A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM.

THE IMPORTANCE OF PSYCHOPEDAGOGY IN THE LEARNING PROCESS.

Fabiano Willcker da Costa Teixeira Azevedo

 

 

 

 

 

 

RESUMO

O processo educacional de um indivíduo começa na família, passa pela escola e, em casos onde a família não desempenha adequadamente seu papel, a escola assume uma função crucial. Profissionais de psicopedagogia na escola desempenham um papel essencial ao identificar as dificuldades do aluno, compreender suas origens e aplicar métodos adequados para facilitar o ensino-aprendizagem. A colaboração entre a família, a escola e o psicopedagogo são cruciais, pois todos são responsáveis pelo desenvolvimento educacional do aluno, devendo estar cientes do diagnóstico e tomar medidas conjuntas para superar desafios.

 

Palavras-chave: Psicopedagogia, ensino-aprendizagem, aluno, escola, família

 

ABSTRACT

The educational process for an individual begins within the family, extends to the school, and, in cases where the family does not fulfill its role adequately, the school assumes a crucial function. Psychopedagogy professionals in the school play an essential role in identifying the student's difficulties, understanding their origins, and applying appropriate methods to facilitate the teaching-learning process. Collaboration among the family, school, and psychopedagogue is crucial, as all bear responsibility for the student's educational development. They should be aware of the diagnosis and take concerted actions to overcome challenges..

Keywords: Educational Psychology, teaching-learning, student, school, family

 

INTRODUÇÃO

     A educação tem sido uma parte intrínseca da jornada humana ao longo do tempo, evoluindo continuamente. O aprendizado é um processo constante na vida do ser humano, refletindo seu crescimento físico, intelectual e moral. Atualmente, diversos métodos são empregados para auxiliar nesse desenvolvimento, destacando-se a pedagogia, a didática, o ensino e, especialmente, a psicopedagogia, que desempenha um papel central em nossa abordagem.

No decorrer do processo educacional, a criança ou aluno atravessa diversas fases de aprendizado, como a alfabetização, a contagem, a interpretação, entre outras. Contudo, em alguns desses momentos, ou mesmo em todos eles, é comum que enfrentem dificuldades e experimentem bloqueios que, se não forem abordados de maneira eficaz, podem comprometer todo o seu progresso educacional.

     Para lidar com essa questão, a psicopedagogia emerge como uma aliada crucial no processo de ensino-aprendizagem. Nosso esforço concentra-se precisamente em explorar a psicopedagogia, compreendendo sua trajetória histórica, reconhecendo sua importância e impacto significativo na educação, na rotina do professor, no desenvolvimento do aluno, na dinâmica familiar, no ambiente escolar e em todo o contexto educacional.

     Dessa forma, a psicopedagogia abrange integralmente o ambiente educacional, buscando oferecer suporte em todas as instâncias necessárias para aprimorar o aproveitamento no processo de ensino-aprendizagem.

Portanto, em nossa pesquisa, vamos explorar mais detalhadamente o papel desempenhado pela psicopedagogia.      Na seção inicial, intitulada "A história da psicopedagogia", examinaremos o surgimento desse campo, os motivos que o impulsionaram, os primeiros pensadores envolvidos e a resposta da sociedade da época.

     Na segunda parte, intitulada "A concepção de psicopedagogo e psicopedagogia", buscaremos estabelecer uma definição clara da psicopedagogia e do papel desempenhado pelo profissional dessa área. Considerando que essa disciplina existe, mas não é tão amplamente compreendida quanto deveria, especialmente por parte dos pais e familiares dos alunos, abordaremos o papel do psicopedagogo no contexto educacional. Discutiremos seu papel no processo de ensino-aprendizagem do aluno, os desafios enfrentados pelo professor, pelo psicopedagogo, bem como as intervenções realizadas por esse profissional.

     Na terceira e última parte, intitulada "O processo ensino-aprendizagem e a intervenção psicopedagógica", abordaremos a temática central, destacando a relevância da psicopedagogia no contexto do ensino-aprendizagem. Exploraremos como o psicopedagogo impacta a vida do aluno, da família, da escola e, consequentemente, da sociedade. Analisaremos a influência crucial que o psicopedagogo exerce na educação e no desenvolvimento pessoal do aluno, abrangendo não apenas a esfera educacional, mas também as diversas áreas da vida humana. Destacaremos sua importância no preparo abrangente para os desafios da vida.

