APROVEITE SEU PROFESSOR

APROVEITE SEU PROFESSOR

Apesar de cada vez mais desrespeitada, a figura do professor ainda suscita idealizações. Aquele que é detentor de um saber, que inspira por ser mais experiente. Por vezes, espera-se que o docente seja perfeito, sem nenhum desvio de caráter, sempre cordial, gênio, semideus. Esquecem os alunos de que se trata de um ser humano como outro qualquer – com defeitos, fraquezas.

No Brasil os professores só serão respeitados no dia em que começar a escassez de forma alarmante. Esse respeito não se resume apenas a questões salariais, mas também à consideração pelo ser humano que se faz presente no propósito de contribuir para o desenvolvimento intelectual da sociedade. Tarefa árdua, de grande responsabilidade, tendo em vista que os docentes não trabalham apenas com conhecimentos adquiridos através de livros – é com matéria humana que estamos lidando.

Com a crise da autoridade do professor, muitas escolas mal estruturadas, o desinteresse dos pais e, consequentemente, dos alunos, poucos estão dispostos a ingressar em licenciaturas. Uma pesquisa realizada em 2011 pela Fundação Carlos Chagas divulgou que apenas 2% dos jovens desejam cursar Pedagogia ou outra licenciatura. Não bastasse um número tão irrisório de candidatos à docência, mais de 50% desistem quando ainda estão em curso.

Se por um lado é uma profissão que “é mal remunerada”, “é estressante”, “há desinteresse dos alunos” – há dentre essas ingratidões a troca de experiências de vida que comportamos ao longo dos anos. A satisfação que o professor tem quando se faz entendido, quando o estudante obtém uma vitória com o seu auxílio, nos enaltece como pessoas. Nós devemos ser norteadores, embora existam professores que nos retiram do caminho ao desprezar o aluno, duvidar de sua capacidade, e sentir-se o “dono do saber”.

Ainda que exista o prazer em contribuir para a formação desses seres humanos concentrados nas escolas, não faço o discurso reducionista de que para ser professor é preciso “amar a profissão”, “ter vocação”, “dom”. Para atuar em qualquer área é necessário esses elementos, e muito mais. O que adianta amor, se não houver quem queira recebê-lo? O que adianta ter vocação, se não há meios para desenvolvê-la? O que vale o dom, se não houver investimento?

Assim como todo mundo, o professor terá suas qualidades e defeitos. Mas, uma coisa que sempre recordo aos meus alunos: não confunda não gostar da matéria com não gostar do professor e vice-versa. É necessário um bom preparo emocional para separar isso. E mais: a coisa piora quando não há simpatia entre a disciplina e o ministrante desta.

O estudante precisa participar ativamente do processo de aprendizagem, ou seja, ser autodidata. Não superestimar o docente nem tampouco o subestimar. É possível indagá-lo sem ofendê-lo. É necessário que o discente se liberte do medo/vergonha de questionar sempre que um assunto não for compreendido. Às vezes o professor tem domínio da matéria, mas tem dificuldade em transmiti-la. A turma com a qual o mestre trabalha possui forte influência sobre a motivação dele.

Quando a classe se mostra interessada, isso contribui para que a vontade de ensinar aumente, logo o acesso ao conhecimento armazenado virá com mais facilidade.

Evite julgar o professor ou tirar conclusões a partir do que os outros falam. Há quem, sem conhecer a matéria, por dar vazão aos que os outros falam, começam a desconsiderar o professor porque outra pessoa o “crucificou”. Entre na sala disposto a aprender, independentemente de você gostar ou não do professor. Até porque o que ele tem para transmitir não o prejudicará se você ignorá-lo. Mas, não se pode dizer o mesmo de você. Ele está disposto a ensinar. Você está disposto a aprender?

Há outra tolice evidente: o aluno que faz perguntas das quais já sabe a resposta apenas para testar o professor. Indubitavelmente, é mais interessante perguntar o que não sabe. Não há lógica na competição entre categorias distintas. Se quiser mostrar conteúdo, então que seja nas provas.

Um bom professor é aquele que consegue ser flexível – atende aos alunos com dificuldades sem considerá-los inferiores e, também, aos mais desenvoltos, sem castrá-los. Tanto quanto ao docente, cabe aos discentes a sensibilidade para lidar com os colegas menos habilitados. O escárnio acontece de ambos os lados. Ou quando alguém entende bem um assunto ou quando sente dificuldade. De um lado, a inveja. Doutro lado, a arrogância.

Se sua palavra vai agregar valor a alguém, fale. Senão, cale-se. Entre na sala de aula disposto a aprender e não a julgar. Faça jus ao tempo gasto nessa atividade. E lembre-se de que o professor tem o direito de errar tanto quanto você tem de acertar.

Leo Barbosa é professor, escritor, poeta e revisor de textos.

(Texto publicado em A União no dia 20/10/2023)

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 20/10/2023
Código do texto: T7912755
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