A RELEVÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NO DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
THE RELEVANCE OF PSYCHOPEDAGOGY IN EDUCATIONAL DEVELOPMENT
Daniele Andrade da Silva Teixeira Azevedo
RESUMO
O processo educacional de uma pessoa começa na família com os pais, depois se estende para a vida escolar onde os professores e educadores contribuirão principalmente na questão intelectual da criança. Todavia, nem sempre a família desempenha adequadamente seu papel de primeira educadora, fazendo com que a escola acabe também assumindo o papel de família. Para auxiliar nesse processo, a escola conta com o suporte de profissionais da área de psicopedagogia, que buscam os melhores métodos e técnicas para facilitar o processo de ensino-aprendizagem, superando as barreiras presentes na vida do aluno e de sua família. O trabalho do psicopedagogo consiste em identificar as dificuldades do aluno, sua origem e o meio mais adequado para ensiná-lo. Essa compreensão também deve ser compartilhada pela família do aluno e pela escola, uma vez que todos são responsáveis no processo educacional e devem estar cientes do diagnóstico feito pelo psicopedagogo para tomar as devidas providências para o desenvolvimento educacional do aluno.
Palavras-chave: Psicopedagogia, ensino-aprendizagem, aluno, escola, família
ABSTRACT
The educational process of an individual begins in the family with the parents and then extends to school life where teachers and educators contribute mainly to the intellectual development of the child. However, the family does not always play its role as the primary educator adequately, causing the school to also assume the role of the family. To assist in this process, the school relies on the support of professionals in the field of educational psychology who seek the best methods and techniques to facilitate the teaching-learning process, overcoming the barriers present in the student's life and their family. The work of the educational psychologist consists of identifying the student's difficulties, their origin, and the most appropriate means to teach them. This understanding should also be shared by the student's family and the school, as everyone is responsible in the educational process and must be aware of the diagnostic made by the educational psychologist in order to take the necessary measures for the student's educational development.
Keywords: Educational Psychology, teaching-learning, student, school, family
INTRODUÇÃO
A educação sempre fez parte da vida do ser humano. Com o tempo foi se desenvolvendo cada vez mais. Pois, o homem não cessa de aprender. Seu crescimento é constante e são vários os métodos utilizados atualmente para ajuda no seu desenvolvimento físico, intelectual e moral. Dentre eles, pode-se citar a pedagogia, a didática, o ensino e a psicopedagogia que é o ponto central de nosso trabalho.
No processo educacional a criança, o aluno passa por várias etapas de aprendizagem: a alfabetização, a contagem, a interpretação e tantos outros. Mas, em alguns desses momentos, ou em até em todos esses momentos, ela sente dificuldades, sente um bloqueio que se não for bem trabalhado acaba por atrapalhar toda a sua aprendizagem.
Para ajudar nesta questão surge a psicopedagogia que anda lado a lado com a educação no processo ensino-aprendizagem. Nosso trabalho visa, justamente, conhecer a psicopedagogia, conhecer sua história, saber qual a sua importância e influência na educação, na vida do professor, do aluno, da família, da escola e de toda a escola.
Portanto, a psicopedagogia perpassa todo o meio educacional, procurando auxiliar no que for necessário para o melhor aproveitamento no processo ensino-aprendizagem.
Sendo assim, em nosso trabalho iremos nos aprofundar sobre o papel da psicopedagogia. Na primeira parte “A história da psicopedagogia” será visto como se deu seu surgimento, o que a despertou, seus primeiros pensadores e como foi a reação da época.
Na segunda parte “A concepção de psicopedagogo e psicopedagogia” será estabelecida uma conceituação de psicopedagogia e do psicopedagogo. Tendo em vista, que está ciência existe, mas não é conhecida tanto quanto deveria, principalmente pela parte dos pais e familiares dos alunos. Será abordado o papel do psicopedagogo frente à educação, frente ao processo de ensino-aprendizagem do aluno, quais os desafios encontrados pelo professor, pelo psicopedagogo e as intervenções feitas por ele.
