IMPACTO DO AMBIENTE ESCOLAR NA SOCIALIZAÇÃO INFANTIL

IMPACTO DO AMBIENTE ESCOLAR NA SOCIALIZAÇÃO INFANTIL

Daniela Capeletti Rizzon1

Daniele Benatto2

RESUMO: O presente estudo teve como objetivo analisar a importância da socialização na educação infantil e a relação que se estabelece com a aprendizagem. Para isso, a pesquisa teve como base metodológica o estudo bibliográfico, realizado em artigos, revistas, livros, sites acadêmicos, etc. Os principais autores estudados: Vygotsky, Freire, Pulgatti, Kishimoto, Pimentel, além do documento normativo: BNCC. A educação infantil é considerada o início das interações sociais, e também o início do processo educacional que será vivenciado pela criança ao longo da sua trajetória escolar. O processo de socialização contribui para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. Os sujeitos aprendem em comunhão com seus pares, mediatizados pelo meio, a educação é um processo social, e que os homens se educam conjuntamente. No brincar a criança atribui significados, expõe situações com as quais ainda não consegue resolver, ou seja, favorece a capacidade de resolução de problemas e principalmente a socialização.

Palavras-chave: Socialização. Educação infantil. Desenvolvimento.

INTRODUÇÃO

A educação infantil é considerada o início das interações sociais, onde acontece o envolvimento entre crianças, professores e adultos em geral. As interações sociais construtivas e cooperativas têm o potencial de promover a aprendizagem eficiente das habilidades e dos conteúdos. A primeira etapa da socialização infantil consiste na fase em que a criança aprende a linguagem, as regras básicas da sociedade, a moral e os modelos de comportamento do grupo ao qual pertence. O processo de socialização, assim como a aprendizagem, se dá no decorrer de toda a vida, como seres humanos estamos sempre aprendendo e estabelecendo novas relações de socialização.

Como sabemos a Educação Infantil é o início do processo educacional que será vivenciado pela criança ao longo da sua trajetória escolar. A entrada na escola representa, muitas vezes, a primeira separação dos vínculos afetivos familiares, onde as crianças experimentarão situações de socialização fora do convívio habitual. A criança se forma na interação e no decorrer das atividades diárias, assim a organização de situações que favorecem a interação, a socialização, a cooperação, contribuem para o desenvolvimento e a aprendizagem, sem perder de vista a formação de hábitos que incentivam o autocuidado e o cuidar do outro. A ampliação das experiências e conhecimentos, diversificando e consolidando aprendizagens por meio das interações entre as crianças de sua idade e de diferentes idades, favorece o desenvolvimento e contribui para a construção do sujeito integrante da sociedade. A interação entre as crianças no ambiente escolar é muito importante visto que é por meio dela que ocorre a formação de discussão, opinião, discordâncias contribuindo para as aprendizagens de maneira significativa. (PULGATTI, 2012). Freire (1996) ressalta que os sujeitos aprendem em comunhão mediatizados pelo meio, a educação é um processo social, e que os homens se educam conjuntamente.

Cabe ao professor acolher as vivências, os saberes articulando-os com a proposta pedagógica da escola com base nos princípios norteadores da BNCC. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), documento que define o conjunto de aprendizagens essenciais no que se refere à Educação Básica, o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil tem como eixos estruturantes as interações e as brincadeiras, assegurando-lhes os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se.

A socialização que ocorre durante o brincar entre crianças e entre crianças e adultos, revela diversas aprendizagens significativas para a integralidade do desenvolvimento infantil, como a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções. O professor de Educação Infantil tem como função primordial agir como mediador, entre as relações e situações que apresentam no decorrer das brincadeiras, a fim de ampliar as interações de aprendizagem. Acredita-se que as crianças ao passar pela Educação Infantil terão mais possibilidades de concluir seus estudos com excelência. Ao experimentar vivências especiais à criança terá uma aprendizagem capaz de contribuir para o desenvolvimento cognitivo e social, para uma perspectiva de interação social, priorizando a cultura e as atividades que são mediadas pelos professores, como determinantes nas aprendizagens e no desenvolvimento infantil.

A SOCIALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Uma definição que se pode aplicar para o termo socialização, segundo: Durrkheim (2011), é o ato ou efeito de socializar, ou seja, de tornar social, de reunir em sociedade, também é vista como um processo pelo qual o indivíduo é biologicamente integrado numa sociedade. É o processo de integração dos indivíduos em um grupo. Ao interagir com pessoas e grupos aprendemos a lidar com o mundo, respeitando opiniões, culturas, conquistando a partir dos relacionamentos estabelecidos é que conseguimos melhorar a comunicação, nos posicionar diante de vários problemas que se apresentam no dia a dia. Além disso envolve aprender valores, crenças e comportamentos, assim como normas que devem ser seguidas para uma melhor convivência, desenvolvendo sentimentos que auxiliam na ideia de coletividade. Dessa forma, quando estamos falando de socialização, estamos falando de aprendizagem. E sabemos que as crianças começam o seu processo de aprendizagem ainda bebês, ao descobrirem o toque na mãe e familiares, nos objetos, ao sentir o sabor dos alimentos, quando ouvem, ao identificarem e responderem sons. E esse processo se aprimora na educação infantil, onde a socialização cumpre o papel de ajudar a desenvolver habilidades linguísticas, cognitivas, pedagógicas e emocionais (PIMENTEL, 2021).

Na educação infantil a socialização é de fundamental importância para a evolução da criança frente as diversas situações do dia a dia. A importância da escola nesse processo confere autonomia aos pequenos e eles passam a enxergar o mundo como um amplo espaço de oportunidades para interagir com outras pessoas. Diante do incentivo a socialização com a presença da família como apoiadora da criança no ambiente escolar proporciona avanços significativos na aprendizagem.

O processo de socialização contribui para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. Por meio das interações tem-se a oportunidade de se ampliar os laços afetivos que as crianças vão estar estabelecendo umas com as outras e com os adultos próximos. Isto vai contribuir para que se tenha o reconhecimento do outro e a valorização das diferenças e o respeito das mesmas. Ao interagir com o outro se verifica a constituição de um confronto de concepções iniciais do educando com aquelas apresentadas pelos seus pares, tornando este processo fundamental para que a criança se aproprie de novos significados, apropriação esta que só se fará pela socialização (PULGATTI, 2012, p. 4)

A socialização é um processo contínuo de aprendizagem, a qual tem por objetivo integrar o ser humano a sociedade. Como já mencionado é na Educação Infantil que inicia o processo de formação do sujeito que será ativo e atuante na socialmente. Vygostsky (1984) destaca a importância das relações sociais entre os seres humanos, para sua formação, sendo essa a forma como será ampliado seus horizontes, ou mesmo de modificar sua cultura, seus valores, concepções, em todos os aspectos que permeiam sua formação, além do próprio fator da humanização do indivíduo.

A socialização na escola proporciona o convívio com indivíduos diferentes dos integrantes da família, assim a criança desenvolve a habilidade de se comunicar em diferentes ambientes, com os mais variados públicos. Para o sociólogo brasileiro Gilberto Freire, a socialização pode ser definida da seguinte maneira:

É a condição do indivíduo (biológico) desenvolvido, dentro da organização social e da cultura, em pessoa ou homem social, pela aquisição de status ou situação, desenvolvidos como membro de um grupo ou de vários grupos (FREIRE, 2005).

A importância da socialização para as crianças implica no desenvolvimento de habilidades que podem ser as mais diversas e necessárias para o desenvolvimento do sujeito como ser integrante da sociedade a qual estamos inseridos. Dentre elas: habilidades emocionais, a criança precisa compartilhar momentos, dividir o espaço físico, além de fazer concessões para os seus colegas, isso contribui para o desenvolvimento social; habilidades linguísticas, a criança desenvolve a oralidade, onde, vai a cada momento aprender a expressar seus sentimentos através da comunicação oral; habilidades matemáticas: ao explorar o espaço descobrem formas, texturas, desenvolvem noções de espaciais ao manipular os objetos que compõem o espaço de interação (PINTO, 2009).

As brincadeiras que envolvem ações simples como organizar os materiais, os brinquedos e as mochilas são fazeres imbuídos de cultura, hábitos e habilidades aprendidas socialmente, tendo o outro como referência e modelo. A interação entre as crianças nesses e em outros momentos favorece, gradativamente, a noção de pertencimento a um grupo e também das responsabilidades de cada um para o bem-estar pessoal e coletivo.

Ao repetir a brincadeira nos contatos interativos como adultos, a criança descobre a regra, ou seja, a sequência de ações que compõe a modalidade do brincar e não só a repete, mas toma iniciativa, altera suas sequências ou introduz novos elementos. O aparecimento de ações iniciadas pela própria criança, de novas sequências, como cobrir o próprio rosto ou de um bichinho de pelúcia representa o domínio das regras da brincadeira. Ao alterar o curso da brincadeira pelo prazer que ela emana, desenvolve a competência em reciclar situações, conduta criativa tão necessária nos tempos atuais. Tais brincadeiras interativas contribuem ao desenvolvimento cognitivo e, ao mesmo tempo, as aprendizagens das frases que as acompanham (KISHIMOTO, 1998, p.142).