     Assim, perceberemos que a psicopedagogia, além de ser uma disciplina essencial, representa um suporte fundamental na vida individual, nas dinâmicas familiares e na sociedade que busca um avanço coletivo.

 

1 A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA

     Para aprofundar nosso entendimento sobre a psicopedagogia e sua importância no ensino, especialmente no Ensino Fundamental, é válido abordar brevemente sua origem e história. Ao longo do tempo e da evolução da educação, diversos profissionais, como professores, psicólogos, psiquiatras, neurologistas, entre outros, começaram a perceber que, em face de crises globais, como a Segunda Guerra Mundial, o processo de aprendizagem dos alunos estava progressivamente diminuindo.

     Alguns estudiosos dedicaram-se a investigar as causas desse fenômeno e a desenvolver estratégias para melhorar a situação. Entre eles, destacam-se nomes como Seguin, Esquirol, Montessori e Decroly, que buscaram elaborar métodos voltados para a educação infantil. Contudo, muitos desses pesquisadores priorizaram o ensino e suas dificuldades em detrimento da consideração pela personalidade, particularidades e individualidade de cada aluno e família. Esses esforços iniciais enfatizaram mais a abordagem pedagógica do que a compreensão da realidade única de cada aluno. Nesse contexto, Rubinstein oferece uma perspectiva mais aprofundada sobre o surgimento da psicopedagogia, abordando essa questão de maneira mais abrangente.

 

A Psicopedagogia surgiu da inquietação e satisfação dos profissionais que tratavam das dificuldades de aprendizagem... É importante perceber que se tratava de evidenciar o tratamento das dificuldades, sendo assim, havia pouca ou nenhuma preocupação sobre sua origem e ligação com a história, com a vida do aluno, com a história do seu aprendizado. A ênfase estava em afastar o mau funcionamento por meio de uma boa “ensinagem”, e, como consequência, o aprendiz poderia inteirar-se voltando a aprender normalmente.

 

     É evidente que, inicialmente, a ênfase estava mais na abordagem das dificuldades de aprendizagem dos alunos do que na compreensão individual de cada estudante e na conexão entre sua vida e sua capacidade de assimilar o ensino. No entanto, ao longo do tempo, essa perspectiva evoluiu para novas dimensões. Em 1946, na Europa, surgiram os primeiros Centros Psicoterapêuticos, fundados por Boutonier e Gorge Mauco. Esses centros reuniam conhecimentos de diversas disciplinas, como psicologia, psicanálise e pedagogia, com o propósito de atender pessoas que enfrentavam dificuldades de aprendizagem, mesmo sendo intelectualmente competentes. Naquela época, buscava-se uma ação reeducadora por meio da integração entre psicopedagogia, psicanálise e pedagogia. O objetivo era diferenciar aqueles que não aprendiam, os que aprendiam e aqueles que apresentavam deficiências mentais, físicas ou sensoriais.

     Durante esse período, surgiu um conflito de ideias entre os Estados Unidos e a Europa. Os Estados Unidos destacavam a importância dos conhecimentos médicos, conferindo um caráter mais orgânico às dificuldades de aprendizagem, ao passo que o Movimento Europeu direcionava sua atenção para o aspecto psicológico do aluno. De acordo com Barbosa:

 

O movimento europeu acabou por originar a Psicopedagogia, enquanto que o movimento americano proliferou a crença de que os problemas de aprendizagem possuíam causas orgânicas e precisavam de atendimento especializado, influenciando parte do movimento da Psicologia Escolar que, até bem pouco tempo, segundo BOSSA (1994), determinou a forma de tratamento dada ao fracasso escolar.

 

     Diante desse complexo panorama de ideias, a psicopedagogia foi gradualmente tomando forma, especialmente no Brasil, onde recebeu influências tanto dos Estados Unidos quanto da Europa. De acordo com a afirmação de Visca em 1987, inicialmente, a psicopedagogia surgiu como uma iniciativa subsidiada pela medicina e pela psicologia, com foco no estudo da aprendizagem do aluno.