Na terceira e última parte “O processo ensino-aprendizagem e a intervenção psicopedagógica”, tratará da temática propriamente dita, ou seja, a importância da psicopedagogia no processo de ensino-aprendizagem. Será respondido como o psicopedagogo influência na vida do aluno, da família, da escola e assim, também na vida da sociedade. Observar-se-á a importância que exerce o psicopedagogo na educação e no desenvolvimento pessoal do aluno tanto na área educacional como para as diversas áreas da pessoa humana, principalmente no que diz respeito ao preparo para a vida.
Desse modo, compreenderemos que a psicopedagogia mais que uma ciência necessária é um apoio na vida da pessoa, das famílias e da sociedade que deseja um progresso em comum.
1 A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA
Para melhor compreender a psicopedagogia e sua relevância para o ensino, em especial no Ensino Fundamental vale falar um pouco de sua origem e história. No decorrer do tempo e da educação, os mais diversos profissionais, como professores, psicólogos e psiquiatras, neurologistas e tantos outros, foram percebendo que diante de tantas crises mundiais, a exemplo da II Guerra Mundial, a aprendizagem dos alunos foi cada vez mais diminuindo.
Alguns estudiosos começaram a estudar a causa de tal fenômeno e como fazer para melhorar a situação. Dentre eles pode-se citar: Seguin, Esquirol, Montessori e Decroly. Eles procuraram organizar métodos para a educação infantil. Todavia, muitos deles esqueceram o mais importante que é a personalidade, particularidade e individualidade de cada aluno, cada família. Deram mais ênfase ao ensino e às suas dificuldades do que a realidade própria do aluno. Sobre esta questão Rubisnstein nos apresenta melhor o surgimento da psicopedagogia.
A Psicopedagogia surgiu da inquietação e satisfação dos profissionais que tratavam das dificuldades de aprendizagem... É importante perceber que se tratava de evidenciar o tratamento das dificuldades, sendo assim, havia pouca ou nenhuma preocupação sobre sua origem e ligação com a história, com a vida do aluno, com a história do seu aprendizado. A ênfase estava em afastar o mau funcionamento por meio de uma boa “ensinagem”, e, como consequência, o aprendiz poderia inteirar-se voltando a aprender normalmente.
Como podemos perceber a preocupação maior era tratar a dificuldade dos alunos aprender e não o próprio aluno e a ligação da vida dele com a sua capacidade de apreender o ensino. Mais aos poucos isto vai chegando a novas dimensões. Em 1946, na Europa, foram fundados os primeiros Centros Psicoterapêuticos por Boutonier e Gorge Mauco. Estes centros reuniam conhecimentos de diversas áreas: psicologia, psicanálise e pedagogia. Elas “objetivavam, a partir da integração de conhecimentos pedagógicos e psicanalíticos, atender pessoas que apresentavam dificuldades para aprender apesar de serem inteligentes” . Nesta época se esperava chegar a uma ação reeducadora por meio da união psicopedagogia-psicanálise-pedagogia. Procurava-se diferenciar os que não aprendiam, os que aprendiam e aqueles que apresentavam algumas deficiências mentais, físicas ou sensoriais.
Neste período houve confronto de pensamento entre os Estados Unidos e a Europa. Os Estados Unidos enfatizavam os conhecimentos médicos, dando um caráter mais orgânico à dificuldade de aprendizagem, enquanto que o Movimento Europeu se voltava mais para o lado psicológico do aluno. Segundo Barbosa:
O movimento europeu acabou por originar a Psicopedagogia, enquanto que o movimento americano proliferou a crença de que os problemas de aprendizagem possuíam causas orgânicas e precisavam de atendimento especializado, influenciando parte do movimento da Psicologia Escolar que, até bem pouco tempo, segundo BOSSA (1994), determinou a forma de tratamento dada ao fracasso escolar.
