EDUCAÇÃO "ZERO"
A questão da educação como alicerce para o desenvolvimento humano não é nova. Immanuel Kant, no século XVIII, já ressaltava a importância da educação, afirmando que o "grande segredo do aperfeiçoamento humano" reside justamente nela. Kant entendia que a educação é a base para o desenvolvimento das capacidades morais e intelectuais do indivíduo, permitindo a construção de uma sociedade mais justa e racional.
No Brasil, essa visão encontrou eco em D. Pedro II, que, no século XIX, fez da educação uma prioridade em seu governo. Como imperador, ele fundou a primeira faculdade de Medicina do Brasil e tornou-se um fervoroso defensor do progresso educacional e científico. D. Pedro II via na educação e na saúde os pilares para a construção de uma nação forte e próspera, demonstrando um comprometimento incomum para um governante da época.
Entretanto, ao observar o cenário político atual, surge uma pergunta inevitável: por que razão nossos políticos têm demonstrado tanto descaso pela educação? A resposta a essa pergunta é complexa e envolve uma série de fatores históricos, sociais e econômicos.
Primeiramente, é importante reconhecer que a educação, para ser verdadeiramente transformadora, exige investimentos a longo prazo e uma visão de futuro que transcenda ciclos eleitorais. Em uma cultura política muitas vezes marcada pelo imediatismo e pelo interesse em resultados rápidos e tangíveis, a educação é vista como uma área cujo retorno não é percebido de forma imediata. Políticos que buscam reeleição frequentemente priorizam projetos de impacto rápido, negligenciando áreas como a educação, que requerem décadas para mostrar resultados concretos.
Além disso, há um fator histórico de desvalorização da educação pública no Brasil. Desde o período colonial, o acesso à educação de qualidade esteve restrito a elites, criando um abismo entre as classes sociais que perdura até hoje. A falta de investimentos estruturais e a ausência de uma política educacional consistente ao longo dos anos consolidaram um sistema educacional desigual e ineficaz, que apenas reproduz as desigualdades existentes.
Outro ponto a considerar é a falta de compromisso com a ciência e com o conhecimento em si. Diferentemente de figuras como Kant e D. Pedro II, que viam na educação e na ciência os motores do progresso humano, muitos líderes políticos contemporâneos parecem adotar uma postura de indiferença, quando não de hostilidade, em relação ao conhecimento científico. Essa atitude reflete um desinteresse pelo desenvolvimento intelectual da população e uma preferência pela manutenção de um status quo que beneficia uma pequena parcela da sociedade.
Por fim, a educação é, em essência, um campo que promove a emancipação do indivíduo. Um povo educado é um povo crítico, capaz de questionar e desafiar o poder estabelecido. Esse é, talvez, o maior temor de muitos políticos: que a educação forme cidadãos conscientes, que possam exigir mudanças reais e substantivas na estrutura social e política do país.
Portanto, o descaso pela educação por parte de muitos políticos não é apenas um reflexo de uma cultura de desvalorização, mas também uma estratégia de manutenção de poder. Para romper esse ciclo, é necessário um compromisso renovado com a ideia de que a educação é, como afirmou Kant, o "grande segredo do aperfeiçoamento humano". Somente com uma educação de qualidade, acessível e inclusiva, será possível construir um país verdadeiramente desenvolvido, onde a justiça, a igualdade e a liberdade não sejam apenas ideais, mas realidades concretas.
TIÃO NEIVA
Professor Aposentado