Gramática não precisa ser “gramatiquice”
O ensino de gramática na disciplina de Língua Portuguesa é discutido há muitos anos e, ainda hoje, não há exatamente um consenso sobre o assunto. No entanto, é inegável a importância de oportunizar o acesso à norma-padrão aos estudantes. Deve-se levar em consideração que os instrumentos avaliativos como os vestibulares e a redação do ENEM cobram o domínio da modalidade escrita formal da língua.
Contudo, é preciso cuidado ao ensinar gramática. Como ensinar de maneira efetiva sem ser maçante? Inicialmente, é necessário conhecer a turma, realizar uma sondagem, verificar a bagagem desses estudantes. É a partir disso que se “monta o roteiro”. Todas essas informações contam, tendo em vista que os conteúdos gramaticais podem ter diferentes níveis de cobrança.
Há, de fato, um certo preconceito com o ensino de gramática nos dias atuais. Para Fernando Pestana, “corrigir o português alheio não é negar a existência e validade dos outros registros, e sim ajudar a pessoa a perceber que o uso padrão precisa e merece ser ensinado, para que a pessoa tenha a possibilidade de conhecer e usar a variedade linguística de prestígio social”. O autor ainda salienta que a forma como se corrige faz toda a diferença: corrigir exige carinho e boa intenção, jamais deboche e preconceito. Trabalhar em sala de aula sobre o preconceito linguístico e as situações comunicativas auxiliaria os professores de Língua Portuguesa a elucidar de forma mais eficaz por que ensinar a gramática normativa ainda se faz importante. A base da gramática normativa não é retratar usos e costumes da fala, e sim usos e costumes do registro culto escrito formal.
Nessa perspectiva, é notório adequar-se a novas metodologias de ensino e recorrer a ferramentas que auxiliem na aprendizagem do aluno. São inúmeras as formas de ensinar, o professor não precisa mais ficar preso ao giz. Quantos jogos podem ser criados com conteúdos voltados à gramática? Quantos recursos podem ser utilizados durante um trimestre? Jogos pedagógicos despertam interesse e concentração, promovem criatividade, trabalho em equipe, comunicação e cooperação. Na Língua Portuguesa, é possível explorar diversos jogos pedagógicos: jogo da memória, tabuleiro, quiz, bingo, entre outros. Além desses, os jogos on-line também atraem e despertam a curiosidade da geração atual: Kahoot e Wordwall são dois recursos muito conhecidos e possuem jogos prontos para uso. Outra ideia interessante é pedir para que os alunos criem e elaborem jogos a partir do assunto escolhido pelo professor. Dessa forma, além de aprender o conteúdo em questão, os estudantes irão estimular a criatividade e o raciocínio para desenvolver um jogo totalmente novo.
Ensinar gramática não precisa ser “gramatiquice”. Isso não quer dizer que não serão mais necessários exercícios sobre transitividade verbal, sujeitos e predicados. Mas o ano letivo não deve se resumir somente a isso. Há muitas possibilidades e recursos prontos de fácil acesso ao professor – que fazem a diferença “naquela” aula de gramática.