Diante de todo este emaranhado de pensamento a psicopedagogia foi ganhando forma, principalmente no Brasil que recebeu influência tanto americana quanto europeia. Visca afirmou em 1987 que no seu primeiro momento a psicopedagogia foi uma ação subsidiada da medicina e da psicologia, cujo objeto de estudo era a aprendizagem do aluno.
Já em 1996 houve mais progresso no Brasil. foi aprovado em Assembleia Geral no III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, o Código de Ética. Em meio a várias coisas importantes, o Código afirma que:
A psicopedagogia é um campo de atuação em saúde e educação que lida com o processo de aprendizagem humana de maneira interdisciplinar e que esse trabalho pode ser tratado clinicamente ou simplesmente num caráter preventivo ou remediativo e cabe ao psicopedagogo por direito e não por obrigação
Portanto, como podemos ver foi-se formando uma psicopedagogia também no Brasil. Dentre os vários contribuintes, merecem ser citados: Dr. Quirós, Jacob Feldmann, Sara Pain, Alicia Fernandez, Ana Maria Muniz e Jorge Visca. Estes aos os principais nomes que trouxeram da Argentina os conhecimentos da Psicopedagogia para o Brasil.
Este último, Jorge Visca, começou a vir ao Brasil a fim de implantar os Centros de Estudos Psicopedagógicos (CEPs) com o objetivo de infundir a Epistemologia Convergente, “linha teórica que apoia e fundamenta a Psicopedagogia divulgada por ele, bem como formar profissionais nesta linha de abordagem” .
Como psicopedagogo argentino no Brasil, Jorge Visca implantou CEPs no Rio de Janeiro, São Paulo, capital e Campinas, Salvador e Curitiba. Ele também deu aulas em Salvador, Porto Seguro, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Itajaí, Joinville, Maringá, Goiânia, Foz do Iguaçu e tantas outras cidades brasileiras. Com isto, muitas turmas de psicopedagogia foram formadas por Jorge Visca que passou a vir duas vezes por ano ao Brasil acompanhar de perto o CEPs.
Em 2000 Visca morre, mas seu trabalho ainda é muito atuante no Brasil, principalmente em Curitiba, onde teve seu maior empenho. Ele deixou cerca de dez obras publicadas, nelas se encontram muitos ensinamentos e um modo de ser que serve até hoje de modelo para seus alunos.
Desta forma, com Laura Monte , podemos afirmar que a Psicopedagogia é área responsável pelos estudos da aprendizagem e de todos os transtornos que podem aparecer neste processo.
2 A CONCEPÇÃO DE PSICOPEDAGOGO E PSICOPEDAGOGIA
Quem é o Psicopedagogo? Uma Pergunta importante tanto para os pais dos alunos quanto para os alunos e até mesmo para os próprios profissionais psicopedagogos. Dentre várias características e qualidades, pode-se dizer que ele é um profissional apto a trabalhar na educação, dando assistência aos professores e aos demais profissionais que atuam na escola, tendo em vista um aperfeiçoamento no processo ensino-aprendizagem. Ainda sobre a definição de psicopedagogo, Mary nos diz:
Psicopedagogo é um professor de um tipo particular que realiza a sua tarefa de pedagogo sem perder de vista os propósitos terapêuticos da sua ação. Qualquer que tenha sido a sua formação (psicólogo, pedagogo, fonoaudiólogo, professor), ele assumirá sempre a dupla polaridade de seu papel, o que determinará seu modo de ser perante a criança e seus familiares, bem como diante da equipe a que pertence.
Desta forma, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicológica visando a solução para os problemas de aprendizagem nos espaços escolares. Ele, juntamente com a equipe da escola, procura construir um espaço adequado à aprendizagem. Também observa e acolhe a metodologia e/ou a forma de intervenção. “A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes” .
Assim, são visíveis os desafios enfrentados pelo psicopedagogo. Eles são diversos e não são fáceis. Em linhas gerais, o trabalho do psicopedagogo implica as seguintes especificidades, segundo o pensamento de Lima .
