A Educação Deve Potencializar o que nos Torna Humanos
Entendemos que a educação hoje, especialmente no nível superior, deveria se basear na compreensão dos mecanismos de investigação, bem como nos preceitos metodológicos e éticos que envolvem a pesquisa de maneira geral. O mais importante deveria ser a base empírica e contextual na qual uma teoria é desenvolvida e os conceitos que surgem em resposta a essa base.
Quando os conceitos são ensinados abstraídos da realidade concreta, onde as contingências e problemas são dissolvidos sem considerar a realidade histórica e institucional de onde emanam, o saber se torna estéril e pedante. Mesmo que futuramente esses conceitos encontrem tal realidade concreta, eles só farão sentido se forem atualizados com essa realidade, tornando necessário que todo o esquema idealizado e disciplinar que os sustenta como demanda acadêmica seja ressignificado e superado.
Ocorre assim uma inversão, onde o conceito emanado de um mundo ideal encontra milagrosamente a realidade que lhe corresponde. No entanto, esse momento canônico só ocorre anos depois da formação, se ocorrer. Enquanto isso, o estudante internaliza vários conceitos sem saber ao certo o motivo, a não ser um dogma relacionado: é assim e pronto.
O ensino se pauta no dever-ser; o saber corresponde a uma doutrinação que incute valores, palavras e condutas irredutíveis e padronizadas. O ensino não se pauta na demanda por investigar, descobrir, decifrar e resolver problemas, mas na apropriação forçada de um sistema de jargões consagrados. Diz-se que é feio, errado, incompleto e insuficiente o que não corresponde a esse sistema, mas ao que o conhecimento deve corresponder? Aprende-se sobre a realidade das coisas por meio de conceitos ou aprende-se conceitos por meio de partes da realidade simplificadas e caricaturizadas, cujo propósito é apenas existir nas mentes dos estudantes, sem que existam por meio da experiência dos estudantes.
Quando compartilhamos experiências profissionais, compartilhamos como aprendemos com essas experiências ou o que aprendemos com elas?
Através da linguagem também se ensina pela lógica: qual é a diferença estabelecida quando se define, dentro de um contexto, um objeto de uma forma e não de outra? Por que tal precisão é pouco relevante em certo contexto e importante em outros? Tudo isso implica em lógica de linguagem, cuja clareza na interpretação permite aos indivíduos compartilharem as mais diversas experiências e bases cooperativas.
Em pleno século XXI, com acesso a diversas formas de mídia e tecnologias de informação, é preciso que o ser humano não seja superado por calculadoras, computadores, celulares e inteligência artificial. O que esse ser humano pode ser além disso, cujos algoritmos são programados nas máquinas? O ser que inventa, que vive o que fala, cuja experiência reflete o que ele vive, percebe e produz. O tipo de experiência que as máquinas e formas de inteligência artificial nunca terão. Isso nos constitui e nos torna singulares, biológicos e culturais.