     No ano de 1996, no Brasil, ocorreu um avanço significativo com a aprovação, durante a Assembleia Geral no III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, do Código de Ética. Em meio a diversas questões relevantes, o Código estabelece que:

A psicopedagogia é um campo de atuação em saúde e educação que lida com o processo de aprendizagem humana de maneira interdisciplinar e que esse trabalho pode ser tratado clinicamente ou simplesmente num caráter preventivo ou remediativo e cabe ao psicopedagogo por direito e não por obrigação

 

     Assim, podemos observar o desenvolvimento da psicopedagogia no Brasil. Dentre os diversos contribuidores, destacam-se figuras como Dr. Quirós, Jacob Feldmann, Sara Pain, Alicia Fernandez, Ana Maria Muniz e Jorge Visca. Esses são os principais nomes que importaram da Argentina os conhecimentos fundamentais da Psicopedagogia para o cenário brasileiro.

     O renomado Jorge Visca iniciou suas visitas ao Brasil com o propósito de estabelecer os Centros de Estudos Psicopedagógicos (CEPs). Essa iniciativa tinha como meta difundir a Epistemologia Convergente, uma abordagem teórica que respalda e fundamenta a Psicopedagogia por ele divulgada, além de capacitar profissionais nessa abordagem específica.

     Atuando como psicopedagogo argentino no Brasil, Jorge Visca introduziu Centros de Estudos Psicopedagógicos (CEPs) em diversas localidades, abrangendo o Rio de Janeiro, São Paulo (na capital e em Campinas), Salvador e Curitiba. Além disso, lecionou em diversas cidades brasileiras, como Salvador, Porto Seguro, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Itajaí, Joinville, Maringá, Goiânia, Foz do Iguaçu, entre outras. Esse esforço culminou na formação de diversas turmas de psicopedagogia sob a supervisão de Jorge Visca, que passou a realizar duas visitas anuais ao Brasil para acompanhar de perto os CEPs.

     No ano de 2000, Jorge Visca faleceu, porém, seu legado continua extremamente presente no Brasil, especialmente em Curitiba, onde dedicou grande parte de seus esforços. Com aproximadamente dez obras publicadas, esses escritos contêm valiosos ensinamentos e um estilo que ainda hoje serve como referência para seus alunos.

     Assim, com o aporte de Laura Monte, podemos afirmar que a Psicopedagogia é a área encarregada de investigar a aprendizagem e todos os transtornos que podem surgir nesse processo.

 

2 A CONCEPÇÃO DE PSICOPEDAGOGO E PSICOPEDAGOGIA

     Quem é o Psicopedagogo? Uma pergunta relevante tanto para os pais dos alunos quanto para os próprios alunos, e até mesmo para os próprios profissionais psicopedagogos. Entre várias características e qualidades, pode-se afirmar que o psicopedagogo é um profissional capacitado para atuar na área educacional, oferecendo suporte aos professores e aos demais profissionais envolvidos na escola, visando aprimorar o processo de ensino-aprendizagem. Em relação à definição de psicopedagogo, Mary nos diz:

 

Psicopedagogo é um professor de um tipo particular que realiza a sua tarefa de pedagogo sem perder de vista os propósitos terapêuticos da sua ação. Qualquer que tenha sido a sua formação (psicólogo, pedagogo, fonoaudiólogo, professor), ele assumirá sempre a dupla polaridade de seu papel, o que determinará seu modo de ser perante a criança e seus familiares, bem como diante da equipe a que pertence.

 

     Dessa maneira, o psicopedagogo viabiliza uma intervenção psicológica voltada para a resolução dos problemas de aprendizagem no ambiente escolar. Em colaboração com a equipe da escola, ele busca criar um ambiente propício ao aprendizado. Além disso, atenta para a metodologia e/ou abordagem de intervenção. "A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes".

Portanto, os desafios enfrentados pelo psicopedagogo são evidentes, sendo diversos e complexos. Em termos gerais, as especificidades do trabalho do psicopedagogo implicam, conforme a perspectiva de Lima:

 

1. O "distúrbio de aprendizagem" é encarado como uma manifestação de uma perturbação que envolve a totalidade da personalidade;

2. O desenvolvimento infantil é considerado a partir de uma perspectiva dinâmica, e é dentro dessa evolução dinâmica que o sintoma "distúrbio de aprendizagem" é estudado;

3. A neutralidade do papel de psicopedagogo é negada, e este conhece a importância da relação transferencial entre o profissional e o sujeito da aprendizagem;

4. O objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se a vida normal, respeitando as suas possibilidades e interesses.