1. O "distúrbio de aprendizagem" é encarado como uma manifestação de uma perturbação que envolve a totalidade da personalidade;
2. O desenvolvimento infantil é considerado a partir de uma perspectiva dinâmica, e é dentro dessa evolução dinâmica que o sintoma "distúrbio de aprendizagem" é estudado;
3. A neutralidade do papel de psicopedagogo é negada, e este conhece a importância da relação transferencial entre o profissional e o sujeito da aprendizagem;
4. O objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se a vida normal, respeitando as suas possibilidades e interesses.
Como se pode perceber o objeto de atuação do psicopedagogo é a aprendizagem do aluno, principalmente no que diz respeito à dificuldade da aprendizagem. O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de maneira preventiva e terapêutica, com o intuito de compreender os processos de desenvolvimento da pessoa humana em sua aprendizagem. O psicopedagogo recorre as mais diversas técnicas, estratégias para melhor compreender a problemática e atuar visando o crescimento do aluno. De acordo com Weiss:
O Objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social .
Com isso, vale ressaltar as indagações feitas pela psicopedagogia com relação às dificuldades do aluno. Segundo Fini as principais perguntas são as seguintes: Quais são as dificuldades dos alunos? Como enfrentar esta situação? Quais são as causas do insucesso do aluno na escola? Como compreender o rendimento insatisfatório? Como ajudar aos alunos e educadores com este déficit?
A psicopedagogia, ao mesmo tempo em que faz perguntas, procura dar uma resposta. Assim, a iniciativa primeira do psicopedagogo é enxergar a escola como é, como qualidades e defeitos, depois aprofundar um pouco mais e olhar além da escola, ou seja, pais, família, realidade social-cultural de cada aluno, para enfim, procurar melhorias e aperfeiçoamentos para escola, para a educação, para o processo de ensino-aprendizagem. Em linhas gerais, Lima nos diz que cabe ao psicopedagogo compreender bem o sujeito. Vejamos:
Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar. No trabalho clínico, conceber o sujeito que aprende como um sujeito epistêmico-epistemofílico implica procedimentos diagnósticos e terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma leitura clínica na qual, através da escuta psicopedagógica, se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção .
Portanto, o serviço do psicopedagogo não se trata de ver o aluno, a pessoa apenas de um âmbito, mas em todos os lados possíveis. O psicopedagogo tem como tarefa não só conhecer o aluno na área educacional-pedagógica, mas também em outras áreas, dimensões. É importante ter o conhecimento dele como um todo. Principalmente na área clínica. É preciso entendê-lo em sua totalidade enquanto organismo, corpo, inteligência e desejo.
Sobre a atuação do psicopedagogo, Lima afirma que ele deve estar em diversas áreas “(...) de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir” .
Assim, percebemos que o psicopedagogo tem muito que fazer na escola. Sua intervenção é mais do que necessária. Ela tem um caráter também preventivo. Ela é capaz de contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem. Pode-se dizer que, entre outras coisas, inclui principalmente os seguintes pontos:
1. Orientar os pais: O psicopedagogo deve conhecer o aluno através do conhecimento de seus pais, de sua família. Deve orientá-los para que juntamente com a escola deem uma educação adequada a seus filhos.
2. Auxiliar os professores e demais profissionais nas questões pedagógicas: O Psicopedagogo deve estar disposto a colaborar com os outros companheiros de serviço. Auxiliando-os no que for preciso para o maior desenvolvimento da educação e da aprendizagem dos alunos.
3. Colaborar com a direção para que haja um bom entrosamento em todos os integrantes da instituição: É o psicopedagogo, também, responsável por estabelecer uma maior integração em todo o complexo escolar.
