois, personagens centrais são representados pelos miolos Barata e Alessandro. Também estavam presentes a burrinha, os cantadores, zabumbeiros, chapéus de fita, vaqueiros, batuqueiros, ama, padrinhos, rezadeiras, tapuias e tapuios. A morte dos Bois é o momento em que são realizadas as perseguições do vaqueiro em busca do boi para saciar os desejos da grávida de comer a língua do Boi, conforme a história é narrada sobre o Pai Francisco e a Mãe Catirina. Após todo o ritual de morte, todos os personagens se descaracterizaram para a festa do reggae.
Durante a matança, são estabelecidos rituais que se relacionam diretamente com a encenação de personagens: um tipo de gênero dramático que carrega memórias, comportamentos codificados em especial pelas performances dos brincantes. Neste caso, as características carregam o simbolismo da ancestralidade como partitura de um roteiro gramático. Compreendo que a ritualística da matança do Boi articula elementos performáticos de maneira improvisada e que está presente no dia a dia das pessoas, além de mobilizar diversos símbolos, tais como vida e morte.
Assim, percebo que a matança realizada pelo Boi de Leonardo não tem relação com a matança de esbandalhar e nem com a morte levantar. Gestos, sons, e outras ritualísticas ao entorno da morte do Boi são construções sociais e simbólicas, ou seja, são ferramentas utilizadas pelos brincantes para materializar sua relação com uma manifestação cultural que é passada de geração a geração. Aqui, é característica do grupo dramatizar a morte dos Bois através das perseguições do pai Francisco aos Bois, laçá-los e amarrá-los ao pé do mourão, representando simbolicamente as mortes e por questões econômicas, os Bois não são destruídos.
Segunda-feira ocorreu o derrubamento do mourão pela noite, seguido da festa das crianças, iniciou-se com um cortejo pelas ruas da Liberdade ao som das zabumbas, percorrendo duas casas para buscar a bicharada. Sobre a bicharada, Cano (2018, p.120-121) diz:
[…] Consiste em uma brincadeira envolvendo aproximadamente quinze garotos e rapazes fantasiados com máscaras e roupas de animais. Esta brincadeira faz parte do calendário de eventos da festividade de morte do boi da Liberdade […] o objetivo da matança da bicharada é fazer graça e promover o riso.
Neste cortejo, fizemos algumas paradas com o objetivo de capturar os bichos, estavam escondidos na casa de Cleana e na casa de Darlan Cantador, que deram oferendas ao grupo (refrigerantes, vinhos e sucos), além das paradas na rua para a interação da bicharada com o público, a cada parada uma festa iniciava-se com a alegria das crianças. Ao serem capturados pelo cortejo e brincantes, eram colocados atrás de uma corda, formando assim, uma espécie de cordão que os brincantes organizavam a frente do cortejo, esta corda, tanto os brincantes, quanto Cleana e Darlan à frente seguravam para que os bichos não escapassem.
Cleana e Darlan foram responsáveis por laçar os bichos e os sacrificarem ao pé do mourão, ao som dos cantadores entoando toadas com letras que remetiam a matança dos bichos. De cinco em cinco eram sacrificados. No final do ritual, começaram a fazer os cortes com facão retirando pedaços do mourão, que foi repartido de galho em galho e a distribuição dos doces e brinquedos para as crianças, seguido de muitos foguetes.
Após todo um processo de construção, desde a busca do mourão nas matas até a compra dos materiais e a ornamentação, este, tornou-se um verdadeiro cenário cheio de fartura, que enchia os olhos de quem passava pela rua, despertando o encantamento e a apreciação pelo colorido que se transformou em frente a sede. O mourão foi fincado no chão no domingo para na segunda-feira ser derrubado e repartido para a comunidade, sobretudo as crianças, enquanto não é chegado este momento, os brincantes ficam em vigília para que ninguém mexa no mourão até o dia seguinte. Foi feito a socialização de suas prendas e entregue aos brincantes. É um momento simbólico que representa abundância, amizades, estreitar laços e expressa a renovação de um novo ciclo vindouro. No meu pedaço, veio bolas, pipocas e uma boneca, nessa hora, uma quantidade expressiva de crianças se aglutinam para receber o seu, é a rua sendo contagiada pela confraternização afetuosa.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS: experiência e a arte da convivência
Este artigo teve como objetivo principal fazer uma breve reflexão sobre os elementos performativos presentes no ritual de morte do Boi de Leonardo e compreender em que medida contribuem para a continuidade da festividade. Com isso, a partir do recorte feito, a vivência no campo de pesquisa possibilitou ampliar o meu repertório vivências neste âmbito, de modo que é possível dizer que a experiência ocorre na relação com o outro. Percebi que no Boi de Leonardo, estão presentes a memória de um passado por onde se reconhece de onde se veio, de uma ancestralidade que une manifestação popular e religiosidade.