 

     Como se pode observar, o foco de atuação do psicopedagogo está na aprendizagem do aluno, especialmente no que se refere às dificuldades nesse processo. O psicopedagogo tem a capacidade de intervir de maneira preventiva e terapêutica em diversas áreas, buscando compreender os processos de desenvolvimento da pessoa humana no contexto de aprendizagem. Para alcançar esse objetivo, o psicopedagogo utiliza uma variedade de técnicas e estratégias, visando uma compreensão mais aprofundada da problemática e atuando para promover o crescimento do aluno. Conforme destacado por Weiss:

 

O Objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social.

 

     Nesse contexto, é relevante destacar as questões levantadas pela psicopedagogia diante das dificuldades enfrentadas pelo aluno. Conforme apontado por Fini, as principais indagações incluem: Quais são as dificuldades dos alunos? Como lidar com essa situação? Quais são as causas do insucesso do aluno na escola? Como compreender o desempenho insatisfatório? De que maneira auxiliar tanto os alunos quanto os educadores diante desse déficit?

     A psicopedagogia, ao mesmo tempo em que formula perguntas, busca oferecer respostas. Dessa forma, a abordagem inicial do psicopedagogo consiste em observar a escola em sua realidade, identificando tanto suas qualidades quanto defeitos. Em seguida, a análise se aprofunda ao examinar além da instituição escolar, considerando os pais, a família e a realidade socio-cultural de cada aluno. O objetivo final é buscar aprimoramentos e melhorias para a escola, para a educação e para o processo de ensino-aprendizagem. Em termos gerais, de acordo com Lima, cabe ao psicopedagogo uma compreensão aprofundada do sujeito. Vejamos:

 

Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar. No trabalho clínico, conceber o sujeito que aprende como um sujeito epistêmico-epistemofílico implica procedimentos diagnósticos e terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma leitura clínica na qual, através da escuta psicopedagógica, se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção.

 

     Assim sendo, a atuação do psicopedagogo não se restringe a enxergar o aluno, a pessoa, apenas em um contexto específico, mas abrange todos os aspectos possíveis. O psicopedagogo tem a responsabilidade não apenas de compreender o aluno no domínio educacional-pedagógico, mas também em outras áreas e dimensões. É crucial adquirir conhecimento integral sobre o aluno, especialmente na esfera clínica. É essencial compreendê-lo em sua totalidade, considerando-o como um organismo, corpo, inteligência e desejo.

Quanto à atuação do psicopedagogo, Lima destaca que é crucial sua presença em diversas áreas, tanto de forma preventiva quanto terapêutica. Isso se dá com o propósito de compreender os processos de desenvolvimento e aprendizagem humanos, utilizando diversas estratégias com o objetivo de lidar com possíveis problemas que possam surgir.

     Dessa forma, torna-se evidente que o psicopedagogo desempenha um papel significativo na escola, sendo sua intervenção mais do que essencial. Além de ter um caráter preventivo, sua atuação é capaz de contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem. Entre outras contribuições, destacam-se principalmente os seguintes pontos:

 

1. Proporcionar orientação aos pais: O psicopedagogo necessita conhecer o aluno por meio do entendimento de seus pais e de sua família. Sua função inclui orientá-los, de modo que, em colaboração com a escola, possam oferecer uma educação adequada aos seus filhos

2. Colaborar com os professores e demais profissionais em questões pedagógicas: O psicopedagogo deve estar pronto para colaborar com seus colegas de trabalho, oferecendo auxílio sempre que necessário, visando o aprimoramento da educação e da aprendizagem dos alunos.

3. Fomentar a colaboração com a direção visando uma integração eficaz de todos os membros da instituição: Cabe ao psicopedagogo a responsabilidade de promover uma integração mais efetiva em todo o ambiente escolar...

4. Atender o aluno que esteja enfrentando qualquer tipo de dificuldade: O psicopedagogo deve permanecer vigilante às necessidades dos alunos, pois muitas vezes elas não são evidentes externamente. Assim, é crucial que o psicopedagogo observe atentamente e, diante de alunos expressivos ou não, adote uma postura de atenção, observação e apoio para promover um melhor desenvolvimento em seu aprendizado.