4. Socorrer o aluno que esteja sofrendo qualquer que seja a causa: O psicopedagogo deve estar sempre atento as necessidades dos alunos. Muitos eles não apresentam exteriormente a necessidade que tem em seu interior. Portanto, o psicopedagogo deve observar bem e diante daquele aluno expressivo ou não expressivo, se posicionar em atitude de atenção, observação e apoio para um melhor desenvolvimento no aprendizado deles.
Outra coisa importante sobre o conceito de psicopedagogia é que a ligam sempre com as crianças. Geralmente é conhecida como aquela que atende as crianças com dificuldades de aprendizagem. Mas, estas dificuldades, distúrbios ou patologias não acontecem apenas com as crianças. A psicopedagogia também pode ser entendida como aquela que não faz distinção de idade, mas que procura atender as necessidades gerais no que diz respeito à aprendizagem, seja de criança ou adultos. Logo, o “objeto de estudo deste campo do conhecimento é a aprendizagem humana e seus padrões evolutivos normais e patológicos.” Assim, é perceptível a dificuldade de aprendizagem e o fracasso escolar é o foco da psicopedagogia. Todavia, não exclui, mas abrange a questão da aprendizagem, procurando conhecer mais profundo a realidade do aluno, da pessoa e da família. Procura compreendê-los em totalidade, dentro ou fora do ambiente escolar. Leva em consideração a influência dos fatores físico, emocional, psicológico, pedagógico, social, cultural etc. em síntese, Lima nos diz que:
Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológicas, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.
Aqui é notório quão importante a psicopedagogia na educação e na vida das pessoas. Portanto, o psicopedagogo deve ser um profissional múltiplo com uma grande sensibilidade para a vida. Como diz Weiss, “o sucesso de um diagnostico não reside no grande número de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação” .
Por último, mencionamos o que define o Projeto de Lei 3.124/97 e as discussões da Comissão de Regulamentação e Cursos da ABPp. Dentro desses espaços de atuação, seriam atribuições e competências dos psicopedagogos:
1) A intervenção psicopedagógica no processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo por enfoque o sujeito que aprende em seus vários contextos: da família, da educação (formal e informal), da empresa, da saúde;
2) A realização de diagnóstico e intervenção psicopedagógica mediante a utilização de instrumentos e técnicas próprios de Psicopedagogia;
3) A utilização de métodos, técnicas e instrumentos psicopedagógicos que tenham por finalidade a pesquisa, a prevenção, a avaliação e a intervenção relacionadas com a aprendizagem;
4) A consultoria e assessoria psicopedagógicas, objetivando a identificação, a análise e a intervenção nos problemas do processo de aprendizagem;
5) A supervisão de profissionais em trabalhos teóricos e práticos de Psicopedagogia;
6) A orientação, coordenação e supervisão de cursos de Psicopedagogia;
7) A coordenação de serviços de Psicopedagogia em estabelecimentos públicos e privados;
8) O planejamento, execução e orientação de pesquisas psicopedagógicas.
3 O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
A aprendizagem é um processo essencial, fundamental para a vida de todo o ser humano. É tanto, que as sociedades foram criando métodos, maneiras de melhor chegar ao aprendizado. Este ensino-aprendizagem é o nome indicado para um complexo de interações comportamentais entre professor e aluno. São processos constituídos por múltiplos componentes em interação. Sua percepção e entendimento constituem em algo crucial para o desenvolvimento de qualquer trabalho de aprendizagem, de educação e de ensino. Por este motivo procuramos, pesquisamos meios que facilitem o processo ativo de construção do processo do conhecimento e a reconstrução do objeto havendo uma interação entre estrutura cognitiva do individuo e a estrutura do ambiente a fim de preparar os nossos educandos para desempenhar funções sociais que fortaleçam o conhecimento, do convívio, e da sensibilidade. Estas são condições necessárias para a construção da cidadania.
A metodologia parte do princípio de “aprender fazendo”. A solução de problemas, pesquisas, estudo dos meios naturais e sociais, descobertas, tentativas experimentais são extremamente valorizadas. O trabalho em grupo é enfatizado não mais como a técnica, e sim como a necessidade básica no desenvolvimento mental.
