Privatização – o duplo dilema da educação

O reacionário governo do Paraná – um Estado reacionário – está tentando iniciar um processo de privatização do ensino público, por meio da terceirização da gestão das escolas da rede. Uma iniciativa polêmica, que ainda deverá passar pela Assembleia Legislativa do Estado, e provar que não é inconstitucional.

Um país lúcido e soberano jamais privatizaria setores estratégicos: saúde, energia, comunicações, abastecimento e saneamento, transportes coletivos, pesquisa científica... Esses setores enfrentam agudo dilema: por um lado, o benefício público, coletivo, visando o bem-estar de toda a população; por outro, o interesse privado, a ânsia de lucro rápido e desmesurado, que concentra riqueza e dissemina pobreza.

Mas para a educação, o dilema é duplo. Em primeiro lugar, transformar o ensino em um negócio rentável é um atrativo irresistível para os mercadores das premências humanas. A humanidade carece da educação para evoluir. Atualmente, pode-se dizer que a humanidade precisa da educação para sobreviver aos demônios que ela mesma cria: a incúria com a natureza que é o suporte da vida no planeta; os desproporcionais arsenais de armas de destruição em massa; os crescentes conflitos sociais; o mau uso de sofisticadas tecnologias utilizadas para a desinformação, a disseminação de intolerâncias e do ódio, a doutrinação e a manipulação.

Entre nós, o renomado antropólogo e sociólogo Darcy Ribeiro já afirmou que “a crise da educação no Brasil não é crise; é projeto”. Esse malicioso projeto tem finalidade dupla: mercantilizar a educação e moldar o educando para a conveniência do mercador. Chegamos então ao segundo dilema da educação: qual a finalidade do ensino mercantilizado? É a emancipação e soberania da população e do país? A lucidez, a prosperidade, a solidariedade, a esperança, a coragem? Ou, ao contrário, é a disseminação da descrença, da alienação, da brutalização, a omissão em relação aos temas primordiais para formação de uma sociedade mais inclusiva, justa, esclarecida, participativa e aguerrida?

Militarização, plataformização – sinônimo de engessamento da consciência –, privatização, são todos passos no sentido de transformar a educação, além de um negócio lucrativo, num instrumento da dominação de um povo. Já foi dito por analistas internacionais que o Brasil, junto com EUA, Rússia, China e Índia, é um dos cinco países credenciados para serem grandes potências mundiais, pela sua extensão territorial, abundância de recursos naturais, tamanho da população, infraestrutura instalada e valor da produção. Por esse motivo torna-se imperativo sabotar a educação no Brasil.

Falta-nos a educação, para deixarmos de ser um povo acostumado ao histórico papel de colônia explorada, fornecedora de matérias primas baratas e importadora de bens industrializados com alto valor agregado. Na colônia explorada, o escravagismo perpetua-se na concepção de que o povo é a classe de trabalhadores que deve ser mantida na ignorância, na submissão aos prepostos de interesses internacionais que se empenham na continuação dos impérios hegemônicos.

Se o Brasil deseja tornar-se a grande nação para a qual está credenciado a ser, a educação precisa ser pública, gratuita e de qualidade.