     Outro aspecto importante sobre o conceito de psicopedagogia é a associação frequente com crianças, sendo comumente reconhecida como a área que atende aquelas com dificuldades de aprendizagem. Entretanto, tais desafios, distúrbios ou patologias não estão restritos apenas às crianças. A psicopedagogia pode ser compreendida como uma disciplina que não faz distinção de idade, buscando atender às necessidades gerais no que se refere à aprendizagem, seja de crianças ou adultos. Desse modo, o "objeto de estudo desse campo do conhecimento é a aprendizagem humana e seus padrões evolutivos normais e patológicos". Portanto, é perceptível que a dificuldade de aprendizagem e o fracasso escolar são focos da psicopedagogia. Contudo, essa abordagem não exclui, mas abrange a questão da aprendizagem, buscando compreender mais profundamente a realidade do aluno, da pessoa e da família. Procura compreendê-los em sua totalidade, dentro ou fora do ambiente escolar, levando em consideração a influência de fatores físicos, emocionais, psicológicos, pedagógicos, sociais, culturais, entre outros. Em síntese, de acordo com Lima:

     Num contexto terapêutico, o psicopedagogo aborda as dificuldades de aprendizagem ao realizar diagnósticos, desenvolver técnicas remediativas, orientar pais e professores, e estabelecer contato com outros profissionais nas áreas psicológica, psicomotora, fonoaudiológica e educacional. Isso se deve ao fato de que essas dificuldades têm origens multifatoriais e, frequentemente, exigem abordagens interdisciplinares em seu tratamento. Nesse processo, o psicopedagogo atua como mediador, ultrapassando a mera combinação de conhecimentos de psicologia e pedagogia.

     Aqui, é notável quão crucial é a psicopedagogia na educação e na vida das pessoas. Portanto, o psicopedagogo deve ser um profissional versátil, dotado de grande sensibilidade para compreender a vida. Como enfatiza Weiss, "o sucesso de um diagnóstico não reside no grande número de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação".

Por fim, abordamos as determinações do Projeto de Lei 3.124/97 e as deliberações da Comissão de Regulamentação e Cursos da ABPp. No âmbito desses campos de atuação, destacam-se como responsabilidades e habilidades dos psicopedagogos:.

1) A intervenção psicopedagógica no processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo por enfoque o sujeito que aprende em seus vários contextos: da família, da educação (formal e informal), da empresa, da saúde;

2) A realização de diagnóstico e intervenção psicopedagógica mediante a utilização de instrumentos e técnicas próprios de Psicopedagogia;

3) A utilização de métodos, técnicas e instrumentos psicopedagógicos que tenham por finalidade a pesquisa, a prevenção, a avaliação e a intervenção relacionadas com a aprendizagem;

4) A consultoria e assessoria psicopedagógicas, objetivando a identificação, a análise e a intervenção nos problemas do processo de aprendizagem;

5) A supervisão de profissionais em trabalhos teóricos e práticos de Psicopedagogia;

6) A orientação, coordenação e supervisão de cursos de Psicopedagogia;

7) A coordenação de serviços de Psicopedagogia em estabelecimentos públicos e privados;

8) O planejamento, execução e orientação de pesquisas psicopedagógicas.

 

3 O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

 

     A aprendizagem representa um processo essencial e fundamental para a vida de todo ser humano. As sociedades, reconhecendo sua importância, desenvolveram métodos e abordagens para aprimorar esse aprendizado. O ensino-aprendizagem é o termo atribuído a uma complexa interação comportamental entre professor e aluno, composto por diversos elementos em interação. A percepção e compreensão desse processo são cruciais para o desenvolvimento de qualquer atividade educacional. Nesse sentido, buscamos e pesquisamos métodos que facilitem a construção ativa do conhecimento e a reconstrução do objeto, promovendo interações entre a estrutura cognitiva do indivíduo e a estrutura do ambiente. O objetivo é preparar nossos educandos para desempenhar funções sociais que fortaleçam o conhecimento, a convivência e a sensibilidade, condições essenciais para a construção da cidadania.

     A metodologia fundamenta-se no princípio do "aprender fazendo". Valoriza-se significativamente a resolução de problemas, pesquisas, estudo dos meios naturais e sociais, descobertas e tentativas experimentais. O trabalho em grupo não é mais apenas uma técnica, mas uma necessidade básica no desenvolvimento mental, sendo enfatizado como tal.