O professor psicopedagogo não tem uma posição privilegiada, sua função é auxiliar e investigar o desenvolvimento espontâneo da criança, quando a intervenção do psicopedagogo é para orientar, dar forma ao raciocínio. A consciência dos limites da vida em grupo é que dá origem a disciplina, dessa forma o aluno disciplinado não é aluno mudo, estático, e sim o solidário, participante e respeitador das normas de grupo. Desta forma, pode-se afirmar que mesmo o psicopedagogo auxiliando, o principal mediador do processo ensino-aprendizagem é o próprio aprendiz, o próprio aluno. Leite nos afirma que:
A importância da Psicologia no processo ensino-aprendizagem reside no reconhecimento de que a educação é um fenômeno verdadeiramente complexo e o seu impacto no desenvolvimento humano obriga que se considere a globalidade e a diversidade das práticas educativas em que o ser humano se encontra imerso, isto porque a educação se desdobra em múltiplos contextos nos quais as pessoas vivem e participam, definidos como âmbitos educativos.
Portanto, o relacionamento harmônico entre professor, psicopedagogo e aluno é indispensável para garantir um clima positivo e dessa forma, instaurar um “vivencia democrática”, onde todos participam de maneira ativa no processo de ensino-aprendizagem. Assim, o conhecimento pedagógico e psicológico, por parte dos educadores, poderá possibilitar um aprofundamento maior aos nossos educandos.
Sendo o mediador no processo ensino-aprendizagem e abrindo-lhe um leque de direcionamento do seu trabalho a partir de suas convicções, as tendências Pedagógicas nos fazem compreender as relações existentes entre pedagogia e filosofia, mostrando de um lado, que a pedagogia se delineia a partir de uma posição filosófica definida, e, do outro lado compreende as perspectivas das relações entre educação e sociedade.
Podemos entender que o papel da educação na sociedade traduz em diferentes concepções entre homem e sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e da aprendizagem. Em alguns casos, as tendências se completam, e em outro, divergem. De qualquer modo, a classificação e sua descrição poderão funcionar como um instrumento de analise para que o professor possa avaliar sua prática pedagógica em sala de aula. Ainda sobre o educador, Leite nos diz o seguinte:
Recai sobre o educador o compromisso de aperfeiçoamento profissional, de renovação dos paradigmas norteadores de sua ação para acolher a dimensão individual, particular e psicossocial do aprendiz, sendo resultante desse diálogo entre as três instâncias, que são: a realidade de quem aprende, a realidade do objeto a ser apreendido e a realidade de quem ensina.
Por isso, quando o educador não consegue fazer este diálogo, síntese destas realidades o processo ensino-aprendizagem fica comprometido. Desta maneira ele acaba contribuindo para o fracasso escolar. É onde entra o psicopedagogo, sua importância frente às dificuldades de aprendizagem começa a se configurar quando ele, juntamente com o educador começa a ter consciência das dificuldades presentes nos alunos. Daí busca na escola apresentar os objetivos, os temas de estudos e as tarefas numa maneira simples, clara, acessível. Sendo assim, “As formas adequadas de comunicação concorrem positivamente para a interação professor-aluno e outros que fazem parte do contexto escolar” .