Acolhimento, respeito e amizade são valores que representam a maneira como os participantes, simpatizantes e espectadores são recebidos no grupo, palavras que para mim remetem a um misto de emoções vivenciadas no ritual de morte, desde os primeiros contatos em que eu me sentia uma estranha até o momento em que recebi o primeiro pedaço do mourão, que tornara a minha admiração ainda maior. E com isso, é significativo a marca da identidade cultural e étnica entre os sujeitos que fazem parte dessa dinâmica, com a qual revela que através de uma ação conjunta em um determinado grupo social, pode-se criar e fortalecer laços de solidariedade, ressignificar sua cultura, para a qual implica a construção e visão de mundo, expressa numa mistura de lazer, compromisso, festas, ritos, performances, crenças e devoção.
Percebo que no universo do Boi de Leonardo, os saberes coexistem e são compartilhados uns com os outros. Identifiquei por meio desta pesquisa que no ritual de morte ou matança, a atuação coletiva de forma integrada dos moradores é um dos pilares para a realização de suas festividades em torno do Bumba Meu Boi. Trata-se de uma ocasião de renovação na qual os devotos e participantes unem ainda mais seus laços de afetividade para o final deste ciclo, que configura-se como gratidão, principalmente no momento das rezas e ladainhas.
Acredito que olhar o Boi de Leonardo neste viés, é perceber os valores estabelecidos no grupo, nessa tessitura, para eles, receber pessoas de fora do coletivo e da comunidade de maneira igualitária e fraternal é a manutenção da herança de seu fundador. E mais, foram lições importantes, principalmente a vontade de mergulhar neste contexto, fazer parte do grupo me colocava no cenário.
Assim, a experiência de estar inserida como pesquisadora, participante e espectadora do Boi de Leonardo me ofereceu indicadores para pensar a sua teatralidade. Desta forma, ressalto a reverência das pessoas ao entrar na sede, ir direto ao altar e fazer suas orações, rezas e o ato do benzimento, reafirmando suas comunhões para com os santos e entidades ali presentes, em especial São João. Neste contexto, penso que a religiosidade envolta no ritual de morte é incorporada nas cenas, nos personagens e nos elementos presentes, onde destaco o mourão, elemento cênico, espiritual ou altar, que é repartido entre os presentes. O questionamento pertinente é: por que levar um pedaço do cenário para casa? Por ser um elemento material sagrado e espiritual o mourão faz parte desse conjunto sagrado.
Olhar o mourão como elemento cênico é diferente do olhar da comunidade e dos brincantes, pois estes o veem como parte de uma tradição popular e sagrada e digo isto porque Gisa afirmou que os integrantes não possuem contato com o teatro tecnicamente falando, além do que, as crianças recebem os galhos como diversão pelos presentes, os mais velhos recebem como elemento espiritual.
Nesta perspectiva, o mourão e seus elementos possuem demasiado símbolo sagrado: os galhos podem ser usados na confecção de remédios e também como amuleto, além de que, o seu significado simbólico envolve e perpassa a dimensão religiosa; laços afetivos e socializações. Eu, particularmente, o recebi como um elemento sagrado, abençoado, como símbolo do afeto e amizade e como uma lembrança do cenário, e como tantas pessoas o guardo em minha casa como algo sagrado e que, de alguma forma, há a espiritualidade presente, pois é indissociável daquele que é um simples galho de um tronco de árvore e que relacionado a fé, transborda a magia presente no Bumba Meu Boi, um pequeno pedaço que carrega um grande poder, vinculado a espiritualidade de cada pessoa.
REFERÊNCIAS
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