  O professor psicopedagogo não ocupa uma posição privilegiada; sua função é assistir e investigar o desenvolvimento espontâneo da criança. Quando a intervenção do psicopedagogo ocorre, é para orientar e moldar o raciocínio. A consciência dos limites da vida em grupo é o que origina a disciplina, tornando o aluno disciplinado não mudo ou estático, mas sim solidário, participativo e respeitador das normas do grupo. Dessa maneira, pode-se afirmar que, mesmo com a assistência do psicopedagogo, o principal mediador do processo ensino-aprendizagem é o próprio aprendiz, o próprio aluno. De acordo com Leite:

 

A importância da Psicologia no processo ensino-aprendizagem reside no reconhecimento de que a educação é um fenômeno verdadeiramente complexo e o seu impacto no desenvolvimento humano obriga que se considere a globalidade e a diversidade das práticas educativas em que o ser humano se encontra imerso, isto porque a educação se desdobra em múltiplos contextos nos quais as pessoas vivem e participam, definidos como âmbitos educativos.

 

     Assim sendo, a relação harmônica entre professor, psicopedagogo e aluno é essencial para assegurar um ambiente positivo e, desse modo, estabelecer uma "vivência democrática", na qual todos participam de forma ativa no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, o domínio do conhecimento pedagógico e psicológico pelos educadores pode proporcionar um aprofundamento mais significativo para os nossos educandos.

Assumindo o papel de mediador no processo ensino-aprendizagem e proporcionando diversas direções ao trabalho a partir de suas convicções, as tendências pedagógicas nos conduzem a compreender as relações entre pedagogia e filosofia. Elas evidenciam, por um lado, que a pedagogia se configura a partir de uma posição filosófica definida e, por outro lado, compreendem as perspectivas das relações entre educação e sociedade..

     Podemos compreender que o papel da educação na sociedade reflete diferentes concepções sobre a relação entre homem e sociedade, acarretando, consequentemente, distintos pressupostos sobre o papel da escola e da aprendizagem. Em alguns casos, as tendências podem se complementar, enquanto em outros, apresentam divergências. De toda forma, a classificação e sua descrição podem servir como instrumento de análise para que o professor avalie sua prática pedagógica em sala de aula. A respeito do educador, Leite afirma o seguinte:

 

Recai sobre o educador o compromisso de aperfeiçoamento profissional, de renovação dos paradigmas norteadores de sua ação para acolher a dimensão individual, particular e psicossocial do aprendiz, sendo resultante desse diálogo entre as três instâncias, que são: a realidade de quem aprende, a realidade do objeto a ser apreendido e a realidade de quem ensina.

 

     Por isso, quando o educador não consegue estabelecer esse diálogo, síntese dessas realidades, o processo ensino-aprendizagem fica comprometido. Dessa maneira, ele acaba contribuindo para o fracasso escolar. É aí que entra o psicopedagogo, cuja importância diante das dificuldades de aprendizagem começa a se configurar quando ele, em colaboração com o educador, passa a ter consciência das dificuldades presentes nos alunos. A partir disso, busca na escola apresentar os objetivos, os temas de estudos e as tarefas de maneira simples, clara e acessível. Sendo assim, "As formas adequadas de comunicação concorrem positivamente para a interação professor-aluno e outros que fazem parte do contexto escolar".

     No processo ensino-aprendizagem, é evidente que há dificuldades, mas estas devem servir para impulsionar o progresso e a vitória, não o inverso, levando ao fracasso escolar. A educação tem como meta o aprendizado do aluno, tanto no conhecimento científico quanto para a vida, sendo este o seu objetivo principal. O psicopedagogo atua como facilitador, procurando a melhor forma para cada aluno desenvolver seu aprendizado. Ele busca compreendê-lo de perto para estabelecer uma forma e maneira adequadas para cada realidade. Conforme afirma Lima:

 

O atendimento psicopedagógico pretende facilitar o diagnóstico da dinâmica relacional e da aprendizagem, a fim de propiciar mudanças e facilitar o trabalho preventivo, que segundo Paín (1989), a intervenção tem como objetivo, levantar e sistematizar o perfil do aluno, detectar os principais pontos de dificuldades e necessidades apresentadas nos diferentes momentos de sua formação; desenvolver atividades em conjunto com a área pedagógica, atender individualmente o aluno que procura o programa auxiliando em suas dificuldades acadêmicas e fazer o levantamento do aluno ingressante. O psicopedagogo deve estar sempre atencioso e receptivo para atender as necessidades do sujeito, sua família e escola, lembrando que este deve ter o cuidado de não se envolver emocionalmente no problema e, se necessário ter acompanhamento de um profissional psicoterapeuta.