No processo ensino-aprendizagem é evidente que há dificuldades, mas estas devem servir para ajudar no progresso, na vitória e não o inverso, o fracasso escolar. A educação visa o aprendizado do aluno tanto no conhecimento científico como para a vida. Este é seu objetivo maior. O psicopedagogo é um facilitador. Ele procura a melhor forma para cada aluno desenvolver seu aprendizado. Busca entendê-lo de perto para estabelecer uma forma, maneira adequada para cada realidade. De acordo com Lima:
O atendimento psicopedagógico pretende facilitar o diagnóstico da dinâmica relacional e da aprendizagem, a fim de propiciar mudanças e facilitar o trabalho preventivo, que segundo Paín (1989), a intervenção tem como objetivo, levantar e sistematizar o perfil do aluno, detectar os principais pontos de dificuldades e necessidades apresentadas nos diferentes momentos de sua formação; desenvolver atividades em conjunto com a área pedagógica, atender individualmente o aluno que procura o programa auxiliando em suas dificuldades acadêmicas e fazer o levantamento do aluno ingressante. O psicopedagogo deve estar sempre atencioso e receptivo para atender as necessidades do sujeito, sua família e escola, lembrando que este deve ter o cuidado de não se envolver emocionalmente no problema e, se necessário ter acompanhamento de um profissional psicoterapeuta.
Como podemos ver, é necessário que o psicopedagogo conheça verdadeiramente o aluno individualmente, seus conflitos pessoais e familiares. Conhecê-lo em sua totalidade para poder ajudá-lo melhor em seu processo ensino-aprendizagem. Uma vez que o psicopedagogo conhece o aluno, ele pode fazer o diagnóstico entregar aos pais e informar as dificuldades encontradas e o planejamento feito para ser trabalhado ruma ao objetivo: melhor aprendizagem.
Muitas das problemáticas, dificuldades no ensino-aprendizagem é gerado no berço familiar. O aluno não consegue aprender, não por falta de requisitos intelectuais, mas por está bloqueado, inibido no pensar e até no agir por causa de situações desastrosas afetivamente e emocionalmente em seu meio familiar. Uma vez que o psicopedagogo passa a analisar, perceber, diagnosticar e mostrar para a família, todos os professores, psicopedagogo e família podem desempenhar um papel ativo no progresso escolar do aluno. Eles influenciarão positivamente no ensino-aprendizagem do aluno.
O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito .
Desta forma, o diagnóstico serve de base para o ensino, para ajudar no desempenho do aluno que muitas vezes apresenta desordens neurológicas que dificultam a aprendizagem, como por exemplo, a lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Frente a estas dificuldades o psicopedagogo juntamente com a escola e os familiares trabalharão para obter melhores rendimentos no processo de aprendizagem.
Assim, o aprendizado do indivíduo é algo a ser construída em conjunto família, escola, sociedade e toda a realidade que o cerca. Todavia, a família é o primeiro vínculo da criança, é a primeira responsável por sua educação. Pode-se até dizer por grande parte de sua aprendizagem. É por intermédio da aprendizagem que a criança é inserida no mundo cultural, simbólico e começa a construir seus saberes. Na realidade atual, o que temos observado é que as famílias estão meio perdidas, não sabendo lidar com situações novas: pais que trabalham o dia todo fora de casa, pais que brigam o tempo todo, desempregados, usando drogas, pais analfabetos, separados e mães solteiras. Essas famílias acabam transferindo tudo para a criança que acaba entrando na escola, no processo ensino-aprendizagem com dificuldades.
Cabe ao psicopedagogo intervir junto a família das crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, tomar conhecimento de informações sobre a vida do indivíduo na vida orgânica, cognitiva, social e emocional. Estar atento no que a família pensa, seus anseios e objetivos e suas expectativas com relação ao desenvolvimento do seu filho (a). É muito importante para o psicopedagogo chegar a esse diagnóstico.
Assim, é necessário que o psicopedagogo esteja atento as necessidades da escola, do aluno, dos professores, dos familiares com relação ao processo ensino-aprendizagem, pois todos eles contribuem de várias formas para o progresso ou fracasso da educação escolar. Uma vez que o diagnóstico é feito, o psicopedagogo deve acompanhar, ver como está sendo desenvolvido o processo e quais as mudanças e melhoras que estão acontecendo, de forma, que o diagnóstico pode ser modificado para melhor ou pior. Ao explicar isto, Lima nos diz:
O trabalho psicopedagógico na instituição escolar deve direcionar seu olhar e escuta, passando pelas relações pessoais e vínculos entre o ensinar e o aprender, nas modalidades de aprendizagem dos sujeitos envolvidos neste processo, nas relações do poder, no mostrar e esconder, na divisão de papeis, tarefas e funções e nas relações entre escola, família e comunidade. Estas contribuições da Psicopedagogia devem procurar propostas que favoreçam a solução de problemas, vislumbrar mudanças, abrir espaços de pensamentos favorecendo que todos desempenhem suas atividades com mais satisfação .