Durante o processo do brincar a criança atribui significados, expõe situações com as quais ainda não consegue resolver, ou seja, favorece a capacidade de resolução de problemas e principalmente a socialização, tendo em vista que a maioria das brincadeiras são desenvolvidas com seus pares. A criança se desenvolve pelas experiências, pela interação que ocorre criança/criança, criança/adulto, criança/mundo. “É a partir desse olhar que acontece a percepção de que a brincadeira e os jogos propiciam a inserção, a apropriação e experimentação sociocultural” (BRANCHER, apud SOUZA, 2022). Mesmo assim pode se retomar o brincar como algo que aproxima a criança ao social, aos pares e a cultura e “é através de sua transmissão que o brincar pode manter seu lugar de enlace metafórico entre a criança e seu mundo (MEIRA, apud SOUZA, 2022).

O contexto escolar e o trabalho pedagógico assumem um papel crucial no processo de socialização e consequentemente no desenvolvimento infantil, pois atuam como mediadores entre a criança e a sociedade. A função do professor no processo de mediação, é o de criar intencionalmente um espaço rico e provocador de experiências, em enriquecer a atividade das crianças, criando sempre vivências e experiências. Para as crianças pequenas, o mundo da cultura se abre aos poucos em sua complexidade. No período correspondente a infância a criança já vive um intenso processo de formações psíquicas, capacidades e habilidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do estudo foi possível constatar, que a educação infantil é uma forma de abordagem de socialização que oferece uma série de benefícios de desenvolvimento para as crianças. Também permite que crianças interajam com colegas de diferentes idades e níveis de aprendizagem. A socialização auxilia na ampliação das relações e no desenvolvimento infantil, bem como na construção do aprendizado. Durante a socialização, a criança começa a construir conhecimento coletivo, formular hipóteses e aprender a formular ideias de trabalho e convivência em grupo.

Por meio do processo de socialização a criança passa a compreender o mundo através das experiências vividas. Entende-se que é na família que ocorrem as primeiras interações sociais, mas é na escola onde as crianças começam a se relacionar com os colegas e os professores, ou seja, iniciam o processo de estabelecer novas interações e a conviver em grupo. Os relacionamentos no mundo de hoje estão cheios de regras não ditas e significados complicados. Socialização traz motivação positiva levando a aprendizagem a se tornar mais atrativa.

A socialização permite que as crianças desenvolvam habilidades e estabeleçam relações. A criança tem a oportunidade de se relacionar e trocar sentimentos, passando a se relacionar com os outros e com o mundo. Quando ocorre interação, as crianças frequentemente discordam, resultando em ideias conflitantes. No decorrer do processo educacional, é necessário considerar diversos aspectos, tais como a educação familiar de cada criança, padrões e regras que a sociedade impõe. Faz-se necessário uma constante formação e atualização dos profissionais da educação, pois cada realidade necessita de ações pedagógicas específicas.

Portanto entende-se que a socialização é fundamental para o desenvolvimento cognitivo das crianças, em vista que a convivência leva a geração de conflitos e divergências, os quais conduzem à formulação de hipóteses complexas, que proporcionam o desenvolvimento de aprendizagens significativas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase. Acesso em mai. de 2024.

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. 3 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

KISHIMOTO, M. Tizuko. Bruner e a brincadeira. O brincar e suas teorias. São Paulo: pioneira, 1998.

PINTO, Raquel Gomes. BRANCO, Angela U. Práticas de socialização e desenvolvimento na educação infantil: contribuições da psicologia sociocultural. 2009. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2009000200020. Acesso em: mai. de 2024.

PIMENTEL, Cristiane Moraes. et al. A socialização na Educação Infantil. 2021. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/2904/1147. Acesso em mai. de 2024.

PULGATTI, Larissa Manuella Santos. A importância da socialização no processo de ensino aprendizagem. Santa Maria: UFSM, 2012.

SOUZA, Aline Juliana. et al. O brincar em Vygotsky: Educação Infantil. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/6159/2377. Acesso em mai. de 2024.

VIGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes,1984.

DANIELE BENATTO e DANIELA CAPELETTI RIZZON
Enviado por DANIELE BENATTO em 21/08/2024
Código do texto: T8133985
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