 

     Como podemos perceber, é essencial que o psicopedagogo conheça verdadeiramente o aluno individualmente, compreendendo seus conflitos pessoais e familiares. Essa compreensão integral é fundamental para auxiliá-lo de maneira mais eficaz em seu processo ensino-aprendizagem. Uma vez que o psicopedagogo conhece o aluno, ele pode realizar o diagnóstico, comunicar aos pais sobre as dificuldades identificadas e apresentar o planejamento elaborado para trabalhar em direção ao objetivo: uma melhor aprendizagem.

     Muitas das problemáticas e dificuldades no ensino-aprendizagem têm sua origem no ambiente familiar. O aluno não consegue aprender não por falta de capacidades intelectuais, mas sim devido a bloqueios e inibições resultantes de situações emocionalmente desafiadoras em seu meio familiar. Quando o psicopedagogo analisa, percebe e diagnostica esses aspectos, e os comunica à família, todos os professores, psicopedagogos e familiares podem desempenhar um papel ativo no progresso escolar do aluno. Dessa forma, eles exercerão uma influência positiva no processo de ensino-aprendizagem do aluno.

 

O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito.

 

     Assim, o diagnóstico torna-se a base para o ensino, auxiliando no desempenho do aluno que, frequentemente, apresenta desordens neurológicas que prejudicam a aprendizagem, como a lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Diante dessas dificuldades, o psicopedagogo, em conjunto com a escola e os familiares, empenhar-se-á para alcançar melhorias no processo de aprendizagem.

     Assim, o processo de aprendizado de um indivíduo é uma construção que envolve a colaboração da família, da escola, da sociedade e de todas as influências do seu ambiente. A família, no entanto, representa o primeiro e mais significativo vínculo para a criança, sendo responsável primordial pela sua educação e grande parte de sua aprendizagem. Através desse processo, a criança é introduzida no mundo cultural e simbólico, iniciando a formação dos seus conhecimentos. No contexto atual, é notável que muitas famílias estão enfrentando desafios e dificuldades, como pais que trabalham o dia todo fora de casa, conflitos familiares constantes, desemprego, problemas com drogas, analfabetismo, divórcios e mães solteiras. Essas questões acabam sendo transferidas para as crianças, que enfrentam desafios adicionais quando entram no ambiente escolar e no processo de ensino-aprendizagem.

     Compete ao psicopedagogo intervir junto às famílias das crianças que enfrentam dificuldades de aprendizagem, adquirindo informações abrangentes sobre a vida do indivíduo nos aspectos orgânicos, cognitivos, sociais e emocionais. É crucial estar atento às perspectivas, anseios, objetivos e expectativas da família em relação ao desenvolvimento de seu filho(a). Obtendo esse diagnóstico aprofundado, o psicopedagogo desempenha um papel fundamental.

     Assim, é crucial que o psicopedagogo esteja atento às demandas da escola, dos alunos, dos professores e dos familiares no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem, pois todos desempenham papéis diversos que impactam significativamente no sucesso ou insucesso da educação escolar. Após a realização do diagnóstico, é responsabilidade do psicopedagogo acompanhar de perto o desenvolvimento do processo, avaliando as mudanças e melhorias que ocorrem ao longo do tempo. Dessa forma, o diagnóstico inicial pode ser ajustado para refletir as evoluções ou retrocessos observados. Lima destaca a importância desse acompanhamento ao afirmar:

 

O trabalho psicopedagógico na instituição escolar deve direcionar seu olhar e escuta, passando pelas relações pessoais e vínculos entre o ensinar e o aprender, nas modalidades de aprendizagem dos sujeitos envolvidos neste processo, nas relações do poder, no mostrar e esconder, na divisão de papeis, tarefas e funções e nas relações entre escola, família e comunidade. Estas contribuições da Psicopedagogia devem procurar propostas que favoreçam a solução de problemas, vislumbrar mudanças, abrir espaços de pensamentos favorecendo que todos desempenhem suas atividades com mais satisfação.

