DIÁLOGOS E REFLEXÕES COM DECIO GOODNEWS
DIÁLOGOS E REFLEXÕES COM
DECIO GOODNEWS SOBRE O TEXTO:
“EXISTENCIALISMO E PSICANÁLISE
(LUCY IN HELL WITH HER LOVERS) (XXVII)”
(POR LÉLIA ANGÉLICA)
Prezado Poeta DECIO GOODNEWS, em referência ao seu texto novela, tão bem escrito e com fartos conteúdos em literatura, tomo a liberdade de interagir e fazer algumas reflexões à luz da PSICANÁLISE E EXISTENCIALISMO, tema do seu texto em questão, bem como discorrer sobre a PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA. Sim, Decio, todos nós deveríamos exercitar a nossa "autonomia", mas parece que poucos sabem como conquistá-la ou como buscá-la.
Parece que no mundo em que vivemos, sermos nós mesmos, ou obedecermos somente a nós, a nossa própria razão, como você bem disse, isto é uma conquista muito difícil. Assim é preciso buscar mais essa reflexão e ter essa consciência dos muros que devemos demolir, das correntes que devemos quebrar, das lutas que devemos que vencer, como você muito bem elencou no seu texto. Não devemos esquecer que somos reflexos da nossa cultura, das nossas vivências, dos valores passados pelos nossos pais, das nossas crenças, não nos formamos sozinhos (sobrevivemos porque um outro me viu e cuidou de mim).
Nossos pais são as nossas primeiras figuras de identidade; então a nossa subjetividade é formada envolta a essas referências tanto familiares, como culturais e nossos valores pré adquiridos, tanto na família, na escola, na comunidade, etc... Desde pequenos formamos os vínculos afetivos e essa necessidade de pertencimento, ou a um grupo do qual fazemos parte se torna extremamente importante e se estende permanentemente ao longo de nossas vidas, como você bem salientou.
Dessa maneira, estamos mesmo enredados numa cadeia cósmica, planetária, social e familiar, ou em um labirinto de mentiras, como você bem colocou. O livre arbítrio parece ser assim uma ilusão, está longe de ser exercido. Não somos apenas razão, somos também emoção. Freud também já disse que somos governados pelo nosso inconsciente, é ele quem determina parte do nosso comportamento, e parte do nosso EU; assim pensamos que somos livres, mas a nossa liberdade total é relativa.
Freud cita as chamadas "forças pulsionais" que habitam dentro de cada um de nós, que podem ser canalizadas tanto para o bem, como para o lado destrutivo; por isso estamos presenciando os instintos agressivos dominando o mundo através das forças do ódio, da vingança, da destruição; é preciso direcionar nossas forças para o lado criativo, benéfico, construtivo e reparador. Os códigos monitoram as ações das pessoas como você bem se destaca, sendo que o pensamento e a moral vêm dos nossos hábitos diários e costumes socialmente aceitos.
Sim, somos inseridos diretamente na cultura e somos o resultado das demandas tanto individuais quanto coletivas.
Vivemos em um mundo cristalizado, onde estamos nos distanciando da nossa verdadeira UE, pois o nosso imediatismo, as nossas urgências acabam nos "automatizando", nos tornando robôs, engenhocas da Inteligência Artificial, muito bem colocadas no seu texto.
A corrente psicanalítica também valoriza a herança psíquica; Freud mais do que ninguém ao voltar no passado traz de volta os conflitos infantis, a repetição ou a reedição das histórias familiares, o encontro e reencontro de gerações. Em muitas abordagens psicanalíticas, como o trabalho com famílias e em grupos, é possível trazer materiais de histórias vividas no passado que podem se repetir em membros de novas famílias, tentando compreender a patologia como herança psíquica geracional.
Então nossos antepassados, a visão psicanalítica pode reatualizar os sintomas que podem ter relação com os conflitos e as vivências familiares passadas. O existencialista SARTRE já disse que somos responsáveis pelas nossas escolhas, diante das várias possibilidades que a vida vai nos apresentar. Penso que somos sim, Decio responsável pelas nossas escolhas, mesmo que as estatísticas reduzam as nossas possibilidades existenciais; cabe a cada um de nós desenvolver meios para a ampliação dos nossos recursos, entendendo que independente do contexto e do meio dos quais estivemos ou estamos inseridos, a decisão é nossa e temos sempre que escolher. O simples fato de não escolher, isso já implica em uma escolha, como dizia Sartre.
É dele uma frase famosa: "Não importa o que fez de mim, importa sim o que você faz aquilo que fez de mim".
Para Sartre não existe "carma" pessoal ou familiar, o meio não influencia o homem e nem o DNA Assim, ele não valoriza a ancestralidade e nem a herança genética, como você questionou. Dessa forma, não existe pré determinação, ou pré concepção, nós nos formamos a partir do momento que viemos ao mundo, então não existe natureza humana.
A filosofia existencialista é cativante, apesar de ser muito "dura", pois não podemos aceitar ou delegar a condução das nossas vidas para ninguém, a não ser para nós mesmos, somos os únicos protagonistas da nossa própria história! A corrente evolucionista acredita que o ser humano, as espécies e os seres vivos se transformam ao longo do tempo, sofre a chamada seleção natural, onde os mais adaptados sobrevivem.
A Psicologia Evolucionista vai mais além entendendo o comportamento humano como um particular da sua predisposição biológica, ambiental e cultural; então nessa abordagem a comparação com outras espécies, e não apenas entre as culturas se torna fundamental para a compreensão do comportamento. Muitas vezes pesquisa-se a antropologia ou a arqueologia para entender como funcionam as tribos com pouco contato com a civilização ocidental, ou como as coisas aconteciam com os nossos ancestrais.
Esses dados foram relatados pela professora Jaroslava Valentova, do Instituto de Pesquisas da USP. Palavras da mesma; "A Psicologia Evolucionista trabalha sim com a parte já evoluída e, ao mesmo tempo, cultural da psicologia humana. Mas tenta oferecer também esse olhar mais distal, mais voltados para a história da espécie. Mas ela parte do princípio que a maioria dessas tendências evoluiu durante o passado e que já temos algumas tendências que hoje já não são mais adaptativas, por isso não funcionam mais”.
Há muitas críticas a essa abordagem, devido aos abusos nazistas, da eugenia, do darwinismo social, se apropriarem da ideia da evolução biológica para tentar embasar cientificamente políticas totalitárias e desumanas. Essas ideias acabaram marcando níveis a teoria da evolução, principalmente sua tentativa de aplicação ao comportamento humano, é o que diz o pesquisador da USP Marco Antônio Correa Varella. (Veja a íntegra de todo o conteúdo no link abaixo).
Em relação aos nossos antepassados e a LUCY AUSTRALOPITECO, considerada a mãe da humanidade, e que no seu texto evolui por diferentes espécies nas mais fronteiras condições de sobrevivência, penso que há muitos conceitos da Psicologia Evolucionista que podem ser aproveitados para o seu texto em questão, como o estudo da história evolutiva de uma espécie, ou de um grupo de espécies, analisando suas relações ancestrais e descendentes.
É preciso cautela para poder afirmar que algo é muito específico ou quando os traços e os comportamentos são herdados, devendo ter estudos mais aprofundados para entender esse brilhante e se os traços psicológicos têm relação com o surgimento no passado.
(P. S: ANGÉLICA, MEU DECIO NÃO TEM ACENTO, Rsssrsrs).