AULA INUSITADA

O professor chega na sala de aula, cumprimenta a todos, espera alguns minutos e vai para a lousa: separa o quadro negro em quatro partes, escreve o nome dele, a data, o número da atividade, a disciplina; e inicia a escrita.

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Passa o conteúdo na lousa, de maneira peculiar quando Felisberto pergunta:

— Professor, é o senhor mesmo que está passando a lição na lousa?

O professor ouve, parece não entender o que diz o aluno, enquanto uma aluna, a Maria Alice responde, de supetão (todos tinham liberdade para perguntar a qualquer instante):

— Sua anta, você não está vendo que é ele mesmo que está escrevendo a atividade? Pensa que é um fantasma?

O professor, então disse:

— Sou eu sim, Felisberto; mas o que leva você a pensar que é outra pessoa?

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— É que são muitas letras, muitas palavras. O senhor enche a lousa sem olhar em nada. Isso tudo que o senhor escreve sai da sua cabeça?

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Outro educando indaga Felisberto:

— Seu imbecil, claro que a lição sai da cabeça, da mente, da memória. Já ouviu falar? Você pensa que sai de algum livro espremido, ou do ar?

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Outro aluno responde também ao questionamento do Felisberto, enquanto o professor ouve, e segue passando lição:

— Como você é bocó, mesmo: pensa que todos professores são iguais, seu bananão?

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O professor intercede e pede que todos sigam estudando, e que dali a pouco teriam as explicações, e os exercícios. A turma não parava de rir de Felisberto, e de inventar questões no sentido de ironizar as "dúvidas" do colega, como por exemplo: "de repente o professor é mágico e nós não sabemos".

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A aula seguiu, até que o professor, após encher a primeira parte da lousa, foi para a terceira, ao invés de ir para a segunda, conforme pensava Felisberto e outros. Haviam esquecido que o

mestre costumava agir daquela forma. Vânia, solidária ao colega, também questionou:

— Ah, professor assim o senhor confunde a minha cabeça!! A sala toda riu.

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O professor pediu que todos prestassem atenção, afinal, nada demais estava acontecendo, mas Anderson não s e segurou e disse:

— Essa gente é muito burra, professor: não sabe nem copiar, vai ter condições de raciocinar, e não fazer tudo errado?

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Não fale assim, Anderson! -- Replicou o professor!

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— É mesmo, professor; basta ler e acompanhar o conteúdo!

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Vânia chamou Anderson de chato, enquanto o professor continuava passando lição, e em seguida apagou uma parte do quadro. Claudinha quase teve um surto, porque parou para conversar, e se embananou toda com a lição na lousa. Em seguida, exclamou: -- Vou parar de copiar; o senhor apagou onde eu estava. Ela recebeu uma grande vaia de alguns "colegas".

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O professor, apenas observou, fez um gesto com o rosto e seguiu passando a atividade. Outro aluno, o Alexis, perguntou:

— Daqui, desse quadro para onde eu vou? (Ele quis dizer daquela parte).

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O professor, simplesmente respondeu: -- Daqui, sei que vou para a minha casa, agora, você......

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A sala riu tanto, o Alexis, acabou rindo dele mesmo, e emendou:-- Ainda bem que o senhor vai para sua casa, não é, professor? Fosse outro, talvez partisse para algum lugar, sabe-se lá, onde!

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A turma parecia gostar de aulas regadas de conteúdos, liberdade e bom humor. Tanto que a aluna Cidinha saiu com esta:

— Professor, por que o senhor não passa lição na lousa igual a dona Luísa?

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E o professor disse, categoricamente:

— Ora, e eu sou a dona Luísa?

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Beth, que parecia estar sonolenta, olhou para a lousa e questionou o mestre:

— Ah, não! Por que o senhor passa tudo errado na lousa?

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Muitos risos e perplexidade. O professor não deixou por menos:

— Onde você estava, querida? Em qual planeta você vive? Terá que pegar o caderno de alguém e colocar em ordem, o seu.

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Essa aí nem tem caderno, professor; ela é atrasada mesma. Estava dormindo, pensando no Dudu. -- disse Adelaide.

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Risos e mais risos.......

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A sala não parava de rir, o professor foi efetuar a chamada, e depois, a explicação da matéria, e mais uma vez disse os porquês de escrever "sem olhar em nada", como dizem os alunos, e a maneira de passar lições no quadro. Falou tratar-se de uma estratégia, para que todos ficassem atentos e lessem o que estavam escrevendo. Recomendou que todos parassem para pensar e refletissem o que seria de uma escola, se todos os

professores fossem iguais, se todos os alunos iguais fossem. Disse também, que na aula seguinte iria

falar mais sobre psicologia.

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Nilceu Francisco é Professor, Educador, Escritor, Jornalista, Poeta, Articulista, Ambientalista,

Videorrepórter, Videojornalista etc.

Nilceu Francisco
Enviado por Nilceu Francisco em 04/01/2024
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