 

     Em última análise, tanto a família quanto a escola compartilham um objetivo comum: proporcionar condições ideais para o aprendizado das crianças, jovens e adolescentes. O psicopedagogo desempenha o papel de mediador entre esses dois âmbitos e também entre o aluno e a escola, bem como entre o aluno e a família. Sua função é destacar a importância da aprendizagem, abordar as dificuldades enfrentadas e orientar sobre as melhores práticas para garantir um desempenho acadêmico satisfatório. Além disso, deve buscar instigar novas atitudes, promover ações e sugerir modificações que facilitem e promovam uma aprendizagem mais eficaz.

 

4 ASPECTOS METODOLÓGICOS

     A abordagem metodológica adotada neste estudo envolveu a condução de uma revisão bibliográfica abrangente, abarcando diversas fontes, como livros, artigos científicos e sites especializados. O objetivo era obter informações detalhadas acerca da relevância do psicopedagogo no contexto escolar, na vida do aluno e no âmbito familiar..

     A abordagem metodológica adotada neste estudo envolveu a condução de uma revisão bibliográfica abrangente, abarcando diversas fontes, como livros, artigos científicos e sites especializados. O objetivo era obter informações detalhadas acerca da relevância do psicopedagogo no contexto escolar, na vida do aluno e no âmbito familiar..

     Posteriormente, foram examinados estudos e pesquisas que evidenciaram a importância do psicopedagogo no contexto escolar. Aspectos como a detecção de dificuldades de aprendizagem, a realização de diagnósticos e intervenções precoces, bem como a promoção de estratégias pedagógicas adequadas, foram abordados. Essa abordagem metodológica, fundamentada em revisão bibliográfica, proporcionou uma compreensão abrangente do tema, permitindo a apresentação de informações embasadas e atualizadas acerca da relevância do psicopedagogo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

     Quando ingressa na sala de aula, o aluno carrega consigo uma bagagem emocional significativa, trazendo aspectos de sua vida pessoal e familiar. Nem sempre o professor está plenamente capacitado para identificar e lidar com esses elementos. Nesse contexto, o psicopedagogo assume o papel de facilitador na dinâmica educacional, atuando para simplificar a interação entre escola e professor no processo de ensino. Sua função principal é mediar as relações entre escola e aluno, escola e família, bem como promover uma integração eficaz entre escola, família e sociedade.

     Ao percorrer este trabalho e examinar o papel do psicopedagogo, juntamente com sua significativa importância, torna-se evidente a necessidade de sua intervenção no processo de ensino-aprendizagem. O psicopedagogo desempenha um papel ativo no desenvolvimento da educação, auxiliando-a na interpretação e compreensão do aluno em sua totalidade, considerando suas raízes e desafios. A psicopedagogia emerge como uma ferramenta essencial para a educação, capacitando-a a entender o aluno em sua complexidade, sempre levando em conta a influência da família, do professor e do ambiente em que o aluno está inserido.

     Dessa forma, é crucial o suporte familiar para garantir que a atuação do psicopedagogo seja efetivamente positiva, possibilitando que a família e a escola, de mãos dadas, identifiquem as causas subjacentes ao êxito ou insucesso no processo de ensino-aprendizagem e no desenvolvimento do aprendizado do aluno.

Portanto, o respaldo familiar é essencial para assegurar que o trabalho do psicopedagogo seja genuinamente benéfico, permitindo que a família e a escola, em colaboração, identifiquem as razões por trás do sucesso ou fracasso no processo de ensino-aprendizagem e no progresso do aprendizado do aluno.

 

6 REFERÊNCIAS

BARBOSA, L.M.S. A História da psicopedagogia contou também com Visca.

www.uesc.br/cpa/artigos/historiapsicopedagogia. Acessado em 24/08/2023.

BOSSA, N. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.

LEITE, J. G. C. Artigo: A importância do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem. Publicado em 08/11/2012. Pesquisado: www.portaleducacao.com.br. Acessado em 24/08/2023.

LIMA, A. Artigo: A atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar.

MERY, J. Pedagogia curativa escolar e psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

SANTOS, J. F. S. Artigo: Psicopedagogia: História, Conceituação e Campo de atuação.

WEISS, M. L. L... Psicopedagogia Clinica: uma visão escolar! 8ª ed. Rio de Janeiro: DP&A. 2001.

Fabiano Willcker da Costa Teixeira Azevedo
Enviado por Fabiano Willcker da Costa Teixeira Azevedo em 03/04/2024
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