Enfim, família e escola têm um objetivo comum: estabelecer melhores condições para o aprendizado das crianças, jovens e adolescentes. O psicopedagogo procura ser mediador entre estes dois e também entre aluno-escola, aluno-família. É ele que deve mostrar a importância da aprendizagem, suas dificuldades e a melhor maneira para um bom desempenho do aluno. Deve buscar propor novas atitudes, ações e modificações que facilite e possibilite está melhor aprendizagem.
4 ASPECTOS METODOLÓGICOS
A metodologia utilizada neste trabalho consistiu em realizar uma revisão bibliográfica de diferentes fontes, como livros, artigos científicos e sites especializados, a fim de obter informações sobre a importância do psicopedagogo na escola, na vida do aluno e de seus familiares.
Inicialmente, foi realizada uma pesquisa sobre a história e origem da psicopedagogia, a fim de compreender como essa ciência surgiu e evoluiu ao longo do tempo. Dessa forma, foi possível contextualizar o papel do psicopedagogo na atualidade e entender sua importância na área educacional.
Em seguida, foram analisados estudos e pesquisas que demonstraram a relevância do psicopedagogo no contexto escolar. Foram abordados aspectos como a identificação de dificuldades de aprendizagem, o diagnóstico e intervenção precoce, a promoção de estratégias pedagógicas adequadas, entre outros. Essa abordagem metodológica, baseada em revisão bibliográfica permitiu a compreensão ampla do tema e a apresentação de informações embasadas e atualizadas sobre a importância do psicopedagogo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aluno quando vem para a sala de aula traz consigo toda uma carga emocional, traz sua vida pessoal e familiar. O professor nem sempre está apto a ver e trabalhar isto. Já o psicopedagogo tem como meta facilitar a vida da escola e do professor na educação, no ensino. O psicopedagogo é aquele que irá mediar escola-aluno, escola-família, escola-família-sociedade.
Uma vez que percorremos este trabalho e vimos o papel do psicopedagogo e sua importância, podemos compreender que realmente se faz necessário a sua intervenção no processo Ensino-aprendizagem, pois contribui de forma ativa no desenvolvimento da educação. É a psicopedagogia que vai auxiliar a educação a interpretar e entender o aluno em suas raízes, em sua problemática levando em consideração sempre a família, o professor e o meio em que tal aluno vive.
Sendo assim, o apoio familiar é imprescindível para que o trabalho do psicopedagogo seja de tal forma positivo para que família e escola juntas possam identificar as causas do processo de ensino aprendizagem no sucesso ou fracasso no desenvolvimento do aprendizado do aluno.
Portanto, o psicopedagogo ver o aluno em toda a sua singularidade, ajuda-o em seu processo educacional de ensino-aprendizado. Mais que isso, sua influência em um ou outro momento na vida do aluno, acarretará num futuro promissor, se for bem seguido. Logo, a importância do psicopedagogo não se prende a escola, mas se alarga para a vida do aluno e da sociedade.
6 REFERÊNCIAS
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www.uesc.br/cpa/artigos/historiapsicopedagogia. Acessado em 24/08/2023.
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LEITE, J. G. C. Artigo: A importância do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem. Publicado em 08/11/2012. Pesquisado: www.portaleducacao.com.br. Acessado em 24/08/2023.
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MERY, J. Pedagogia curativa escolar e psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
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WEISS, M. L. L... Psicopedagogia Clinica: uma visão escolar! 8ª ed. Rio de Janeiro: DP&A. 2001.