EXISTENCIALISMO E PSICANÁLISE (LUCY IN HELL WITH HER LOVERS) (XXXII)
EXISTENCIALISMO E PSICANÁLISE
(LUCY IN HELL WITH HER LOVERS) (XXXII)
PENSAR TODOS esses fenômenos e escrever sobre eles... Para quê??? Para quem??? Para promover a solidariedade mútua, a melhor compreensão do mundo em que vivemos. Para tentar melhorar nossa performance. Melhorar mutuamente. Sair do cercadinho emocional que anos envolveu desde tempos passados. Para enriquecer o conhecimento, a autoestima, criar uma percepção, uma concepção, uma assimilação, um discernimento melhor de cada um de nós mesmos. Da coletividade que daí poderá nascer, existir.
O DIREITO de nos sentirmos melhores. Manter o foco em novos e melhores objetivos de vida pessoal, de vida coletiva. Saltar sobre o cercadinho que nos envolve a vida física, a vida emocional, a vida intelectual inexistente, condicionada ao que já foi vivido, mas que nos prende ao ontem, ao passado, que nos faz repetir os mesmos condicionamentos que já não nos servem para nada mais que imprimir cópias antigas de nós mesmos.
AS PESSOAS parecem estar ocupadas em se repetir. Como se estivessem presas num féretro, numa tumba coletiva, na qual se simulam, reproduzem, parodiam-se, na grande necrópole da cidade em que vivem. Talvez estejam se convencendo que já não devem mais nada a si mesmas, que já deram o melhor de si. Que não têm mais nada a fazer de melhor na vida que não seja repetia-la até o estertor. Elas se mantêm no marasmo, não sentem o desânimo em que vivem a prostração, o abatimento de seus sentimentos, de suas emoções repetidas. Suas percepções de sonolência frieza e insensibilidade.
ELAS ESTÃO mortas e não sabem. Constroem suas vivências hoje, como se não houvesse amanhã. Para elas existe só a repetição das conveniências passadas. O novo futuro nem sequer por um momento é cogitado. Ele, futuro, vem naturalmente com suas consequências repetitivas, como se não houvesse um sol novo nascendo de manhã. Essas pessoas, vivendo essa realidade, envelhecem tudo dentro e fora delas. Envelhecem até o sol, a lua, as estrelas brilham com um brilho caduco, envilecido, depravado, apoucado.
DESÂNIMO, INDIFERENÇA, apatia: o dia a dia como se inexistisse o passar da noite e do dia. A mesmice movendo seus corpos, seus passos, suas pernas, seus corações e mentes naufragados num mar de sargaços, cercado por correntes oceânicas do passado. Não há anelas a sensação da falta de uma nova compreensão do mundo que só poderá existir se nelas houver uma mudança de expectativas. Elas vivem o presente se auto emulando, como se Narcisos se afogando no espelho da paralisia autocontemplativa.
A JUVENTUDE permitindo-se sugar por suas próprias energias em looping sem fim, nem finalidade outra que não seja a da obediência à moda sem borda, sem estação. Como se houvesse honra em obedecer à uma playlist musicada em perene repetição. O minimalismo da simples recorrência, reincidência de repetições. Uma juventude sem nenhuma utilidade que não fosse a do manequim. Uma mocidade útil apenas como espectadores de Gil & Caetano. Per omnia secula seculorum. A mamar nas tetas de uma vaca envelhecida no tempo. Uma vaca tropicalista caduca, em “looping eterno”.
REUNIDA, A juventude, para ouvir um galo que de há muito não canta mais, exceto o mesmo cocoricó. Mas seus espectadores permanecem encantados, como se estivessem a ouvir o canto da primeira manhã. Aquela manhã de traição ao Tempo, lembrando a Pedro quantas vezes havia traído o Cristo.
EU ONTEM sonhei um sonho estranho, não freudiano. Um sonho que talvez tenha sido mesmo um pesadelo. O rosto de minha mãe surgia ao lado do meu rosto e me perguntava, cheia de uma expectativa mórbida. Mórbida porque ela já está morta. Faz tempo. O rosto dela encostado ao meu, com as marcas da decomposição, me perguntava. — “Você me acha bonita”??? — E um eu que não era eu, respondia, beijando-lhe a face recalcada, constrangida: — “Sim, mamãe, para mim você será sempre bonita”.
É COMO SE aqueles antigos cantores baianos estivessem dizendo ao público: — “Vocês ainda nos acham bonitos, vocês ainda nos aplaudem, essas canções ainda fazem suas cabeças antigas, envelhecidas. Vocês são jovens apenas na idade cronológica”. Alguém na plateia do show antigo deles, talvez tenha dito: — “Eles ainda se querem divinos, maravilhosos, quando não passam de primatas oportunistas, a pular num palco de circo. Tudo isso não é mais que cantoria mórbida, que traz um passado refrigerado de ânimos mofinos, patológicos, atraindo vocês ao transe de freezer ao tempo que já morreu”.
ELES, AQUELES cantores baianos à venda nas Casas Bahia, continuam alimentando de pão e circo uma plateia que deveria estar se respeitando, e buscando ser útil ao tempo em que vivem. Buscando significados outros que não o envelhecimento de suas percepções, num looping de tempo que não mais faz mais nenhum sentido. Exceto para eles e seus músicos de palco, todos muito ambíguos. A certeza de um passado que se obriga presente.
A NOVA geração não é nova não. Mantem-se agregada à musicalidade passada, no passo, na régua e no compasso da guerra fria das magias made in orixás dos navios negreiros que ainda hoje singram nas marés altas da música popular bananeira. Sob a pressão da musicalidade inambu anhangá, baseada no tropicalismo oportunista no século XXI, continua a zumbir nos ouvidos das plateias no pão e circo popularesco do dia dia dos shows pop, nos ares assombrados por fantasmas passados da sala de jantar. Mas as pessoas da sala de jantar... São as pessoas da sala de jantar.
A NEGRITUDE negreira ainda busca as brancas nuvens catimbeiras no olho d´água da dramaturgia musical de folhetim do século passa passado. Tudo vai bem, tudo vai igual, tudo igual nada mudou e contudo, é a mesma droga de zinco, o mesmo reto, a mesma lua a brilhar no santuário dos mitos. Meu labor, tudo em volta está por perto, tudo certo/tudo certo como dois e dois são quatro no jogo do bicho barato: estamos ou não em 2001, Uma Odisseia No Espaço, ou estamos em 2024???